Durante muito tempo, em conversas amenas, costumava escarnecer dos estruturalismos que considerava ocos. Agora estou cada vez mais rendido à força devoradora das palavras, que deixam de o ser para se imobilizarem, petrificadas, na digestão dos objectos de que se apropriaram.
Ontem, numa entrevista de tv, Ruben de Carvalho comentava que as muitas candidaturas de "esquerda" são a prova da vitalidade da "esquerda".
Durante a última campanha presidencial, muitos preveniam contra o autoritarismo, o "fascismo" até, que aí vinha pela mão do candidato que acabou por ser eleito.
Quando Salazar ganhou um pífio concurso de tv, virgens ofendidas disseram cobras e lagartos do estado da democracia.
Quando, na realidade, um fascismo pequeno e subtil ensaia passos de lã, ele dificilmente é reconhecido, porque afinal vem trazido pelos que têm o monopólio do uso de rótulos anti-fascistas.
"Esquerda", "fascismo"... palavras que deixaram de o ser, para se tornarem obcessões que habitam as mentes paradas num tempo e num lugar.
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1 comentário:
Correcção: onde está "obcessões" deve ler-se "obsessões". De nada!
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