Nova revelação: Hugo Chávez tem uma veia de jornalista e corrige as notícias. Na visita às chamas de Amuay, no domingo, disse que era impossível que se tivesse sentido cheiro a gás umas horas antes do acidente.
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O governo de Guterres, ou assim, em França, cumpre a promessa eleitoral de suster o preço dos combustíveis.
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Em Itália, assiste-se a um interessantíssimo debate médico. Está em causa a que tipo de controlo vão ser obrigados os frequentadores de ginásios, antes de se entregarem a essa perigosa actividade. Eu bato palmas, pois já ganhei um problema de coluna e a rotura de um nervo por me aventurar num desses antros. Vejamos: a Federação dos Médicos de Medicina Desportiva diz que o controlo por um médico do desporto é uma medida de defesa da saúde do cidadão, e o único controlo epidemiológico que resta, tendo em conta a abolição de inspecção para serviço militar. Outros médicos da área desportiva estão de acordo: o exame por um médico generalista não é suficiente. Mas os médicos de família não concordam e lembram que em muitos casos nem recebem dinheiro pela consulta. Além de que é difícil obter consulta numa área com poucos especialistas. O presidente da Fundação para o Coração, por seu lado, encara de modo muito positivo a obrigatoriedade do certificado obrigatório, mas acha que se deve ir mais longe e prescrever também uma visita ao cardiologista. As falhas de coração são a primeira causa de morte na actividade desportiva.
Reflectindo melhor, e dados os imensos riscos, talvez os governos devam proibir os ginásios. Ou,pelo contrário, se um estudo conveniente vier denunciar a imensa mortalidade causada pela ausência de exercício, torná-los obrigatórios e gratuitos, desviando o custo para a factura dos manuais escolares.
terça-feira, agosto 28
segunda-feira, agosto 27
Figuras que a coltura faz
Ontem, revelou-se no Jornal da Uma da TVI (ao minuto 30) um pensador e analista político que só era conhecido até agora como músico de algum sucesso. Em declarações à reportagem, Rui Veloso lamentou o estado do país e disse que só faltava implantarem-nos um contador para contabilizar o ar que respiramos. Que há neste país pessoas que ele julga que são claramente criminosos e deviam ser julgadas e condenadas e não há ninguém que ponha as coisas como deviam estar. E depois há as eleições e não sei quê e que vivemos numa democracia em que "demo" significa controlada pelo demónio. Demo-cracia, estão a ver? Ah, ah, ah, ah! A produção teve o cuidado de destacar no espaço das legendas algumas palavras-chave do pensamento do artista.
quinta-feira, agosto 23
terça-feira, agosto 21
A morte suspensa da senhora Gu
A realidade acaba de nos servir mais uma história fascinante, com o potencial de inspirar muita ficção. O introito do filme pode ser a cena da condenação à morte de Gu Kailai, no Tribunal do Povo em Hefei. Depois há um fash-back. A cena é um encontro em Inglaterra entre Gu e Neil Heywood, que ela há-de assassinar 10 anos depois. Percebe-se nas cenas seguintes uma tensão crescente em torno de grandes projectos imobiliários, entrecortada por sugestões de uma atracção amorosa que desponta. Cenas onde intervém Bo Xilai, marido de Gu e importante figura do Partido Comunista, deixarão instalada a dúvida sobre o tabuleiro em que joga cada uma das personagens.
Antes de 1/3 do filme convém introduzir outra figura com relevo para o desfiar da história: Wang Lijun, chefe de polícia de Chongking e braço direito de Xilai. Lijun tem em mãos uma iniciativa anti-corrupção que vai de sucesso em sucesso.
As coisas complicam-se entre Gu e Heywood. O destino de um projecto gigantesco e dos milhões que ele faria correr abrem hostilidades por onde perpassam ameaças e chantagem. Aqui é necessário recorrer a um guionista de qualidade para dar vida e realismo ao enredo.
O assassínio de Heywood, assistido por Zhang Xiaojun, assessor de Gu, ocorre a meio do filme. A cena que precede o envenenamento merece particular atenção, pois é a altura de mostrar toda a perversidade de Gu. Saberemos pouco depois que o homicídio desperta a atenção do polícia Lijun, habituado a farejar crimes onde se jogam grandes fluxos de dinheiro e transacções ilegais. Lijun vai seguir de perto a investigação e descobre, com horror, que a pista conduz à esposa Bo Xilai. Lijun terá de se refugiar na embaixada dos Estados Unidos e vai passar um mau bocado, mas o filme não pode dispersar-se por aí.
Em paralelo e alternância de "takes" mostra-se a história do polícia X, subordinado de Lijun em quem este não tem grande confiança. X vive uma paixão tórrida por Y, empresária vagamente suspeita de ter morto o marido de maneira brutal por discussões de propriedade. Y é protegida por X e sempre mostrada em cenas mal iluminadas, embora se lhe reconheça semelhança física com Gu.
A queda do casal Gu e Bo será mostrada do ponto de vista dos polícias e em simultãneo com o avançar da investigação ao crime perpetrado pela senhora Y, que é presa mas pouco depois desaparece.
Perto do fim voltamos à cena do julgamento e leitura da sentença. As cenas finais mostram a perturbação do responsável da investigação sobre Y intrigado com o desaparecimento da suspeita. Na última cena ele está a ver o video do julgamento de Gu e faz-se luz: é a senhora Y que está no tribunal a declarar que a sentença é muito justa. O mistério passa a ser o desaparecimento de Gu.
Este argumento é quase todo baseado em factos reais.
Antes de 1/3 do filme convém introduzir outra figura com relevo para o desfiar da história: Wang Lijun, chefe de polícia de Chongking e braço direito de Xilai. Lijun tem em mãos uma iniciativa anti-corrupção que vai de sucesso em sucesso.
As coisas complicam-se entre Gu e Heywood. O destino de um projecto gigantesco e dos milhões que ele faria correr abrem hostilidades por onde perpassam ameaças e chantagem. Aqui é necessário recorrer a um guionista de qualidade para dar vida e realismo ao enredo.
O assassínio de Heywood, assistido por Zhang Xiaojun, assessor de Gu, ocorre a meio do filme. A cena que precede o envenenamento merece particular atenção, pois é a altura de mostrar toda a perversidade de Gu. Saberemos pouco depois que o homicídio desperta a atenção do polícia Lijun, habituado a farejar crimes onde se jogam grandes fluxos de dinheiro e transacções ilegais. Lijun vai seguir de perto a investigação e descobre, com horror, que a pista conduz à esposa Bo Xilai. Lijun terá de se refugiar na embaixada dos Estados Unidos e vai passar um mau bocado, mas o filme não pode dispersar-se por aí.
Em paralelo e alternância de "takes" mostra-se a história do polícia X, subordinado de Lijun em quem este não tem grande confiança. X vive uma paixão tórrida por Y, empresária vagamente suspeita de ter morto o marido de maneira brutal por discussões de propriedade. Y é protegida por X e sempre mostrada em cenas mal iluminadas, embora se lhe reconheça semelhança física com Gu.
A queda do casal Gu e Bo será mostrada do ponto de vista dos polícias e em simultãneo com o avançar da investigação ao crime perpetrado pela senhora Y, que é presa mas pouco depois desaparece.
Perto do fim voltamos à cena do julgamento e leitura da sentença. As cenas finais mostram a perturbação do responsável da investigação sobre Y intrigado com o desaparecimento da suspeita. Na última cena ele está a ver o video do julgamento de Gu e faz-se luz: é a senhora Y que está no tribunal a declarar que a sentença é muito justa. O mistério passa a ser o desaparecimento de Gu.
