segunda-feira, julho 10

Ensaio sobre uma teoria de conspiração

Concluiu-se, com menos alarido que previsto, a visita do Papa a Espanha. Claro que houve fortes sublinhados sobre o papel da família baseada na união de um homem e uma mulher, mas nada de condenações explícitas nem censuras nítidas aos dirigentes políticos. As palavras de Bento XVI, de que os anátemas estiveram ausentes, terão sido até menos incisivas que algumas declarações do porta voz dos lusobispos no que toca aos temas fissurantes (estou farto da outra palavra) que sabemos.

Uns minutinhos de reflexão são suficientes para concluir que o Papa não se deu à maçada de ir a Espanha para pregar contra o casamento unisexo e as uniões de facto. Essas formas de acasalamento com reconhecimento recente têm evidentemente uma grande importância simbólica, mas são apenas mais um elemento de desvio das sociedades ocidentais em relação aos padrões de comportamento que a Igreja Católica gostaria de ver respeitados. Como cada um já vive praticamente como quer (ou pode), pondo o bem estar material (onde o sexual se inclui), e o gozo dos mil e um brinquedos à disposição, à frente do fardo biológico de criar e educar meninos, a indiferença às normas da doutrina já está mais que enraizada. Não há nada a fazer, e uma pessoa bem educada e reflectida como Bento XVI sabe-o muito bem.

Mas então, se não foi a Espanha para proferir palavras duras ou para guerrear com Zapatero, qual é o alcance da viagem? Poderá dizer-se que seria o de dar algum alento às hostes de fieis em declínio. Pouco alento, já que parece que eles esperavam mais.

Eu tenho uma teoria: o Papa foi na verdade lançar um aviso aos praticantes do casamento unisexo e da união de facto, sim, mas procurando zelar pela sobrevivência dos interessados. Observador atento do espectro que ameaça a Europa, Bento sabe que empurrar as pessoas para as novas formas de compromisso registadas em papel é oferecer uma mão cheia de alvos para a prática da degolação a um prazo não muito distante. Não é preciso esperar pela adopção da sharia nos nossos sistemas penais: basta que, por força da demografia e das contínuas cedências, as administrações das cidades europeias fiquem parcialmente nas mãos de islâmicos moderados, que se verão obrigados a aplacar o tédio das milícias de serviço fornecendo-lhes listas de pecadores. Gente ansiosa de nos ensinar a virtude segundo o Corão não faltará, e os métodos serão bem mais persuasivos que os do Papa.

Claro que este enorme risco não ocupa a cabeça dos porta-bandeiras profissionais, interessados apenas em marcar terreno e angariar uns votos nas franjas bem pensantes e distraídas. São eles os que se ajoelham perante exigências crescentes de dirigentes religiosos fanáticos e que fazem cara de indignados quando as críticas atingem o islão.

Comparados com os tempos de horror que hão-de vir, a homofobia das bandas pop jamaicanas, que apenas por palavras reclama o afogamento dos depravados, há-de deixar saudades. Entretanto, os idiotas úteis vão-se deleitando, para já, com a anunciada revolução nos costumes sexuais em Cuba, liderada por Mariela Castro, funcionária-sobrinha do dinossauro. O entusiasmo com o engodo de maior compreensão da homossexualidade, num país onde não há liberdade para escrever um blog, só pode ser sintoma de cegueira ou idiotia.

1 comentário:

Nino disse...

Os bem pensantes serão forçados a emigrar um dia para a terra do inimigo. Do outro lado do Atlântico.