O PÚBLICO conta hoje uma história "macabra e misteriosa" à volta do que descreve como "homicídio gay". As personagens principais são um chinês (a vítima) e "uma coisa estranha, nem carne nem peixe" (assim se refere a vizinhança ao presumível assassino). O título do artigo diz tudo mais rápido: "travesti". Mas a história tem pontos obscuros: começa por falar de "relação amorosa" entre vítima e suspeito, mas mais à frente diz que se tratou de "desavenças após actos sexuais", o que pode ser uma coisa completamente diferente. Enigmáticas as personagens secundárias, que se fecham num mutismo obstinado: a "estalajadeira" (termo poético que nos remete para outras épocas) e um "casal de empregados" do restaurante chinês na rua do crime. O casal abana a cabeça em simultâneo, por duas vezes, recusando falar, e vira costas "como uma equipa de natação sincronizada".
A redacção do artigo é interessante, mas tem palavras redundantes. A história contém informação suficiente para dispensar o uso de "gay" (ainda por cima aplicado ao crime, o que não faz sentido) e "travesti". A discriminação só terá terminado quando não for necessário colocar adjectivos. Senão, porque é que as personagens restantes não são tratadas por igual? Não estão em falta a tendência sexual da estalajadeira e a classificação sexológica do casal de empregados?
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