sábado, junho 23

Computers


Passa hoje o centenário de Alan Turing. É por isso apropriado lembrar que antes de Turing dar os passos decisivos para a criação do computador, já havia computadores. Bem... a palavra tinha então outro sentido: os computers eram pessoas com boa prestação em matemática que trabalhavam em equipas encarregadas dos extensos cálculos necessários na ciência e nas suas aplicações.

Nem todos os cientistas se sentem muito confortáveis com o cálculo extenso e complexo. No passado, a produção épica de registos astronómicos de Tycho Brahe permitiu a Kepler, um calculador exímio, estabelecer as leis do movimento dos planetas; a tenacidade de Alexis Clairaut resolveu a órbita do cometa Hayley, causando admiração dos seus contemporâneos. Clairaut organizou a tarefa dividindo o trabalho com dois colaboradores, o astrónomo Joseph Jerome Lalande e a mulher de um relojoeiro, Reiebe Lepaurte.

O poder saido da Revolução, em França, promoveu a criação de equipas de computadores para elaborarem tábuas trigonométricas e de logaritmos.

As equipas de calculadores que foram surgindo trabalhavam por vezes em regime militar, como no caso dos "Boy Computers", um grupo de rapazes que o English Royal Observatory encarregou de produzir cálculos para uso em astronomia e na navegação.

Sala de computadoras da NASA, 1949

A divisão de trabalho permitiu utilizar como computadores pessoas com fracos conhecimentos de aritmética. assim se deu trabalho a desempregados durante o New Deal. Mas com a segunda guerra mundial e a necessidade de resultados fiáveis aumentou a procura de computadores competentes. Destes, muitos eram mulheres. Calculavam dias a fio em regime de subdivisão de tarefas. (Informações mais detalhadas neste artigo de Dr. Phil.)

A profissão de computador desapareceu com a forte automatização do cálculo a partir de meados do século 20. No entanto, longas tabelas de integrais e soluções exactas de equações diferenciais foram executadas por pessoas vivas até há relativamente pouco tempo, antes do aparecimento de software capaz de manipulação simbólica.

Quando Turing escreveu "The behaviour of the computer at any moment is determined by the symbols which he is observing, and his 'state of mind' at that moment" estava a referir-se a gente, não a máquinas. O filósofo Daniel Dannet faz neste artigo do The Atlantic uma aproximação de Turing a Darwin, afirmando que ambos mostraram que se pode ser competente sem perceber nada do assunto. A provocação é interessante e presta-se a glosas humorísticas, mas os pedagogos - modernos ou conservadores - não gostarão da ideia.

1 comentário:

Jorge Salema disse...

Este post é fascinante.