quarta-feira, agosto 15

A oração da discórdia

Hoje festeja-se a Assunção da Virgem. A Assunção é a subida da Virgem aos céus onde recebe a coroa. Convém notar que ao contrário da Ascensão de Jesus, que subiu ao céu pelos seus próprios meios, Maria foi aspirada pela força divina.

Hoje, em França, será rezada a oração que o cardeal André Vingt-Trois dirigiu a todas as dioceses. A prière pour la France invoca a Virgem e transporta uma mensagem: alerta os católicos contra as mexidas anunciadas na legislação sobre a família e recorda como é importante para toda a criança a presença de um pai e de uma mãe.

Certamente que amanhã a notícia já terá ido para o lixo, mas hoje é mote de gozo para jornalistas e comentadores na imprensa francesa, sempre prontos a zurzir na Igreja e a confrontar as posições retrógradas dos católicos com um mundo em mudança. O Libération regista que 65% dos franceses são favoráveis ao casamento entre pessoas que gostam de sexo com pessoas do mesmo sexo. A notícia não é clara, mas parece tratar-se de uma sondagem a católicos. Seria interessante fazer uma sondagem entre os muçulmanos franceses, dos quais 85% votarem em Hollande. Ou, aproveitando o dia de calma republicana em Amiens, recolher as opiniões dos jeunes - essa nova categoria social que soa bem em francês. E, já agora, sondar as próprias pessoas que gostam de sexo com pessoas do mesmo sexo.

Nestas coisas, a Igreja põe-se a jeito. Além de ter telhados de vidro, fica a descoberto que os seus altos dirigentes são incapazes de distinguir o fait-divers das grandes linhas com que a realidade se escreve. Um pouco mais de atenção bastaria para reconhecer que a Virgem nunca fez pequena política e nem perderia um minuto com o assunto só para irritar Hollande. A Virgem ocupa-se mais das grandes causas, tipo conversão da Rússia, prometida em 1917 a uns pastores, e de alguma forma cumprida em 1989. Nesta questão de casamentos entre pessoas assim e assado, Ela nem perceberia do que se está a falar.

Na foto: assunção da virgem, Notre Dame de Paris, baixo relevo no flanco norte.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá senhor blogueur.
Pequenas observações: Dilema que este, muçulmanos Francêses ou Francêses musulmanos? Islam DE França ou Islam EM França? Exemplo: um sargento paraquedista ou um paraquedista sargento?
Interrogar os musulmanos, que sejam assim ou assado também, não serve de nada porque eles praticam a Takkia com uma grande lata. Nenhum diria aos sondeurs exactamente o que pensa. Nas sociedades musulmanas a homosexualidade é escondida mas eespalhada e numerosa. Casando-se tarde, com raparigas virgens (há que encontrá-las) eles praticam o sexo entre homens.
Gostei mesmo da viagem da virgem por aspirador e a de Jesus por seus próprios meios. Que monseigneur Vingt-Trois,prescriva uma prece em honra da Virgem não tem nada de chocante. A França é a filha mais velha da igreja desde Clovis e os Francs (germains).
Os pseudo-jornalistas que brincam com isso não o fazem quando :
O ministro dos assuntos internos vai inaugurar uma mesquita,
Quando vai quebrar o jejun do ramadan numa mesquita,
Quando Delanoé, presidente da Camara de Paris convida para uma grande festa os musulmanos no palácio da Camara (pago pelos contribuintes),
Quando os painéis publicitário eletrónicos em Paris anunciam o fim do jejun do dia,
Quando Hollande deseja um bom fim de ramadan "à comunidade musulmana" (sic)(a França é une et indivisible), como o Presidente de Marselha.
Essas pessoas nunca desejam bom Natal, boa Páscoa, boa Assunção aos católicos...

lino disse...

As suas questões são interessantes. Fico com a impressão que terá um conhecimento da realidade francesa mais atento que o meu, simples leitor de jornais. Provavelmente tem razão: também duvido de que Hollande vá desejar bom Natal ou boa Páscoa aos católicos. Ele tem a percepção do distanciamento dos católicos em relação ao culto, e como outros políticos vulgares só perderá tempo com o que julga valer-lhe simpatias traduzíveis em votos.