Uma das peculiaridades que mais me fascina no uso corrente da língua portuguesa é a riqueza de significado que o verbo "meter" adquire quando conjugado na forma reflexa. Exemplos:
"Eu bem gostaria de lhe dar o documento pronto na semana que vem, mas olhe que mete-se o carnaval."
"Tanto que eu precisava de fazer uma grande arrumação lá em casa, mas agora mete-se o natal e claro que não vou conseguir."
"Olhe que o sr doutor na quinta feira não tem consulta e a seguir metem-se os feriados. Pode ser para o fim do mês?"
"Eu posso ir lá fazer o orçamento, mas olhe que agora mete-se o verão e se calhar só lhe consigo ter isso pronto em setembro."
Como já todos viram, a palavrinha é aplicável a todo o tipo de actividades, das mais públicas às mais privadas, e parece tão nossa como pensamos que a saudade o é. Aquele singelo "se", afastando o sujeito da acção para bem longe de quem a (não) pratica, é um milagre da linguagem que transfere culpas, que nos deixa tranquilos ao justificar o adiamento do que urge fazer.
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2 comentários:
A língua serve os nossos intentos, por isso a manipulamos a nosso favor.
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