segunda-feira, agosto 26

Os aristocratas vermelhos

Há agora novos elementos para completar o drama de Gu Kailai e Bo Xilai.

Está a terminar o julgamento de Bo Xilai e o procurador pede um castigo exemplar para o popular dirigente comunista caído em desgraça por corrupção, abuso de poder e encobrimento de crime de sangue. De acordo com os relatos, o julgamento foi fértil em cenas de teatro e reviravoltas. Gu Kailai testemunhou, em formato vídeo, contra o marido, dando a entender que ele estava ao corrente da origem dos milhões e dos bens presenteados à família. Essa mulher está louca e além disso sempre foi muito mentirosa! terá gritado mais ou menos assim Bo Xilai. Ela acusa-me para se vingar de eu lhe ter sido infiel!

Bo Xilai encenou uma defesa cerrada e cheia de surpresas. Declarou também que o verdadeiro motivo da fuga do seu subordinado Wang Lijun é que ele estava apaixonado por Gu.

As dicas são novas mas um argumento credível que conte toda a história está ainda em aberto.




domingo, agosto 18

No Egipto

A União Europeia, pela voz de algum funcionário triste, vai hoje anunciar que o seu relacionamento com o Egipto vai ser revisto. A UE está preocupada com a "violência" e gostaria de "impulsionar o processo democrático".

Há pelo mundo fora uma grande preocupação com o que se passa no Egipto. Nos Estados Unidos, a administração -- que assistiu com o enlevo dos ingénuos à entronização de Morsi por meios democráticos -- evita agora pronunciar-se sobre o que é que exactamente mais a preocupa. O simpático papa Francisco apela à oração pela reconciliação das partes em confronto -- uma maneira de perder tempo que não prejudica ninguém.

No Egipto, onde se presume que está a maior parte das pessoas verdadeiramente preocupadas, cada facção sabe bem as razões da inquietação, mesmo se não sabe bem o que quer. Vastas camadas da população, com aspirações laicas, não querem os Irmãos a dizerem-lhes como devem viver. E se fosse só isso... Não querem os grupos armados ligados à Irmandade a aterrorizar e a violar. Os coptas, essa imensa minoria, não querem ser perseguidos nem ver as suas igrejas queimadas. Os generais, que tomaram a iniciativa de depor Morsi, sabem bem que o que os espera no caso de a Irmandade recuperar o comando: a fúria da religião de paz não irá poupá-los nem usar branduras. As várias tribos muçulmanas que ocupam os lugares de poder no Médio Oriente, prosseguindo a tradição de ódio e extermínio mútuo, diversificarão o apoio às facções e complicarão a diplomacia ocidental, que irá disfarçando preocupações e desejos escondidos, sempre com o credo da democracia (formal) na boca.

Nem os extremistas islâmicos no Egipto, nem os generais, esperarão muito dos Estados Unidos (da UE não vale a pena falar). Os dois campos têm boas razões para se sentirem abandonados. E neste quadro de insucessos nem as operações de propaganda e vitimização da Irmandade terão grande sucesso, apesar de uma imprensa que lhes dá apoio tácito ou explícito. Poderão encenar massacres mas estarão a representar para o boneco. Na ausência de um Bush na Casa Branca,  o protesto e a piedade da intelligentsia ocidental não irão fazer-se ouvir.


sexta-feira, agosto 16

Leituras alienígenas

 
Costumo sentir-me bem dentro das livrarias. Mas tive uma experiência insólita um destes dias numa, digamos assim, livraria. O relance rápido do olhar pelas estantes, em busca de títulos que apeteça levar para casa, terminou com uma estranheza pouco comum: nenhum livro comunicava comigo. Como se eles e eu estivéssemos em planetas diferentes. A voo de pássaro, digamos que em primeiro lugar se escancarou à minha frente um livro com os pensamentos e o universo de Paulo de Carvalho. Depois, em destaque no expositor,  um outro com o subtítulo "A nova Terra - uma revolução política, económica e ambiental" e com a seguinte advertência na capa: "um livro que o poder económico e político não quer que seja lido mas que todos o devem ler" (sic). Mais à frente, a obra de ficção  "Cristiano, paixão irresistível", com um enredo que se anuncia tórrido: Cristiano é um padre jovem, atraente, irreverente e revolucionário, admirado pelas donzelas. Por ele se apaixona uma catequista (belíssima). Ele resiste com elegância à tentação da carne ao mesmo tempo que combate o fariseu Epaminondas. Nesse quadro de emoções emerge a cidadania como pano de fundo. Não sou eu que digo. Eu não invento nem uma palavra.
 
Termino declarando que aceito sem choque o facto de haver leitores para estes livros e todos os outros que lá estavam.



Universidades: Rankings 2013

Foram publicados os últimos rankings de universidades ARWU2013.
As universidades portuguesas surgem no rank geral pela ordem seguinte.
Universidade de Lisboa* 301-400
Universidade do Porto 301-400
Universidade Técnica de Lisboa* 401-500
Universidade de Coimbra 401-500
(*nomes antes da fusão realizada em 2013)

A Espanha surge com três universidades no rank 201-300, pela seguinte ordem:

Universidade Autónoma de Barcelona
Universidade Autónoma de Madrid
Universidade Complutense de Madrid

No ranking por áreas específicas (onde se listam os primeiros 200 lugares), apenas a Universidade do Porto e a Técnica de Lisboa aparecem, em Engenharia/Tecnologia e Informática (151-200).

