sexta-feira, março 20

Preservativos e tópicos afins

Numa entrevista longa dada à partida para África, o Papa voltou a falar do preservativo, e mal. A frase está perdida no meio de uma conversa com tronco e membros, mas lá ficou para gáudio da ocidentalidade anti-católica e da raiva dos personagens do Fórum TSF. Em vez de cascar no Papa, os media deviam agradecer-lhe: a pequena frase garantiu-lhes dois dias de gozo e justificação para os seus papéis.


Para lá disso, o Papa esteve mal ao não resistir à tentação daquelas palavras. Mas pior do que isso é que para os africanos a frase é irrelevante. Se o preservativo não é usado na escala adequada, não é por culpa do Papa (de cujas palavras, de resto, ninguém já faz caso, como bem sublinham os seus detractores), mas das políticas e da cultura local. Em África, poucos devem ter ficado a pensar no caso, se é que deram por ele.

A euforia dos media com o tema chegou ao ponto de terem esquecido outra oportunidade para malhar no Papa & Companhia: é que, precisamente também há dois dias, soube-se que a administração Obama subscreve agora a moção da ONU para despenalização da homossexualidade e que o Vaticano continua a demarcar-se. As organizações LGBT rejubilam. Não sei se terão reparado que o porta-voz Robert Wood se apressou a dizer que "subscrever a moção não nos obriga a compromissos legais".

Também não houve ecos da caça às bruxas em curso na Gâmbia, noticiada ontem no The Independent. A operação já levou à tortura e à morte de umas mil pessoas e foi lançada pelo próprio Presidente Yahya Jammeh, que está convencido que certos feiticeiros do país são responsáveis pela morte de uma sua tia. Jammeh acumula as funções de presidente com as de feiticeiro, pois tem umas ervinhas que curam os doentes com HIV.

Sem comentários: