domingo, junho 19

Lata e agit prop

Sindicatos de professores apelam a uma greve (de professores e educadores) nos próximos dias, pelo que a realização de vários exames nacionais poderá ser afectada. Sindicatos de juizes e magistrados (!!!), mencionam a possibilidade de uma greve que poderá afectar a constituição formal de listas para as autárquicas (o que poderia até ser um subproduto positivo). Queixam-se de trabalharem mais horas do que as que lhes são exigidas.

Juizes são juizes e professores são professores. As responsabilidades são distintas. Mas as reivindicações despropositadas são comuns. Ainda recentemente professores se queixavam do acréscimo de trabalho representado pela correcção dos exames!

Por acaso ficamos também a saber hoje, através do PÚBLICO, que este ano, nas escolas do 3º ciclo, os professores se esforçaram por cumprir os programas porque há exames nacionais. E que, no Tribunal Constitucional, um documento de jurisprudência de uma (1) página demorou mais de dois anos a ser produzido.

Para falar de um grupo profissional com conhecimento de causa, consideremos o caso dos professores universitários. O cumprimento das várias funções que deles se esperam exige, obviamente, muitas horas de trabalho para além das que passam nas aulas ou nos seus gabinetes. Exige frequentemente a ocupação de fins de semana, feriados, pontes e férias. Mas, dado o salário que auferem, seria imoral que se limitassem ao cumprimento burocrático de um horário de presença. (Claro que estou a escrever em abstracto; sei bem que há professores em certas faculdades que nem se preocupam em ter disponibilidade para atendimento e orientação de estudantes.) Os profissionais pagos pelo orçamento de estado, com estatutos mais ou menos privilegiados e salários por vezes muito distanciados do que recebe o trabalhador português médio, deviam ter pudor em falar de horários exigentes e em pronunciar a palavra greve.

Os jornais, rádios e tvs costumam ter uma atitude comodista ao abordar as reivindicações destas e outras classes sacrificadas. Seria interessante, embora raramente ou apenas ao de leve isso seja aflorado, confrontar o caso português com o de outros países europeus: quantos destes ou daqueles profissionais existem em relação com o número de habitantes? como se acede à carreira ou a escalões superiores ou como é avaliado o desempenho? como se comparam os valores do salário? Talvez houvesse algumas surpresas no confronto com estes dados. Talvez a vulgata dos coitadinhos e mal pagos ficasse comprometida. Ou não. Mas seria interessante conhecer.

No caso dos professores, até compreendo a frustração de muitos cujos planos de reforma estão agora gravemente comprometidos. Mas a sua ira e surpresa perante as medidas de Sócrates não abona muito a favor das "competências" (como muitos gostam de dizer) que supostamente deveriam ter para compreender e interpretar sinais no mundo em que vivem.

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