sexta-feira, julho 30
Pascal B.
Os nomes das personagens do folhetim tornaram-se bem notórios: Liliane e Françoise, Banier, Patrice de Maistre, Clare Thibout, Eric e Florence Woerth... e salpicos em Sarkozy e Philippe Courroye, Procurador da República de Nanterre e figura próxima do Presidente.
Ontem era o ministro Woerth que cozia em banho-maria, dando uma entrevista de 8 horas à polícia no seu gabinete. Ou, como dizem os jornais, sendo ouvido pela polícia. Do conteúdo pouco se sabe, a não ser que nega tudo o que pode inferir-se com razoável verosimilhança das gravações ilegais feitas à Sra Liliane e seus próximos.
Pascal B. é talvez o nome menos repetido, mas ele é o criador desta novela que deslizou rapidamente de um pequeno drama de costumes para o detonar de um escândalo fiscal e de estado. Irritado com o despedimento de colegas que deram com a língua nos dentes sobre o estado de saúde da Sra Bettencourt, o mordomo Pascal B. começou a servir o chá e o café com gravador incluído. A paciente recolha de diálogos durou um ano e foi transcrita para vários CDs. Por entre o tilintar das colheres de chá nas porcelanas da família, podemos ouvir conversas sobre o destino a dar a uma conta de 65 milhões de euros na Suiça... e muito mais. Digo podemos ouvir porque a divulgação não está limitada a transcrições nos jornais: no site do Mediapart, ligado ao PS, estão clips de audio disponíveis ao público. Tudo ilegal, claro. Por isso Pascal B. também terá o seu processozinho, estando acusado de intromissão na vida privada. Vida privada recheada de vidas públicas, uma maçada.
No poupar está o ganho
Morreu ontem Theo Albrecht, um dos homens mais ricos da Alemanha, co-fundador com o seu irmão Karl da cadeia de lojas de desconto ALDI. Uma ideia de sucesso que se multiplicou no pós guerra e foi exportada para a Europa: nós cá temos o LIDL. A ideia é simples -- vender um stock limitado de produtos, poupar no preço, na publicidade, na apresentação, por vezes na qualidade, que remédio. Muitos consumidores agradecem. Conta-se que Theo era um poupante empedernido: nunca mudava de sala sem apagar a luz e reduzia a iluminação ao indispensável. Deve fazer parte do segredo para construir uma grande fortuna, que a populaça agora escarnecerá porque deixa todos os stand-by ligados e pensa que tem lâmpadas economizadoras. As notícias não informam sobre a causa da morte de Theo. Talvez o facto de ter 88 anos seja suficiente, embora não reconhecido como causa legal.
sábado, julho 24
Afinal a TVI não é manipulável
É o que se infere deste post de E. Pitta. Deixa ver se compreendo: o autor insinua que o PS, talvez para dar publicidade a algum objectivo programático, terá feito pressões sobre a TVI no sentido de incluir nos Morangos umas beijocas entre rapazes. E a TVI, tal como num outro caso recente, não cede a pressões de partidos nem governos: faz censura pela sua própria iniciativa. Tomem lá, partidários das conspirações.
sexta-feira, julho 23
Esguicho rectal
Já que se falou de um esguicho de petróleo, vem a propósito chamar a atenção para a nova técnica de pintura sobre tela inventada por Keith Boadwee, professor de Belas Artes formado na UCLA e membro do California College of Arts. Artista de sucesso, já expôs na bienal de Veneza e tem-se integrado nos movimentos de política idenditária e fascinação pelo abjecto. Podem vê-lo em acção aqui. Não clique no link se estiver à mesa.