Este argumento é quase todo baseado em factos reais.
domingo, agosto 19
Bomba em pré-pagamento
Na 4ª feira, um voo da Air France com destino a Beirute não pôde aterrar. O Líbano, onde uma parte do Hezbollah se alberga, sofre com a instabilidade das zonas limítrofes. Na 4ª feira os acessos ao aeroporto de Beirute não ofereciam segurança. Por necessidade de combustível e por lhes terem sido negadas alternativas, os pilotos viram-se na necessidade de aterrar em Damasco.
Ora, Damasco é a terra onde ainda governa o rapaz mau (escolha arriscada dos governos ocidentais?), com quem a França parou os seus negócios. A Air France interrompeu as ligações com Damasco há quase um ano. Por isso a bomba de querosene, ao estacionar o avião galo, ficou logo em pré-pagamento. Os pilotos chegaram a iniciar a aplicação de um plano B, anunciando um possel assalto ao bolso dos passageiros para obter o cacau necessário. No fim o rapaz mau lá vendeu a gasolina e a Air France pagará por transferência. O avião, entretanto, terminou a sua viagem após uma escala em Larnaca.
Laurent Fabius aparece hoje nos jornais a classificar a aterragem em Damasco de incompreensível e perigosa. Sim, que isto de chamar nomes e incitar à guerra aos rapazes maus é uma coisa, mas estar preparado para gerir um eventual sequestro é muito maçador. Alguns comentadores no Figaro já lhe chamam, com graça, ministro des affaires qui lui sont étrangères.
Ora, Damasco é a terra onde ainda governa o rapaz mau (escolha arriscada dos governos ocidentais?), com quem a França parou os seus negócios. A Air France interrompeu as ligações com Damasco há quase um ano. Por isso a bomba de querosene, ao estacionar o avião galo, ficou logo em pré-pagamento. Os pilotos chegaram a iniciar a aplicação de um plano B, anunciando um possel assalto ao bolso dos passageiros para obter o cacau necessário. No fim o rapaz mau lá vendeu a gasolina e a Air France pagará por transferência. O avião, entretanto, terminou a sua viagem após uma escala em Larnaca.
Laurent Fabius aparece hoje nos jornais a classificar a aterragem em Damasco de incompreensível e perigosa. Sim, que isto de chamar nomes e incitar à guerra aos rapazes maus é uma coisa, mas estar preparado para gerir um eventual sequestro é muito maçador. Alguns comentadores no Figaro já lhe chamam, com graça, ministro des affaires qui lui sont étrangères.
sábado, agosto 18
Rankings de universidades
Saiu no dia 15 a actualização do ranking de Shanghai. Esta classificação das universidades tem por base "seis indicadores objectivos" que incluem: número de alunos e investigadores com Prémio Nobel ou Medalha Fields, número de investigadores altamente citados na Thomson Scientific, número de artigos na Nature ou na Science, número de artigos indexados no Science Citation Index e desempenho per capita normalizado pela dimensão da instituição.
As universidades portuguesas surgem no ranking nas posições seguintes.
Também foi recentemente actualizado o Ranking Web de instituições do ensino superior, que utiliza parâmetros virados para a visibilidade: presença, impacto, abertura e excelência. O impacto conta 50% e baseia-se na contagem de links externos que reconhecem o valor e utilidade da informação disponibilizada. O modo como as instituições se deixam ver na internet tem influência decisiva no modo como este índice as avalia.
As 10 universidades portuguesas mais bem colocadas são as seguintes:
(As 4 colunas à direita representam os valores de presença, impacto, abertura e excelência, repectivamente.)
As universidades portuguesas surgem no ranking nas posições seguintes.
1 |
University of Porto
| 301-400 |
2-3 |
Technical University of Lisbon
| 401-500 |
2-3 |
University of Lisbon
| 401-500 |
Também foi recentemente actualizado o Ranking Web de instituições do ensino superior, que utiliza parâmetros virados para a visibilidade: presença, impacto, abertura e excelência. O impacto conta 50% e baseia-se na contagem de links externos que reconhecem o valor e utilidade da informação disponibilizada. O modo como as instituições se deixam ver na internet tem influência decisiva no modo como este índice as avalia.
