sexta-feira, julho 2

Survival of the Beautiful

Tem o fetiche de usar meias de rede? Não há problema, se você for boa. Mas se sofrer (sim, é esta a palavra) de pelo facial, dentes desalinhados ou, sendo homem, pelo nas costas ou uma parte essencial da anatomia encurvada, desista. Os critérios para engatar gente bonita são bem claros. Se não os cumprir, não faça drama: o que há mais por aí é sites de namoros a abarrotar de gente parecida consigo com quem até o acto de tomar um café deveria dar direito a uma indemnização. A gente linda esgotou a paciência e agora dispõe das suas zonas privadas na internet, defendidas do assédio dos feiosos, com cão de guarda a controlar as entradas.




Esqueçam-se as discriminações raciais ou de género. A que está aí, subterrânea e velada, é a do envólucro físico.
O caso é visto com um olhar muito sério quando a preocupação não é o relacionamento amoroso: há quem defenda a criação de leis contra a discriminação no trabalho com base no aspecto físico. O livro "The Beauty Bias" de Deborah Rhode conta que nos Estados Unidos 43% de mulheres com excesso de peso sentem-se estigmatizadas pelos patrões e que as gordas ganham em média 12% menos do que as que têm habilitações comparáveis. O sucesso da medicina estética confere à discussão a respeitabilidade que as preocupações sócio-económicas merecem, em contraste com a aparente futilidade do assunto. O mau aspecto físico andará afinal a par com a classe social: os feios são frequentemente mais pobres (menos dinheiro significa menos implantes, menos botox, menos lipo-aspiração).

Discutível como é, a proposta de criar leis para defender os menos atraentes é de sucesso duvidoso. Que partidos ou lobbies vão querer assumir a causa de um grupo com o qual ninguém se vai identificar sem relutância? A coisa só pode interessar a quem ganharia com a subida de nível de litigância: os advogados (feios, bem entendido) que aqui encontrariam um nicho de actividade promissor.

Na verdade estas ideias podem reduzir-se a uma operação promocional da autora. Porque há outros números (felizmente, há sempre um estudo que nos dá alívio). Se gordura não é formosura, parece que pelo menos é felicidade, o que já não é mau.

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