Já fora do tempo, vi recentemente o filme muito apreciado de João Canijo "Sangue do meu sangue". Gostei de algumas coisas mas não tanto de outras.
Gostei do trabalho dos actores, excelentes, com excepção do "Beto", que parece estar noutro filme. Diga-se que a inconsistência da personagem, e do que lhe está atribuído no enredo, não ajudam nada. Gostei do realismo logrado na elaboração dos diálogos (excepto cenas com Beto) e na utilização da câmara "cusca", mas parte do efeito fica perdido na dicção frequentemente incompreensível e nas cenas sobrepostas, denunciando que o filme foi pensado para festivais internacionais onde é projectado com legendas. Fica o retrato razoavelmente conseguido de uma fauna de bairro pobre que a inteligentsia contempla com um misto de culpa e enlevo e que garante o sucesso relativo do filme. E sobra um problema grande: o enternecimento com que o Bairro nos é mostrado é destroçado pelo esquema fácil que rebenta com o argumento do filme. Refiro-me à paternidade do amante. É piroso demais. Por outro lado, depois do tiro as personagens são abandonadas logo ali à sua sorte. Fiquei com a impressão incómoda de que os habitantes do Padre Cruz mereciam um argumento menos preguiçoso. No entanto, depois de mais de duas horas onde há um punhado de cenas de bom nível artístico e técnico, ficamos com a impressão de realmente ter visto um filme. É este o segredo do sucesso.
A foto é do Luxury and Lust.
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