A resiliência natural e as aves mortas
Parece que os danos resultantes da fuga de petróleo no furo da BP têm sido largamente exagerados. Ou, pelo menos, a capacidade de recuperação de que o planeta dispõe tem sido muito subestimada. Não admira: os meios de comunicação especializaram-se no discurso da convencional "correcção" que anuncia o apocalipse para o dia seguinte. Se se puder apontar o dedo aos malvados rrricos e capitalistas(o que acontece ajustadamente neste caso), é ouro sobre azul. No mundo académico as tentações são semelhantes, porque políticas demagógicas canalizam fundos generosos para uma investigação programática em que os resultados já são conhecidos antes da conclusão dos projectos.
Em artigo publicado há cinco dias no Times e aqui transcrito com links e referências, Matt Ridley põe o desastre em perspectiva com acidentes do mesmo género e comenta o provável exagero da cobertura mediática.
The final lesson is that the environmental threats that matter are the slow, continuous ones, not the telegenic sensations like oil spills. BP’s spill is known to have killed just over 1,300 birds so far. Just one wind farm, at Altamont Pass in California, was until recently known to kill perhaps 1,300 birds of prey every year. If BP really wants to kill birds, it should indeed go beyond petroleum and into wind, an industry that kills far more rare birds per joule of energy produced than oil does.
Em artigo publicado há cinco dias no Times e aqui transcrito com links e referências, Matt Ridley põe o desastre em perspectiva com acidentes do mesmo género e comenta o provável exagero da cobertura mediática.
The final lesson is that the environmental threats that matter are the slow, continuous ones, not the telegenic sensations like oil spills. BP’s spill is known to have killed just over 1,300 birds so far. Just one wind farm, at Altamont Pass in California, was until recently known to kill perhaps 1,300 birds of prey every year. If BP really wants to kill birds, it should indeed go beyond petroleum and into wind, an industry that kills far more rare birds per joule of energy produced than oil does.
O enigma de Coelho
Não é clara a intenção do PSD e do seu líder com o episódio das alterações à constituição. Para além de marcar a agenda dos jornais e tvs por uns dias, os ganhos do ponto de vista de quem propõe são mais do que duvidosos. Para mim, o mais credível é que Coelho está aterrado com a mera hipótese de vir a ter que governar isto em breve. (Eu também estaria.) Assim, dá de bandeja à concorrência a oportunidade de agitar o espectro da destruição de conquistas disto e daquilo, finge ser um perigosíssimo neo-liberal - nome que já está a tomar, no imaginário simplório da sopinha de cultura socialista, o lugar do antiquado "fascista" para gozo dos cinco minutos diários de ódio a que os cidadãos têm direito - e fornece a oportunidade para todas as eminências do regime virem a público fazer alarmismo com o regresso a pretéritos a gosto e proferir outras banalidades, das quais a mais verdadeira é que não havia necessidade.
De facto, não há. O "SNS grátis" é um problema mal posto. Não há, nem haverá. O que há é um SNS falido. A tímida redução de que tem sido objecto é apenas um início. O seu custo incomportável pela dimensão da dívida torná-lo-á, por via das novas medidas que o governo será obrigado a tomar a curto prazo, tendencialmente desmantelável tal como existe. As classes que ainda têm algum guito terão de passar sem férias em Cancun e prescindir dos LCDs panorâmicos, para pagar cuidados médicos e hospitalares. Lamentavelmente, os que nem férias têm (quem sabe se por estarem no desemprego) ficarão também pior servidos. Resultado de políticas de gastar sem fazer as contas.
Quanto ao "ensino público", o trabalho de o desacreditar até ficar de rastos tem vindo a ser exercido meticulosamente por todos os governos recentes, merecendo destaque a "paixão" de Guterres pela educação à la Benavente e o empurrão decisivo para o abismo dado por Lurdes Rodrigues. As universidades não estão esquecidas: com o prestimoso auxílio da Europa e de Bolonha, estão agora afogadas em papelada e burocracia, e pressionadas para conceder o sucesso obrigatório em coisas a que agora se chama licenciaturas.
