Que proposta de avaliação irão os sindicatos de professores dar à luz? Já que afirmam pretender que a avaliação seja focada na vertente científico-pedagógica estou cheio de curiosidade por ouvi-los confirmar que estão de acordo com um exame de acesso à profissão. Pretendem ainda que a avaliação seja aplicada apenas aos professores em vias de progredir na carreira: coisa arriscada esta de evitar a avaliação dos que regridem na carreira.
Seja como for, eu no lugar do Mário teria cuidado com a linguagem: se a descrição da novíssima proposta precisar de recorrer aos estranhos vocábulos de estimação da 5 de Outubro - ficha, grelha, portefólio - as tensões continuarão de pé. Mas o que acho estranho nesta história é o à-vontade com que se acha que os sindicatos estão no seu lugar certo ao virem elaborar propostas de avaliação. Os críticos dizem mesmo "ah e tal mas não apresentaram ainda nenhuma proposta..." Ora, fazer propostas de avaliação compete exclusivamente ao governo e ao ministério da educação: é para isso que os elegemos e são pagos. Se a proposta actual é má, é a ministra que tem que apresentar outra. É a ministra que tem que perceber que há pessoal lunático dentro do seu ministério e fazer-se aconselhar por pessoas competentes. Se não, por este andar mais vale fechar o ministério e deixar aos sindicatos ou a comissões ad-hoc o trabalho de governar. Qualquer dia temos aí os sindicatos a delinear os programas escolares. Aliás, não sei se isso não começou já, pelo menos nos pontos de vista sobre educação para a cidadania, causas da pobreza ou da guerra que são transmitidos em certas disciplinas.
domingo, novembro 23
quarta-feira, novembro 19
Assim vai o Mundo
Entretidos a discutir as ironias sérias de Manuela, estamos a perder o que realmente interessa: Franco morreu!
É verdade. Está assim removido o espectro que pairava sobre a democracia no país ao lado. (Bem, as notícias são omissas sobre se Santiago Carrillo ou a Pasionária estão vivos.) A descoberta deve-se à aturada investigação do juiz Baltazar Garzón. O homem ficou tão aliviado ao dar como provado o falecimento do ditador que até pediu uma bolsa de estúpido para prosseguir investigações em Paris. O ingrato Conselho Geral do Poder Judicial recusou-lhe a autorização de viagem. Até quando teremos de esperar para ver Napoleão em tribunal?
É verdade. Está assim removido o espectro que pairava sobre a democracia no país ao lado. (Bem, as notícias são omissas sobre se Santiago Carrillo ou a Pasionária estão vivos.) A descoberta deve-se à aturada investigação do juiz Baltazar Garzón. O homem ficou tão aliviado ao dar como provado o falecimento do ditador que até pediu uma bolsa de estúpido para prosseguir investigações em Paris. O ingrato Conselho Geral do Poder Judicial recusou-lhe a autorização de viagem. Até quando teremos de esperar para ver Napoleão em tribunal?
segunda-feira, novembro 17
Ovos em alta
O Ministério da Educação "corrige" o estatuto do aluno. Realmente, não fazia sentido que, sendo toda a avaliação de alunos a fingir, as provas de recuperação tivessem algum efeito e consequência. Com o despacho que hoje entra em vigor, o mal entendido fica sanado. As provas de recuperação devem a partir de agora ser simplesmente aquilo que lhes compete: mais uns papéis, grelhas e fichas para ocupação dos tempos dos professores entre os momentos normais de avaliação.
segunda-feira, novembro 10
A desilusão dos ateus
Enquanto a Paddy Power abriu apostas de que a curto prazo se vão encontrar provas científicas da existência de Deus, há gente amargurada com a crendice e a fé dos seus semelhantes (salvo seja). Para lutar contra a ignorância - ou, quem sabe mesmo, a estupidez geral - Richard Dawkins é um empenhadíssimo apoiante da original campanha publicitária que vai ser lançada no Reino Unido: faixas em autocarros com a frase Provavelmente não há Deus, por isso deixe de se preocupar e viva a sua vida.
Dawkins está convencido de que a campanha ateísta vai fazer as pessoas pensar. Para Dawkins, uma funcionária da British Airways despedida por usar crucifixo ao peito tem a cara mais estúpida que já viu.
Confesso que já não viajo ao Reino Unido há uns anos e por isso tenho dificuldade em compreender a luta de Dawkins. Imagino que actualmente não se deve poder atravessar uma rua sem ser interrompido por uma procissão e incomodado pelo cheiro a incenso. E provavelmente em cada esquina onde havia um pub há agora uma igreja, tendo o heavy metal e o punk dado lugar a cânticos e orações.
Não, se fosse assim já se sabia. Estou muito desiludido com Dawkins. Primeiro, nem lhe passa pela cabeça que muitos ficarão ainda mais preocupados com a possibilidade de Deus não existir. Até Saramago, a quem o problema de Deus também muito importa, é muito mais razoável sobre a matéria: apesar de ter a certeza de que ninguém faz nascer o Sol cada dia e a Lua cada noite, o escritor reconhece a dificuldade que os próprios ateus têm em arrancar Deus de dentro das nossas cabeças.
O escritor é neste ponto mais lúcido do que o cientista. Ele quase toca no ponto que é verdadeiramente relevante e que é mascarado pelas ambiguidades do significado de "existir".
Eu dou um exemplo: os números 1, 2, 3, 0,823, -3,14159 ... existem? Talvez a Paddy Power abra apostas de que alguém vai encontrar no mundo real, finalmente, a base dos logaritmos neperianos, o Pi ou mesmo o número 5. Mas do que não há dúvida é de que os números têm sentido para nós. Conseguimos comunicar ideias e regras que os envolvem, e com isso fazer cálculos para viajar até à lua ou para construir o computador em que teclo. Há, incorporado em nós, um software próprio para isso. Então, existir dentro das nossas cabeças não é já um grau de existência bastante?