As 10 universidades portuguesas mais bem colocadas são as seguintes:
69 | Universidade do Porto | 111 | 122 | 37 | 283 | |
| ||||||
181 | Universidade Técnica de Lisboa | 230 | 404 | 81 | 308 | |
| ||||||
207 | Universidade de Coimbra | 225 | 219 | 271 | 455 | |
| ||||||
226 | Universidade de Lisboa | 749 | 154 | 275 | 448 | |
| ||||||
252 | Universidade do Minho | 160 | 369 | 229 | 585 | |
| ||||||
337 | Universidade Nova de Lisboa | 815 | 392 | 314 | 519 | |
| ||||||
536 | Universidade de Aveiro | 631 | 912 | 998 | 437 | |
| ||||||
653 | Universidade de Évora | 1,566 | 531 | 766 | 1,317 | |
| ||||||
779 | Universidade Católica Portuguesa | 1,640 | 530 | 1,066 | 1,685 | |
| ||||||
893 | Universidade da Beira Interior | 2,430 | 1,299 | 453 | 1,549 |
(As 4 colunas à direita representam os valores de presença, impacto, abertura e excelência, repectivamente.)
Culturas na primavera
O festival de música e teatro de Bizerte, no noroeste da Tunísia, teve um dia agitado. A intervenção do convidado Samir Kantar foi contestaida de forma violenta por manifestantes salafistas. O presidente da Liga Tunisina da Tolerância, El Masri, denunciou os distúrbios, vendo neles a mão, ou pelo menos os olhos bem fechados, do governo actual. Samir Kantar é uma espécie de decano dos prisioneiros palestinianos, com passagem por cadeias israelitas, com um grande atentado e assassinatos no cirriculum, entre os quais o esmagamento da cabeça da filha de 4 anos de um polícia. Kantar, condecorado por Assad e Ahmadinejad, defende a posição do (ainda) governo sírio contra os insurgentes locais.
Os salafistas em protesto já tinham também impedido a actuação de músicos iranianos no festival.
A Liga da Tolerância quis simplesmente celebrar a luta dos islamistas libaneses. Recorda que esteve ao lado dos salafistas durante a primavera tunisina mas alerta agora para a ameaça de islamização da constituição, justamente em virtude das pressões do grupo, que pretende oficializar a sharia." Que vão combater os israelitas nos territórios ocupados em vez de brigarem com os seus concidadãos e os seus convidados", diz El Masri.
Os salafistas em protesto já tinham também impedido a actuação de músicos iranianos no festival.
A Liga da Tolerância quis simplesmente celebrar a luta dos islamistas libaneses. Recorda que esteve ao lado dos salafistas durante a primavera tunisina mas alerta agora para a ameaça de islamização da constituição, justamente em virtude das pressões do grupo, que pretende oficializar a sharia." Que vão combater os israelitas nos territórios ocupados em vez de brigarem com os seus concidadãos e os seus convidados", diz El Masri.
quarta-feira, agosto 15
A oração da discórdia
Hoje festeja-se a Assunção da Virgem. A Assunção é a subida da Virgem aos céus onde recebe a coroa. Convém notar que ao contrário da Ascensão de Jesus, que subiu ao céu pelos seus próprios meios, Maria foi aspirada pela força divina.
Hoje, em França, será rezada a oração que o cardeal André Vingt-Trois dirigiu a todas as dioceses. A prière pour la France invoca a Virgem e transporta uma mensagem: alerta os católicos contra as mexidas anunciadas na legislação sobre a família e recorda como é importante para toda a criança a presença de um pai e de uma mãe.
