segunda-feira, outubro 31
Os casos da vida real: um problema de sentido
Independentemente da justiça formal, as pessoas comuns elaboram, sobre os casos de notícia, os seus juízos de acordo com as intuições próprias, com o "senso comum" (tantas vezes invocado nas actas dos julgamentos como suporte à convicção do tribunal). O caso Duarte Lima, embora com a peculiaridade de envolver um crime de sangue, portanto de natureza especialmente grave, tem uma característica comum com casos recentes que envolveram figuras políticas nacionais de destaque em actos que somos levados a entender como de corrupção, alguns dos quais com investigação incompleta ou interrompida. Essa característica tem uma natureza muito simples e milita contra os susceptíveis de suspeita. Trata-se do facto de a peça acusatória - ou, nos casos referidos, os elementos que foram dados a conhecer publicamente - encerrarem uma coerência e um sentido que são difíceis de rebater. (Ainda mais no caso DL, por ter sido objecto de investigação aprofundada.) Daí a ineficácia, perante a opinião pública, das vagas desculpas até agora dadas em todos os casos. Seria preciso encomendar ao melhor argumentista de policiais um enredo credível para substituir a versão que corre. Tarefa gigantesca, porque o real não se deixa bater facilmente pela ficção. Quanto aos juízos prévios sobre o carácter pessoal, a vida mostra que pouco valem. Assassinos cruéis são frequentemente descritos, com imensa surpresa, por vizinhos e conhecidos, como "boas pessoas".
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