Um dos sintomas do retrocesso que certo "pós-modernismo" representa é a colagem infantil ao concreto e circunstancial, desprezando a capacidade de abstracção que faz parte da nossa estrutura e natureza.
Por exemplo, no ensino pós-moderno da matemática, as recomendações pedagógicas da moda pretendem que, sistematicamente, cada novo conceito seja ancorado na experiência particular do aluno. Se isto é razoável e até necessário em muitos casos, não o é por sistema; o resultado é o empobrecimento dos conteúdos, dos quais tudo o que exija uma pitada de abstracção vai sendo relegado para um plano secundário, privando os estudantes de desenvolver a capacidade de lidar com o abstracto.
Na arte contemporânea o vício do concreto está bem à vista em obras ditas de arte conceptual, que normalmente reproduzem soundbytes de uma ideologia ou tendência política que nada de novo traz à arte em questão. O vício propagou-se nas últimas décadas ao teatro e à ópera. O mais recente e mediatizado exemplo é dado pela encenação do "Candide" por Robert Carsen, que abriu um conflito com a direcção do Scala por causa da cena espúria em que actores em cuecas ridicularizam determinados líderes políticos do momento. Defende-se Carsen dizendo que "o público do Scala é suficientemente sofisticado para compreender os objectivos de Voltaire". Que falha de raciocínio! Quanto mais sofisticado é o público, menos deverá necessitar de ilustrações rasteiras para uma mensagem dotada de uma certa universalidade.
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