domingo, abril 26
Discurso político com patrocínio
sábado, abril 25
Estefânia
A redacção do artigo é interessante, mas tem palavras redundantes. A história contém informação suficiente para dispensar o uso de "gay" (ainda por cima aplicado ao crime, o que não faz sentido) e "travesti". A discriminação só terá terminado quando não for necessário colocar adjectivos. Senão, porque é que as personagens restantes não são tratadas por igual? Não estão em falta a tendência sexual da estalajadeira e a classificação sexológica do casal de empregados?
CHEmisolas
ser totó
A ministra da igualdade do governo polaco pretende criminalizar o uso de símbolos que evoquem regimes totalitários, englobando nazismo e comunismo. Se a lei viesse a ser aprovada, usar uma CHEmisola poderia dar prisão até dois anos. Faz mal a ministra. Primeiro, apagar símbolos não retira ideias, por mais absurdas que sejam, de dentro das cabeças. Segundo, o culto proibido fica mais apetecido e torna-se marca de "irreverência". Terceiro, as CHEmisolas são um pequeno triunfo do capitalismo: num regime comunista a desarticulação da produção nunca poderia ter correspondido à intensa procura. Além disso, parar a produção pode atirar algumas centenas de pessoas para o desemprego. Mais vale incitar a malta a informar-se sobre o homenzinho que os adolescentes de todas as idades gostam de levar no peito. Finalmente, quando o número de não crentes for suficiente para se tornarem consumidores credíveis, a indústria reinventará o ícone, produzindo CHEmisolas subversivas que poderão ser novo furo de vendas, criando novos postos de trabalho.
sábado, abril 18
Havia de ser cá
Por vezes qualquer tuga cai na tentação de desejar uma União Ibérica que lhe resolva os problemas que o estado tuguês deixa arrastar. Mas valerá a pena? Com a visão justificadamente pessimista que temos do nosso sistema judicial, pode pensar-se que talvez ficássemos mais bem servidos com o sistema espanhol. Mas cuidado, as primeiras impressões por vezes induzem em erro.
Duas cenas caricatas constituem o último desenvolvimento do folhetim macabro à volta do assassinato de Marta Castillo.
Cena um: Há dias Miguel, o presumível assassino da ex-namorada Marta, foi chamado ao juiz para este lhe ler cartas. Sim, uma dúzia e tal de cartas recebidas desde que se encontra preso e que ao que se sabe nada têm a ver com o processo. Imagine-se o luxo! Ter um juiz como leitor. O Miguel deve andar a rir-se da polícia, mas de certeza que se vivesse cá iria empalidecer quando lhe apresentassem a factura das custas.
Cena dois: Uma procuradora de Sevilha acaba de pedir a condenação da rede Telecinco a pagar uma indemnização de 100 000 euros a Rocio, a menina de 14 anos que é a actual namorada de Miguel e que foi selvaticamente explorada naquele rede para contar em directo tudo o que sabia sobre os acontecimentos da noite do crime. A exploração da menina teve a conivência da mãe, que aliás não foi incomodada pela procuradora, e que permitia lá em casa o acesso do Miguel à cama da filha. Pobre Rocio, a justiça vai repará-la do mísero punhado de trocos que possivelmente a Telecinco lhe pagou. No meio disto, que interesse tem Marta, além de ser a personagem morta desta novela? O centro de gravidade do protagonismo deslocou-se. Rocio é rapariga de sorte: namorar o Miguel pode dar direito a acabar num contentor ou no fundo do Guadalquivir, conforme os dias e a versão em voga, mas também pode ser fonte de grandes proventos. Se fosse por cá não teria tanta sorte. Com o que aí se anuncia, esta indemnização, a ser recebida, iria logo ser considerada enriquecimento ilícito por outro procurador qualquer.
Duas mulheres
A da esquerda é Delara Darabi. Será enforcada amanhã no Irão. A da direita é Roxana Saberi, jornalista iraniano-americana, que acaba de ser condenada a oito anos de prisão por espionagem.
A história de Delara tem mais drama e romance. Aos 17 anos colaborou com o namorado no assalto à casa de uma prima, que acabou morta com uma facada. Assumiu a culpa para ilibar o namorado, convencida de que não seria condenada por ser menor. Apesar de provas posteriormente apresentadas, o tribunal manteve a condenação: a facada foi desferida por um dextro e Delara é canhota. No sistema judicial iraniano as provas contam menos que a intuição dos juízes.
