sábado, junho 2

De Modena


O terramoto faz agora parte de todas as conversas, e pressente-se quando toca um telefone. Hoje, um catedrático do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Modena e Reggio Emilia garante que a situação tende a estabilizar-se, não havendo, no entanto, certezas absolutas, apenas probabilidades. Quase todas as igrejas da cidade estão fechadas e alguns actos de culto anunciam-se para o ar livre. Há ruas interditas a peões, prescrutam-se as paredes antes de entrar nas ruas estreitas do centro, descobrem-se rachas que podem não ser novas, e dono de cão ou gato vê com apreensão qualquer comportamento do bicho que lhe pareça inabitual. Nas povoações próximas mais atingidas continua a viver-se uma situação difícil. Em Roverino, oito famílias assistiram ao desmoronar do prédio onde viviam: danificado e interdito, caiu como um baralho de cartas três dias depois do abalo que lhe deu o golpe. Agora pensam em processar a construtora, a quem tinham pago 200 milhões de liras pelos apartamentozitos, vendidos como muito sólidos, em 1993. O desmoronamento veio pôr a nu que as garagens não estavam construidas em cimento armado, mas sim com tijolo perfurado.

Entretanto, nem só a instabilidade do solo faz as coisas mudar para pior. Na livraria Feltrinelli, razoavelmente bem fornecida, as empregadas são agora pouco simpáticas, não parecendo nada interessadas em dar uma ajuda ao cliente. À entrada há saldo de cd's: a pop a 6€ e a clássica a 12. Quem vende sabe bem que Bach, Beethoven e Mozart valem a dúzia de euros. Mas quem é que os daria pelos Moody Blues ou mesmo pelas Songs from a Room do Cohen? Nem toda a "cultura" vale o mesmo. A pop é etiqueta de uma pose e de uma data. Com o passar do tempo, esvai-se o ténue significado que carrega.

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