domingo, março 9

Avaliações




A ministra da educação tem a missão de reduzir o número global de professores e em particular o dos que ascendem aos escalões mais altos, porque o orçamento é limitado. Mas não basta controlar o número de titulares. Os factos sugerem uma interpretação: é necessário transformar a vida na escola num inferno para provocar a debandada dos que estão mais próximos da reforma e dos menos aptos para a competição. O processo de avaliação posto em marcha cumpre perfeitamente os objectivos.

Depois do horário alargado e das inúteis aulas de substituição (que obrigavam já a queimar tempo na escola, com poucas condições para o aproveitar eficazmente), as inúmeras reuniões e preenchimentos de “grelhas” indecifráveis são a gota de água que fez saltar a tampa aos professores. Não se trata apenas de serem “avaliados”, mas também de serem submetidos a uma tortura burocrática que lhes invade todo o tempo disponível ao mesmo tempo que parece tratá-los como idiotas.

Só com uma concentração mental de grande intensidade se conseguirá dar resposta ao inquérito que inclui, para cada docente, parâmetros com subtis cambiantes diferenciais que a própria linguagem se vê aflita para nomear. Exemplo:

-Correcção científico pedagógica e didáctica da planificação das actividades lectivas
-Adaptação da planificação e das estratégias de ensino e aprendizagem ao desenvolvimento das actividades lectivas
-Adequação das estratégias de ensino e aprendizagem aos conteúdos programáticos, ao nível etário e às aprendizagens anteriores dos alunos
-Cumprimento dos objectivos, orientações e programas das disciplinas ou áreas curriculares leccionadas
-Diversidade, adequação e correcção científico pedagógica das metodologias e recursos utilizados


A maioria destes parâmetros não existe senão como invenção estruturalista. Por isso, atribuir classificações de acordo com este modelo pode acabar por ter resultados tão significativos como classificar os professores pela altura ou o peso corporal.

Durante anos, os professores -- e as suas associações e sindicatos -- engoliram e aplicaram este paleio nos mais variados relatórios, sem fazerem escândalo. Claro que os que conseguiram manter a sanidade mental iam-se rindo. Desde os tempos da senhora Benavente, pelo menos, proliferaram parâmetros de inspiração semelhante, utilizados para mascarar os maus resultados na avaliação dos alunos. Agora como então, o ministério pede à Escola que finja avaliar os alunos e recomenda sob ameaças que as retenções devem ter um carácter excepcional. Só que agora o mesmo ministério resolveu avaliar os professores, recomendando que o sucesso seja excepcional. A brutal diferença está aqui.

Como efeito colateral, o método implantado veio tornar impossível ensinar, mas também já há muito tempo que não se pede aos professores que ensinem. Desprestigiados e humilhados pelo poder da 5 de Outubro, enfraquecidos perante os alunos quer por declarações públicas quer por normas aviltantes, usando a gíria dos burocratas, nem se trata propriamente de “professores”; foram transformados em “educadores”, uma síntese que inclui competências de ama-seca, psicólogo e bombo de uma festa qualquer para manter felizes os meninos. E em tempo de vacas magras há que reduzir os serviçais.

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