domingo, agosto 18

No Egipto

A União Europeia, pela voz de algum funcionário triste, vai hoje anunciar que o seu relacionamento com o Egipto vai ser revisto. A UE está preocupada com a "violência" e gostaria de "impulsionar o processo democrático".

Há pelo mundo fora uma grande preocupação com o que se passa no Egipto. Nos Estados Unidos, a administração -- que assistiu com o enlevo dos ingénuos à entronização de Morsi por meios democráticos -- evita agora pronunciar-se sobre o que é que exactamente mais a preocupa. O simpático papa Francisco apela à oração pela reconciliação das partes em confronto -- uma maneira de perder tempo que não prejudica ninguém.

No Egipto, onde se presume que está a maior parte das pessoas verdadeiramente preocupadas, cada facção sabe bem as razões da inquietação, mesmo se não sabe bem o que quer. Vastas camadas da população, com aspirações laicas, não querem os Irmãos a dizerem-lhes como devem viver. E se fosse só isso... Não querem os grupos armados ligados à Irmandade a aterrorizar e a violar. Os coptas, essa imensa minoria, não querem ser perseguidos nem ver as suas igrejas queimadas. Os generais, que tomaram a iniciativa de depor Morsi, sabem bem que o que os espera no caso de a Irmandade recuperar o comando: a fúria da religião de paz não irá poupá-los nem usar branduras. As várias tribos muçulmanas que ocupam os lugares de poder no Médio Oriente, prosseguindo a tradição de ódio e extermínio mútuo, diversificarão o apoio às facções e complicarão a diplomacia ocidental, que irá disfarçando preocupações e desejos escondidos, sempre com o credo da democracia (formal) na boca.

Nem os extremistas islâmicos no Egipto, nem os generais, esperarão muito dos Estados Unidos (da UE não vale a pena falar). Os dois campos têm boas razões para se sentirem abandonados. E neste quadro de insucessos nem as operações de propaganda e vitimização da Irmandade terão grande sucesso, apesar de uma imprensa que lhes dá apoio tácito ou explícito. Poderão encenar massacres mas estarão a representar para o boneco. Na ausência de um Bush na Casa Branca,  o protesto e a piedade da intelligentsia ocidental não irão fazer-se ouvir.


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