Tudo isto continuará a sua marcha, com ou sem Coelho e independentemente do texto da Constituição. Sem que o problema premente de como crescer e como tornar viável a economia do país seja tocado. Sem que seja alterada a situação imoral em que uma classe e uma faixa etária se apossaram dos empregos estáveis e decidiram gastar o que não tinham, deixando à geração seguinte o fardo das dívidas, da luta pelo trabalho precário e o aviso de que é melhor precaverem-se para a sobrevivência com uma amostra de reforma depois de trabalharem até aos 70 anos.
As propostas de Coelho são inúteis. Não respondem ao problema principal. O corte nos gastos far-se-á sem elas e mesmo sem Coelho: basta esperar que Sócrates, num dia não muito distante, tenha uma nova revelação de que o mundo voltou a mudar. Talvez até seja obrigado a descobrir que o recurso ao aumento de impostos não altera o caminho para o desastre.
Finalmente, parece que a expressão poética Razões Atendíveis (que a engenharia do nosso direito logo se encarregaria de domesticar) foi lucidamente posta de lado. De facto, mais vale deixá-la livre para título de uma pequena novela, em discreta homenagem a Capote.
De facto, não há. O "SNS grátis" é um problema mal posto. Não há, nem haverá. O que há é um SNS falido. A tímida redução de que tem sido objecto é apenas um início. O seu custo incomportável pela dimensão da dívida torná-lo-á, por via das novas medidas que o governo será obrigado a tomar a curto prazo, tendencialmente desmantelável tal como existe. As classes que ainda têm algum guito terão de passar sem férias em Cancun e prescindir dos LCDs panorâmicos, para pagar cuidados médicos e hospitalares. Lamentavelmente, os que nem férias têm (quem sabe se por estarem no desemprego) ficarão também pior servidos. Resultado de políticas de gastar sem fazer as contas.
Quanto ao "ensino público", o trabalho de o desacreditar até ficar de rastos tem vindo a ser exercido meticulosamente por todos os governos recentes, merecendo destaque a "paixão" de Guterres pela educação à la Benavente e o empurrão decisivo para o abismo dado por Lurdes Rodrigues. As universidades não estão esquecidas: com o prestimoso auxílio da Europa e de Bolonha, estão agora afogadas em papelada e burocracia, e pressionadas para conceder o sucesso obrigatório em coisas a que agora se chama licenciaturas.
Tudo isto continuará a sua marcha, com ou sem Coelho e independentemente do texto da Constituição. Sem que o problema premente de como crescer e como tornar viável a economia do país seja tocado. Sem que seja alterada a situação imoral em que uma classe e uma faixa etária se apossaram dos empregos estáveis e decidiram gastar o que não tinham, deixando à geração seguinte o fardo das dívidas, da luta pelo trabalho precário e o aviso de que é melhor precaverem-se para a sobrevivência com uma amostra de reforma depois de trabalharem até aos 70 anos.
As propostas de Coelho são inúteis. Não respondem ao problema principal. O corte nos gastos far-se-á sem elas e mesmo sem Coelho: basta esperar que Sócrates, num dia não muito distante, tenha uma nova revelação de que o mundo voltou a mudar. Talvez até seja obrigado a descobrir que o recurso ao aumento de impostos não altera o caminho para o desastre.
Finalmente, parece que a expressão poética Razões Atendíveis (que a engenharia do nosso direito logo se encarregaria de domesticar) foi lucidamente posta de lado. De facto, mais vale deixá-la livre para título de uma pequena novela, em discreta homenagem a Capote.
quarta-feira, julho 21
Curiosidade
O governo sírio proibe o uso do niqab nas universidades do país, públicas ou privadas. Para defender a face laica do regime.
sábado, julho 17
Falta de assunto
No tempo dos LPs não perdia discos por distracção. Ninguém levava LPs para ouvir no carro e as dimensões não eram amigáveis para o transporte. Isso não obstava a que desaparecesse um ou outro de vez em quando, na sequência de um empréstimo esquecido. Desenvolvi então um sonho obsessivo e recorrente, em que estava a ouvir uma música belíssima que ao acordar não conseguia localizar na estante. Por vezes a ilusão era tão perfeita que, findo o sono, conseguia ainda reconstituir a melodia nos primeiros instantes. Se a música já tinha sido ouvida ou se era uma fabricação onírica, isso nunca vinha a saber.
