No tempo dos LPs não perdia discos por distracção. Ninguém levava LPs para ouvir no carro e as dimensões não eram amigáveis para o transporte. Isso não obstava a que desaparecesse um ou outro de vez em quando, na sequência de um empréstimo esquecido. Desenvolvi então um sonho obsessivo e recorrente, em que estava a ouvir uma música belíssima que ao acordar não conseguia localizar na estante. Por vezes a ilusão era tão perfeita que, findo o sono, conseguia ainda reconstituir a melodia nos primeiros instantes. Se a música já tinha sido ouvida ou se era uma fabricação onírica, isso nunca vinha a saber.
No tempo dos CDs começaram a desaparecer-me discos em números alarmantes, e os empréstimos estão longe de explicar tudo. A senhora da limpeza não é suspeita: eu sei bem que estações de rádio ela sintoniza enquanto acaricia suavemente o pó, e não costumam dar Shostakovitch nem Cole Porter. Nem sequer Carl Orff.
Em vez de sonhar com as músicas perdidas, tento agora recuperá-las voltando a comprar os discos. Sinal de bem estar na vida, certamente. Mas nem sempre é fácil: nesta época de consumos rápidos, as reedições não são fáceis de encontrar. Que sorte nada disto ter importância.
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1 comentário:
não são nada. basta procurá-las na net.
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