Certamente que amanhã a notícia já terá ido para o lixo, mas hoje é mote de gozo para jornalistas e comentadores na imprensa francesa, sempre prontos a zurzir na Igreja e a confrontar as posições retrógradas dos católicos com um mundo em mudança. O Libération regista que 65% dos franceses são favoráveis ao casamento entre pessoas que gostam de sexo com pessoas do mesmo sexo. A notícia não é clara, mas parece tratar-se de uma sondagem a católicos. Seria interessante fazer uma sondagem entre os muçulmanos franceses, dos quais 85% votarem em Hollande. Ou, aproveitando o dia de calma republicana em Amiens, recolher as opiniões dos jeunes - essa nova categoria social que soa bem em francês. E, já agora, sondar as próprias pessoas que gostam de sexo com pessoas do mesmo sexo.
Nestas coisas, a Igreja põe-se a jeito. Além de ter telhados de vidro, fica a descoberto que os seus altos dirigentes são incapazes de distinguir o fait-divers das grandes linhas com que a realidade se escreve. Um pouco mais de atenção bastaria para reconhecer que a Virgem nunca fez pequena política e nem perderia um minuto com o assunto só para irritar Hollande. A Virgem ocupa-se mais das grandes causas, tipo conversão da Rússia, prometida em 1917 a uns pastores, e de alguma forma cumprida em 1989. Nesta questão de casamentos entre pessoas assim e assado, Ela nem perceberia do que se está a falar.
Na foto: assunção da virgem, Notre Dame de Paris, baixo relevo no flanco norte.
Hoje, em França, será rezada a oração que o cardeal André Vingt-Trois dirigiu a todas as dioceses. A prière pour la France invoca a Virgem e transporta uma mensagem: alerta os católicos contra as mexidas anunciadas na legislação sobre a família e recorda como é importante para toda a criança a presença de um pai e de uma mãe.
Certamente que amanhã a notícia já terá ido para o lixo, mas hoje é mote de gozo para jornalistas e comentadores na imprensa francesa, sempre prontos a zurzir na Igreja e a confrontar as posições retrógradas dos católicos com um mundo em mudança. O Libération regista que 65% dos franceses são favoráveis ao casamento entre pessoas que gostam de sexo com pessoas do mesmo sexo. A notícia não é clara, mas parece tratar-se de uma sondagem a católicos. Seria interessante fazer uma sondagem entre os muçulmanos franceses, dos quais 85% votarem em Hollande. Ou, aproveitando o dia de calma republicana em Amiens, recolher as opiniões dos jeunes - essa nova categoria social que soa bem em francês. E, já agora, sondar as próprias pessoas que gostam de sexo com pessoas do mesmo sexo.
Nestas coisas, a Igreja põe-se a jeito. Além de ter telhados de vidro, fica a descoberto que os seus altos dirigentes são incapazes de distinguir o fait-divers das grandes linhas com que a realidade se escreve. Um pouco mais de atenção bastaria para reconhecer que a Virgem nunca fez pequena política e nem perderia um minuto com o assunto só para irritar Hollande. A Virgem ocupa-se mais das grandes causas, tipo conversão da Rússia, prometida em 1917 a uns pastores, e de alguma forma cumprida em 1989. Nesta questão de casamentos entre pessoas assim e assado, Ela nem perceberia do que se está a falar.
Na foto: assunção da virgem, Notre Dame de Paris, baixo relevo no flanco norte.
domingo, agosto 12
Álgebra (continuação)
Nicolas Warner responde no Huffington Post ao artigo de Andrew Hacker no NYT. Para defender o ensino dos conteúdos de "álgebra", Warner alinha argumentos como: a álgebra permite às pessoas pensar de modo abstracto; desenvolve a capacidade de fazer uma análise distanciada da realidade exterior; quem tiver adquirido familiaridade com a álgebra está preparado para pensar melhor, mesmo que nunca mais na vida venha a utilizar a álgebra.
Todo este discurso me parece pouco convincente. Eu sou de opinião que todos os adolescentes devem ter a possibilidade de aprender as técnicas da álgebra, mas julgo que os argumentos de Warner são praticamente impossíveis de demonstrar.