No tempo dos CDs começaram a desaparecer-me discos em números alarmantes, e os empréstimos estão longe de explicar tudo. A senhora da limpeza não é suspeita: eu sei bem que estações de rádio ela sintoniza enquanto acaricia suavemente o pó, e não costumam dar Shostakovitch nem Cole Porter. Nem sequer Carl Orff.
Em vez de sonhar com as músicas perdidas, tento agora recuperá-las voltando a comprar os discos. Sinal de bem estar na vida, certamente. Mas nem sempre é fácil: nesta época de consumos rápidos, as reedições não são fáceis de encontrar. Que sorte nada disto ter importância.
No tempo dos CDs começaram a desaparecer-me discos em números alarmantes, e os empréstimos estão longe de explicar tudo. A senhora da limpeza não é suspeita: eu sei bem que estações de rádio ela sintoniza enquanto acaricia suavemente o pó, e não costumam dar Shostakovitch nem Cole Porter. Nem sequer Carl Orff.
Em vez de sonhar com as músicas perdidas, tento agora recuperá-las voltando a comprar os discos. Sinal de bem estar na vida, certamente. Mas nem sempre é fácil: nesta época de consumos rápidos, as reedições não são fáceis de encontrar. Que sorte nada disto ter importância.
terça-feira, julho 13
A fortuna
Quando as multidões iludidas estavam à espera de que Cristiano Ronaldo as deslumbrasse com a sua força de ataque no pobre Mundial que passou, eis que o rapaz vem surpreender o mundo num âmbito completamente ao lado dos toques na bola.
Primeiro foram as notícias de que era pai. Nos últimos dias o véu tem vindo a ser levantado: já não se fala só de mãe desconhecida, mas também de barriga alugada. O caso não é original mas o mistério reaviva-se: porque é que um homem desejado paga aqueles milhões para ser pai? E como acreditar que era mesmo isso que queria e que o faz sentir feliz, como ele lacónica e formalmente tem anunciado?
Cristiano está a mostrar ao mundo, simplesmente, como a fortuna lhe permite ser afortunado num sentido novo e subversivo. Não é para todos, mas está reservada a um punhado como ele, a possibilidade de separar brutalmente o sexo, como prazer, da função reprodutiva. De gozar as alegrias da paternidade sem ter de suportar por um só momento a alteração que uma gravidez provocaria na imaculada linha de anca da namorada ou amante. O poder do dinheiro vem assim fazer coro com os hábitos da natureza. O desperdício de fluido seminal é tão conspícuo como o pólen na primavera. O casamento de Ronaldo, quando for, não é para procriação coisa nenhuma. Está muito à frente.
Primeiro foram as notícias de que era pai. Nos últimos dias o véu tem vindo a ser levantado: já não se fala só de mãe desconhecida, mas também de barriga alugada. O caso não é original mas o mistério reaviva-se: porque é que um homem desejado paga aqueles milhões para ser pai? E como acreditar que era mesmo isso que queria e que o faz sentir feliz, como ele lacónica e formalmente tem anunciado?
Cristiano está a mostrar ao mundo, simplesmente, como a fortuna lhe permite ser afortunado num sentido novo e subversivo. Não é para todos, mas está reservada a um punhado como ele, a possibilidade de separar brutalmente o sexo, como prazer, da função reprodutiva. De gozar as alegrias da paternidade sem ter de suportar por um só momento a alteração que uma gravidez provocaria na imaculada linha de anca da namorada ou amante. O poder do dinheiro vem assim fazer coro com os hábitos da natureza. O desperdício de fluido seminal é tão conspícuo como o pólen na primavera. O casamento de Ronaldo, quando for, não é para procriação coisa nenhuma. Está muito à frente.
sábado, julho 10
96.6, onda em extinção
Soube ontem que o Rádio Clube acaba esta semana. Não fico muito surpreendido: a recente troca de frequência com a M80 já seria um prenúncio do fim agendado.