(Notícia do Corriere.)
sábado, abril 11
O taliban dentro de nós
A intoxicação
Mas nem tudo é claro neste manifesto de lugares comuns. Deplora-se que "os direitos conquistados durante gerações, pelos trabalhadores", sejam "gradualmente postos em causa" e o facto de que as "classes trabalhadoras foram progressivamente intoxicadas pela compulsão consumista". Ora os dias felizes do consumo foram proporcionados pelos direitos e melhorias de vida que os trabalhadores adquiriram neste sistema deplorável. Ou estarão os subscritores a referir-se a direitos conquistados sob o regime soviético, castrista, chinês ou norte-coreano? É que ao mesmo tempo "clamam por novos paradigmas comportamentais e políticos". Em que ficamos? Os subscritores deste apelo parecem simpatizar discretamente com modelos de sociedade onde as "conquistas" se resumem às parangonas dos jornais oficiais e onde não há riscos de "intoxicação consumista" porque não há assim tanto que consumir. Na sociedade perfeita para estas pessoas o consumo é um privilégio que lhes deve estar reservado: com os seus salários ou reformas confortáveis podem viajar, comprar apartamentos e automóveis sem dores de cabeça. E olham com compaixão a ralé que se esfalfa a trabalhar, pagando ivas e etc pelo meio, para conseguir, quando consegue, pagar a prestação da casa e do televisor panorâmico comprado a crédito.
sexta-feira, abril 10
Um francês em Paris
Naturalmente, houve tentativas de classificar o video como falsificação racista, mas nada a fazer: está verificada a autenticidade e fica a consolação de chamar "de extrema direita" aos sites que o divulgaram. Entretanto estão em marcha um processo ao polícia de quem se suspeita que partiu a divulgação das imagens, e um apelo a acções de apoio ao agente.
O detalhe interessante é que o violento episódio tem já quatro meses. Muitos se interrogam se um caso destes, com as cores ao contrário, aguentaria esta eternidade sem saltar para a internet, e mesmo para os jornais e as tvs.
O YouTube eliminou o violento filmezinho por razões de "violação das condições de utilização". Por enquanto pode ver-se aqui, se houver paciência para esperar, porque o site está entupido com visitas.
Actualização: O jovem vítima da agressão deu hoje entrevista ao Figaro. É interessante lê-la. Fica aqui um excerto com sublinhados acrescentados:
Des sites Internet affirment que des injures raciales auraient été proférées à votre encontre…
Personnellement, je n'ai rien entendu de la sorte. Ces propos, s'ils ont été dits, interviennent dans un contexte où mes agresseurs étaient drogués ou ivres. Par ailleurs, ils n'étaient pas tous issus de l'immigration. La vidéo de mon agression apparaît comme très stéréotypée car, ce soir-là, je suis habillé de façon bourgeoise et je suis face à quatre jeunes qui faisaient beaucoup de bruit. En aucun cas, je ne veux passer pour l'incarnation d'une certaine image sociale qui aurait été prise à partie par des étrangers. Je ne l'ai pas ressenti comme cela. L'un des assaillants en survêtement, rasé, avait d'ailleurs une couleur de peau très pâle…
quinta-feira, abril 9
Moctezuma em edição revista
segunda-feira, abril 6
Desastre no Abruzzo
Há semanas que Giampaolo Giuliani, investigador do Istituto Nazionale di Fisica Nucleare, vinha alertando para a forte possibilidade de um sismo violento. Giuliani sustenta que se podem prever os terramotos: a pista são as fugas de radon da crusta terrestre. Há dias foi acusado de alarme intencional pelo chefe da protecção civil, Guido Bertolaso. Giuliani espera agora desculpas.
É claro que o alarme num tal caso pode levar a situações de perigo e a deslocações de população que podem revelar-se inúteis, mas fazer de conta que não é nada pode ser igualmente perigoso. A dúvida sobre o grau de rigor da previsão pode justificar que se desvalorizem os avisos, mas infelizmente a tragédia de hoje em Itália vem mostrar que pode valer a pena escutar os peritos.
Faz sentido um governo financiar institutos e laboratórios e não dar crédito algum aos resultados da investigação que lá se desenvolve? Depende da avaliação que dela faça. Bertolaso sustenta que os factos não eram previsíveis e que consultou os melhores especialistas de engenharia sísmica em Itália. Giuliani teima que sim, que eram previsíveis. Uma questão científica não resolvida a juntar ao drama.
Mais realisticamente, caberá discutir responsabilidades pela qualidade da construção. Edifícios novos, como o hospital e a casa do estudante, sucumbiram como as construções medievais. Fala-se de fazer legislação mais apertada para normas anti-sísmicas. Apertada ou frouxa, quem irá garantir o seu cumprimento?
(Imagem: La Repubblica. O epicentro)
quarta-feira, abril 1
Pressão, um novo paradigma
Ontem, ao fim do dia, o tema das pressões continuava em alta e parece estar a tornar-se endémico.
Ainda bem que todas estas declarações foram feitas ontem. É que se fosse hoje poderíamos não acreditar em nada.
Por outro lado, uma procuradora vem propôr o mote para vários silogismos que podemos entreter-nos a construir. Mas parece-me que ela passa ligeiramente ao lado da questão: mais do que afirmar que magistrados corajosos não são pressionáveis, pertinente será perguntar se magistrados não corajosos podem cair na tentação de pressionar.