Em várias circunstâncias da vida deparamos com discussões com esta característica: as posições em confronto têm argumentos que nunca convencem de modo definitivo a parte contrária. O debate político está cheio disso mesmo. Os partidos em confronto advogam soluções diferentes para os problemas, e as medidas que acabam por ser tomadas resultam do acesso ao poder e não da demonstração racional da sua necessidade e eficácia. A vida prática é assim: podemos alinhar muitos argumentos que conflituam entre si mas o caminho para as soluções resulta tanto do conhecimento empírico, da tentativa e erro, como da justificação teórica do modo de actuar.
Warner é professor de Física e Matemática, e naturalmente interessa-lhe que os alunos lhe cheguem à universidade a saber calcular. Embora simpatize com a posição de Warner, a sua argumentação não pode deixar de me evocar as justificações dos sindicatos quando ameaçam com formas de luta que paralizam serviços importantes e afirmam estar a defender a qualidade dos serviços, no interesse geral.
Todo este discurso me parece pouco convincente. Eu sou de opinião que todos os adolescentes devem ter a possibilidade de aprender as técnicas da álgebra, mas julgo que os argumentos de Warner são praticamente impossíveis de demonstrar.
Em várias circunstâncias da vida deparamos com discussões com esta característica: as posições em confronto têm argumentos que nunca convencem de modo definitivo a parte contrária. O debate político está cheio disso mesmo. Os partidos em confronto advogam soluções diferentes para os problemas, e as medidas que acabam por ser tomadas resultam do acesso ao poder e não da demonstração racional da sua necessidade e eficácia. A vida prática é assim: podemos alinhar muitos argumentos que conflituam entre si mas o caminho para as soluções resulta tanto do conhecimento empírico, da tentativa e erro, como da justificação teórica do modo de actuar.
Warner é professor de Física e Matemática, e naturalmente interessa-lhe que os alunos lhe cheguem à universidade a saber calcular. Embora simpatize com a posição de Warner, a sua argumentação não pode deixar de me evocar as justificações dos sindicatos quando ameaçam com formas de luta que paralizam serviços importantes e afirmam estar a defender a qualidade dos serviços, no interesse geral.
Marte a cores
Esta é a primeira foto a cores do que a Curiosity viu. E aqui pode ver-se por onde andou o planeta desde outubro de 2011 até julho deste ano.
segunda-feira, agosto 6
Curiosities
Há menos de 24 horas terrestres que a Curiosity aterrou com sucesso em Marte, completando a viagem que iniciou na Terra em 26 de novembro de 2011. Ir a Marte é um prodígio da ciência e da engenharia e entre as tentativas há uma lista de insucessos. O último foi o da missão russa Phobos-Grunt, lançada menos de três semanas antes da Curiosity. Um acidente informático impediu a ignição dos foguetes que desprenderiam a nave da órbita terrestre, à qual ficou amarrada mesmo depois de algumas tentativas de relançamento. O engenho viajou em torno de nós carregado de 11 toneladas de combustível altamente tóxico e despenhou-se em 15 de janeiro passado no Pacífico sul.
O esquema seguinte contém dados interessantes sobre os valores dos parâmetros da fase inicial do voo da Curiosity.
(Fotos do Mars Science laboratory da NASA.)
A aterragem efectuada, uma série de manobras de precisão e que em particular tira partido da existência de atmosfera em Marte, é um sucesso notável, e demonstração de uma impressionante capacidade técnica.
O lançamento, teorizado desde 1925 por Hohmann, é uma operação que requer igualmente grande rigor. A órbita de Hohmann (meia elipse tangente à órbita terrestre e à de Marte) permite minimizar a energia necessária ao desprendimento da órbita terrestre. O lançamento é efectuado de modo a que a órbita de transferência tenha afélio coincidente com a posição de Marte no momento em que a nave atinge a órbita deste. O periélio é o ponto de partida, a órbita de estacionamento terrestre; a energia necessária para o desprendimento e aceleração (no sentido do movimento de translacção terrestre), traduzida em termos da velocidade V relativamente ao Sol, é calculável com base nas leis de Newton, as mesmas que garantem que a órbita subsequente tem a forma de uma elipse e que o sol faz o trabalho de transporte. Detalhes e esquemas aqui.
Na verdade as coisas são mais complicadas, incluindo um troço de órbita hiperbólica que faz a colagem suave entre a órbita terrestre e a de transferência (e o mesmo à chegada em Marte). O parâmetro C3 que aparece no gráfico acima representa o quadrado da diferença V-VT, em que VT é a velocidade da Terra relativamente ao Sol, de onde a designação de "excesso hiperbólico".
domingo, agosto 5
A estação tonta no New York Times
Um artigo de opinião publicado em 28 de julho no New York Times advoga que se deite fora tudo o que cheire a "álgebra" (cálculo aritmético com símbolos) no ensino pré-universitário. A razão é simples: é que parece que o assunto é difícil e causa de insucesso na escola. O NYT está a abrir a porta ao pensamento neo-liberal descaradíssimo. Será apenas um passo até à conclusão de que, para ensinar apenas o que toda a gente aprende sem esforço, as escolas não são necessárias, e mais vale fechá-las.
sexta-feira, agosto 3
Hollande não dorme
O procurador de Nanterre foi hoje destituído. Passará a estar às ordens do Procurador Geral, representando o ministério público, no tribunal de recurso de Paris.
Philippe Courroye teve uma actuação de colagem ao poder durante a presidência de Sarkozy, tendo-se tornado uma figura controversa e muito criticada no interior do próprio aparelho de justiça. No âmbito do processo Bettencourt, que caiu em Nanterre, fez o que pôde e o que não pôde para encobrir possíveis responsabilidades do presidente e amigos, tendo ido até ao conflito aberto com uma juiza de instrução.
Philippe Courroye teve uma actuação de colagem ao poder durante a presidência de Sarkozy, tendo-se tornado uma figura controversa e muito criticada no interior do próprio aparelho de justiça. No âmbito do processo Bettencourt, que caiu em Nanterre, fez o que pôde e o que não pôde para encobrir possíveis responsabilidades do presidente e amigos, tendo ido até ao conflito aberto com uma juiza de instrução.
quarta-feira, agosto 1
O jejum em Gennevilliers
Gennevilliers é uma região administrativa (comuna) do noroeste de Paris, governada por comunas. A administração esteve há dias a ponto de despedir quatro monitores de uma colónia de férias. Motivo: os quatro jejuavam, em respeito ao Ramadão, o que foi considerado mau exemplo para as crianças. O contrato de trabalho, de certeza inconstitucional, impunha uma pausa para alimentação à hora de almoço. Em face dos protestos, o governo de Gennevilliers acaba de recuar. Os comunas de Gennevilliers são agora criticados de todos os lados: a Frente Nacional, que inicialmente os tinha apoiado, lamenta agora a reviravolta. A UMP, pela voz do seu secretário geral, insiste em que a câmara de Gennevilliers nunca teve razão ao avançar para a tentativa de suspensão. É o que conta o Libération de hoje. Afirma o dirigente da UMP que ninguém demonstrou que a prática do Ramadão impede de trabalhar.
A história tem muitas leituras, mas eu tenho direito à minha: extremistas de esquerda e direita são tão amigos dos trabalhadores que querem alimentá-los à força, e tenebrosos neo-liberais aproveitam a oportunidade para instilar subrepticiamente a ideia de que os custos com cantinas, subsídios de alimentação e pausas laborais são um luxo que pode muito bem ser suprimido.
A história tem muitas leituras, mas eu tenho direito à minha: extremistas de esquerda e direita são tão amigos dos trabalhadores que querem alimentá-los à força, e tenebrosos neo-liberais aproveitam a oportunidade para instilar subrepticiamente a ideia de que os custos com cantinas, subsídios de alimentação e pausas laborais são um luxo que pode muito bem ser suprimido.
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