Em Portugal não há crítica de rádio. As estações debitam playlists ou palavreado, certamente há resultados de audimetria, mas não é claro quem gosta ou deixa de gostar ou por que desígnios algumas emissoras encerram e outras nascem ou se mantêm no ar.
Agora no lugar do RCP ressuscitam as músicas dos anos 60 e 70. Admito que se trate de resposta aos anseios de um nicho de audiência com núcleo forte nos velhotes que nunca mudaram de ideias nem de gosto na vida. Para mim é uma má notícia: O RCP foi uma estação de rádio diferente da cinzenta maioria das outras. Realizou com sucesso o projecto de ser uma rádio de conversa, o que não é coisa menor. A conversa no RCP era pelo menos mediamente interessante, às vezes inteligente e frequentemente bem humorada. O mesmo se pode dizer do comentário em política e economia.
Agora ficaremos, em vez disso, com mais um gira-discos. Em Portugal nunca tivemos uma Radio 4 ou uma France Culture. A conversa ficará a cargo das Antena 2+1 e da TSF, onde a programação com base na palavra oscila quase toda entre o pretensiosismo insuportável e umas intervenções institucionais tão suporíferas como a leitura do Diário da República. E destas não nos livraremos jamais. A nossa factura da electricidade e, talvez, a publicidade, cá estarão para lhes garantir longuíssimas vidas.
Em Portugal não há crítica de rádio. As estações debitam playlists ou palavreado, certamente há resultados de audimetria, mas não é claro quem gosta ou deixa de gostar ou por que desígnios algumas emissoras encerram e outras nascem ou se mantêm no ar.
Agora no lugar do RCP ressuscitam as músicas dos anos 60 e 70. Admito que se trate de resposta aos anseios de um nicho de audiência com núcleo forte nos velhotes que nunca mudaram de ideias nem de gosto na vida. Para mim é uma má notícia: O RCP foi uma estação de rádio diferente da cinzenta maioria das outras. Realizou com sucesso o projecto de ser uma rádio de conversa, o que não é coisa menor. A conversa no RCP era pelo menos mediamente interessante, às vezes inteligente e frequentemente bem humorada. O mesmo se pode dizer do comentário em política e economia.
Agora ficaremos, em vez disso, com mais um gira-discos. Em Portugal nunca tivemos uma Radio 4 ou uma France Culture. A conversa ficará a cargo das Antena 2+1 e da TSF, onde a programação com base na palavra oscila quase toda entre o pretensiosismo insuportável e umas intervenções institucionais tão suporíferas como a leitura do Diário da República. E destas não nos livraremos jamais. A nossa factura da electricidade e, talvez, a publicidade, cá estarão para lhes garantir longuíssimas vidas.
quinta-feira, julho 8
Sangre y goooool
Le tocó a Urdiales verse de frente con el primer Peñajara, que pasaba el envite, lo pasaba de largo, sin desalentarse, pero punto violento, descontrolado. En esa brusquedad rompía Urdiales plaza y se estrujaba los sesos para ver qué hacía ante el bruto. En los intentos de suavizar se le fue la faena que alivió rápido en el último tercio.
Mesmo para um conhecedor do idioma espanhol, a interpretação desta frase não é simples. Nesse grande país de contrários, que talvez exista nos corações até ao próximo domingo, há mais vida para além dos relatos de fútbol. Há as narrativas dos encierros, por exemplo, como os que nos últimos dias animam as festas de San Fermín em Pamplona. Claro que ontem as ruas ficaram desertas às 20.15 de lá, mas antes disso já tinha havido sangre y banderillas. Depois, foi a explosão do grito España! nas calles de muitas cidades, imprecando a Alemanha: ela que engula a crise.
Ontem só um pequeno país, situado na borda da Europa, fazia frente à arrogância do vizinho.