Por curiosidade, verifiquei que várias universidades espanholas surgem nos primeiros 200 lugares na área de Matemática. A melhor classificada é a Autónoma de Madrid (51-75) e a última a aparecer é a de Santiago de Compostela (151-200).

segunda-feira, agosto 12

O amor à beira de um penhasco


Quando o enredo da Béatrix de Balzac vai a meio, o amor do jovem Calyste é disputado pelas duas mulheres que comandam a acção: a madura e sofisticada Camille, que tanto tem para ensinar a qualquer rapaz que lhe saiba dar o valor, e a fresca e deslumbrante Béatrix, cujos atractivos físicos dispensam atributos suplementares. Béatrix tem um amante de quem não tenciona separar-se, mas mesmo assim gosta de se sentir desejada. Calyste enamora-se de Béatrix com a intensidade com que isso acontece aos vinte anos.

Durante um passeio junto ao mar da Bretanha, Calyste pretende arrancar de Béatrix palavras de amor correspondido. Mas ela nega-se e previne que para ele não poderá passar de um sonho. Num momento de loucura, Calyste grita-lhe que se não o quer a ele, também não pertencerá a nenhum outro, e empurra-a de um penhasco para o mar.

O vestido, enredado numa ponta de rochedo e na vegetação, salva Béatrix da queda. Calyste cai em si e resgata-a, com risco de também ele se despenhar. Toda a cena é presenciada por Camille, que enquanto limpa uma lágrima se lamenta a Calyste: A mim não me terias tu lançado ao mar, não!

quarta-feira, agosto 7

Adeus, Jorge

A mentira é ingrediente indispensável de uma boa história de ficção. É a partir da mentira do mau da fita que o plano do herói para o desmascarar e repor a justiça se desenrola com método, com surpresas e até com recuos que por fim se invertem e dão passagem à verdade triunfante.

A mentira é também muleta a que se recorre na vida de todos os dias, para o bem e para o mal. Tratando-se de política, a mentira é conspícua, mesmo que por vezes não haja provas à disposição.  Por vezes chama-se-lhe diplomacia. Se em alguns casos é compreensível e podemos encolher os ombros, há outros em que não pode ser ignorada, dependendo da substância do seu conteúdo e da posição e das responsabilidades do mentiroso. Há algum tempo, pessoas simples não lhe davam a devida importância. Ainda bem que o mundo mudou. Vamos ver quanto tempo se aguenta sem uma recaída.

Actualização: o enredo afinal é menos trivial do que pareceu de início. Possivelmente há mais do que um mentiroso e fala-se também de documentos falsificados. Pelo caminho, fica-se com a impressão de que para a SIC o primeiro ministro não é quem parece.

domingo, agosto 4

Onde está a Curiosity?

Faltam menos de dois dias terrestres para se completar um ano terrestre sobre a aterragem da Curiosity em Marte. Entre os dias marcianos 349 e 351 avançou uns 80 metros. O trajecto é actualizado aqui. E Marte, por onde anda? Por estes dias está a cerca de 358 milhões de km da Terra.

Mistérios da vida por assim dizer política

Um dos escândalos mediáticos dos últimos dias em Espanha é a libertação de um "pederasta espanhol", preso em Marrocos, incluída num pacote de indultos por ocasião da visita do rei de Espanha ao país. Hoje aparece nos jornais a indignação do PSOE a exigir explicações ao governo pelo equívoco. O que aqui é interessante é que o PSOE é o partido que no governo legislou para que adolescentes pudessem esconder aos pais uma gravidez, para baixar a idade de consentimento para os 13 anos e que, já agora, tem na presidência da sua secção basca um homem que foi condenado por agressões físicas à esposa.

Tanto como a lata e a agressividade militante dos partidos, pode surpreender-nos a sua inacção ou cobardia, ou aquilo que pelo menos parece uma dessas poses. Ainda olhando para Espanha, tem sido notório o fogo sobre o governo e o PP com base nas trafulhices de contabilidade do partido. Ora, as trafulhices dos EREs que envolvem sindicalistas, deputados e dirigentes do PSOE, desvios de dinheiro numa escala maior do que a dos papeis de Bárcenas, e configuram uma situação de maior imoralidade, não têm recebido nem um décimo da atenção ou da gritaria. Nem o PP tem feito nada que se veja para contra-atacar. Lá terão as suas razões, e boas não podem ser.

sábado, agosto 3

Simplex

Chavez, altamente

No passado domingo, na Venezuela, foi criado por decreto presidencial o Instituto de Altos Estudos do Pensamento de Hugo Chávez.
A iniciativa mostra que o governo venezuelano dá muita atenção à cultura e, incidentalmente, aviva as memórias para o facto de que Hugo pensava.
Já estou a imaginar frutuosas colaborações de investigadores tugueses com o Instituto, onde venderão uns cursos e charlas.
Uma previsão bem humorada do que poderia ser um plano de estudos no novíssimo instituto pode ser encontrado aqui. Gosto especialmente das cadeiras Teoria da Expropriação e Estatística Maquilhada I, II e III.