segunda-feira, março 5

O paradoxo gramatical de João e Maria

Uma das derivas mais fascizantes do politicamente correcto é a tentativa de policiar a linguagem.

Entre nós, por enquanto não se tem passado da idiotia pleonástica do portugueses e portuguesas, trabalhadores e trabalhadoras, abundantemente utilizada desde Guterres, se não erro, e copiada com muito gosto pelos dirigentes do PCP. Mais recentemente tivemos também umas frases de origem difusa que metiam presidentas.

Em Espanha, para obviar ao problema da invisibilidade da mulher, surgiram nos últimos anos vários guias de linguagem não sexista. Ali a coisa é a sério, contou com o apoio do Ministério da Igualdade e mobilizou as autonomias, partidos, sindicatos e, claro, universidades, lugares que se prontificam a dar guarida e apoio a uma mão cheia de ideias lastimáveis.

A Real Academia Espanhola, depois de anos de silêncio, decidiu agora intervir publicamente com uma crítica fundamentada. Para além de inestética e criadora de embaraços gramaticais inúteis, a linguagem não sexista, chamemos-lhe assim de acordo com os promotores, incorre no vício despótico de aprofundar o fosso entre a linguagem da gente normal e a língua dos burocratas e redactores de documentos oficiais.

O controleirismo linguístico põe-se a jeito para questões difíceis e com alguma comicidade. Qual será a maneira não-sexistamente correcta de dizer João e Maria vivem juntos? Se há dirigentes dos dois sexos numa dada organização, está certo afirmar os dirigentes virão ao jantar acompanhados das suas mulheres? Este e outros quebra-cabeças para a gramática e para os ditadores do discurso estão analisados no interessante artigo de Ignacio Bosque publicado no El País.

1 comentário:

Nelson Mendes disse...

Julguei que fosse piada no El País...