Mesmo para um conhecedor do idioma espanhol, a interpretação desta frase não é simples. Nesse grande país de contrários, que talvez exista nos corações até ao próximo domingo, há mais vida para além dos relatos de fútbol. Há as narrativas dos encierros, por exemplo, como os que nos últimos dias animam as festas de San Fermín em Pamplona. Claro que ontem as ruas ficaram desertas às 20.15 de lá, mas antes disso já tinha havido sangre y banderillas. Depois, foi a explosão do grito España! nas calles de muitas cidades, imprecando a Alemanha: ela que engula a crise.
Ontem só um pequeno país, situado na borda da Europa, fazia frente à arrogância do vizinho.
Senhora Transparência
Foi anunciada a formação de uma coligação de governo centro-direita na Eslováquia. Presidido por Iveta Radicova, que prometeu lutar contra a corrupção galopante (que frase original que acabo de escrever) num país onde o anterior chefe do governo tinha afirmado que, a escolher entre dois projectos de igual dimensão e interesse, não hesitaria em optar por aquele que fosse proposto por apoiantes seus. Uma afirmação inócua, afinal: o normal é escolher o projecto dos apoiantes mesmo que ele não tenha interesse nenhum ou seja até nefasto. (Deve haver por aí exemplos mas por acaso não me ocorre nenhum.)
O governo da Senhora Transparência prometeu estabilizar as finanças do país, contrariar o altíssimo desemprego (14%) e avisou na campanha eleitoral que os eslovacos estão a viver acima das suas possibilidades. Mas nem tudo serão rosas - vamos ver se o governo se aguenta, mesmo resistindo, como está também prometido, à legalização da marijuana e à generalização do casamento das pessoas que querem casar.
sexta-feira, julho 2
Survival of the Beautiful
Tem o fetiche de usar meias de rede? Não há problema, se você for boa. Mas se sofrer (sim, é esta a palavra) de pelo facial, dentes desalinhados ou, sendo homem, pelo nas costas ou uma parte essencial da anatomia encurvada, desista. Os critérios para engatar gente bonita são bem claros. Se não os cumprir, não faça drama: o que há mais por aí é sites de namoros a abarrotar de gente parecida consigo com quem até o acto de tomar um café deveria dar direito a uma indemnização. A gente linda esgotou a paciência e agora dispõe das suas zonas privadas na internet, defendidas do assédio dos feiosos, com cão de guarda a controlar as entradas.
Esqueçam-se as discriminações raciais ou de género. A que está aí, subterrânea e velada, é a do envólucro físico.
O caso é visto com um olhar muito sério quando a preocupação não é o relacionamento amoroso: há quem defenda a criação de leis contra a discriminação no trabalho com base no aspecto físico. O livro "The Beauty Bias" de Deborah Rhode conta que nos Estados Unidos 43% de mulheres com excesso de peso sentem-se estigmatizadas pelos patrões e que as gordas ganham em média 12% menos do que as que têm habilitações comparáveis. O sucesso da medicina estética confere à discussão a respeitabilidade que as preocupações sócio-económicas merecem, em contraste com a aparente futilidade do assunto. O mau aspecto físico andará afinal a par com a classe social: os feios são frequentemente mais pobres (menos dinheiro significa menos implantes, menos botox, menos lipo-aspiração).Discutível como é, a proposta de criar leis para defender os menos atraentes é de sucesso duvidoso. Que partidos ou lobbies vão querer assumir a causa de um grupo com o qual ninguém se vai identificar sem relutância? A coisa só pode interessar a quem ganharia com a subida de nível de litigância: os advogados (feios, bem entendido) que aqui encontrariam um nicho de actividade promissor.
Na verdade estas ideias podem reduzir-se a uma operação promocional da autora. Porque há outros números (felizmente, há sempre um estudo que nos dá alívio). Se gordura não é formosura, parece que pelo menos é felicidade, o que já não é mau.
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