Provavelmente temos também um software para comunicar sobre Deus. E o resultado é visível em séculos de história.
Quanto à campanha dos autocarros, e tratando-se do Reino Unido em 2008, julgo que só por distracção não foi previsto traduzir a pequena frase em árabe.
Dawkins está convencido de que a campanha ateísta vai fazer as pessoas pensar. Para Dawkins, uma funcionária da British Airways despedida por usar crucifixo ao peito tem a cara mais estúpida que já viu.
Confesso que já não viajo ao Reino Unido há uns anos e por isso tenho dificuldade em compreender a luta de Dawkins. Imagino que actualmente não se deve poder atravessar uma rua sem ser interrompido por uma procissão e incomodado pelo cheiro a incenso. E provavelmente em cada esquina onde havia um pub há agora uma igreja, tendo o heavy metal e o punk dado lugar a cânticos e orações.
Não, se fosse assim já se sabia. Estou muito desiludido com Dawkins. Primeiro, nem lhe passa pela cabeça que muitos ficarão ainda mais preocupados com a possibilidade de Deus não existir. Até Saramago, a quem o problema de Deus também muito importa, é muito mais razoável sobre a matéria: apesar de ter a certeza de que ninguém faz nascer o Sol cada dia e a Lua cada noite, o escritor reconhece a dificuldade que os próprios ateus têm em arrancar Deus de dentro das nossas cabeças.
O escritor é neste ponto mais lúcido do que o cientista. Ele quase toca no ponto que é verdadeiramente relevante e que é mascarado pelas ambiguidades do significado de "existir".
Eu dou um exemplo: os números 1, 2, 3, 0,823, -3,14159 ... existem? Talvez a Paddy Power abra apostas de que alguém vai encontrar no mundo real, finalmente, a base dos logaritmos neperianos, o Pi ou mesmo o número 5. Mas do que não há dúvida é de que os números têm sentido para nós. Conseguimos comunicar ideias e regras que os envolvem, e com isso fazer cálculos para viajar até à lua ou para construir o computador em que teclo. Há, incorporado em nós, um software próprio para isso. Então, existir dentro das nossas cabeças não é já um grau de existência bastante?
Provavelmente temos também um software para comunicar sobre Deus. E o resultado é visível em séculos de história.
Quanto à campanha dos autocarros, e tratando-se do Reino Unido em 2008, julgo que só por distracção não foi previsto traduzir a pequena frase em árabe.
sábado, novembro 8
Rossio, 8 de novembro
Nas televisões e nos jornais, para além das reacções da ministra, que seguem o manual de procedimentos para enfrentamentos deste tipo, sucedem-se as dos oportunistas de todos os partidos (PS incluído) a lamentarem o estado do ensino e o infeliz modelo de avaliação. A inefável Ana, os beatos Bernardino e Francisco, os revolucionários Jerónimo e Manuel, mais uma figura pardacenta do PSD cujo nome não recordo... todos de repente têm pena dos professores. Sereias cantantes à caça de futuros votos, parece que ninguém tem nada a ver com o estado de coisas a que se chegou.
Afirma Francisco, por exemplo, que o que é preciso é melhores métodos pedagógicos (...) [e] melhorar a qualidade de cada escola fixando objectivos. Genial! Já tínhamos alguma vez ouvido isto?
A escola das FGRR (fichas-grelhas-relatórios-reuniões) não nasceu com Maria de Lurdes: todos os que agora carpem incentivaram, no governo ou através do seu apoio ideológico, a escola das FGRR. Chamando-lhe inclusiva e outros nomes, o que sempre tiveram em vista foi fingir que os alunos eram avaliados ao mesmo tempo que se caminhava para o sucesso obrigatório. A actual ministra apenas aperfeiçoou o método das FGRR para fingir que avalia os professores ao mesmo tempo que lhes torna o sucesso (para não dizer a vida) quase impossível.
Não podem, não
Grande consternação assola as hostes de apoiantes gueis de Barak Obama. Em consequência da grande mobilização para as urnas, a Califórnia, o Arizona e a Flórida aprovaram resoluções que vão impossibilitar o casamento de pessoas do mesmo sexo.
O choque é tanto maior quanto parece saber-se que foram minorias, uma das quais muito acarinhada, que contribuiram decisivamente para para o resultado: negros, mormons e católicos.
Sintoma de que se trata de algo completamente inesperado é que até Madonna, essa influente pensadora de reconhecidos méritos, se mostrou colhida de surpresa: "é uma vergonha que os EEUU possam pôr um negro na Casa Branca ao mesmo tempo que não permitem o casamento guei". (A redacção da notícia é muito cuidadosa: ao citar Madonna em discurso directo escreve afro-americano e não negro.)
Madonna é o símbolo vivo da distracção universal. Já devia ter reparado que Obama não é bem um negro, mas sim um jovem bonito e bronzeado - coisa tão notória que até os homens disso se apercebem. Daqui a 4 ou 8 anos ainda podemos ouvi-la dizer escandalizada: "agora que os EEUU puseram na Casa Branca um homem completamente negro e abertamente devoto do islão, acabam por ilegalizar as relações homossexuais! é uma vergonha."
O choque é tanto maior quanto parece saber-se que foram minorias, uma das quais muito acarinhada, que contribuiram decisivamente para para o resultado: negros, mormons e católicos.
Sintoma de que se trata de algo completamente inesperado é que até Madonna, essa influente pensadora de reconhecidos méritos, se mostrou colhida de surpresa: "é uma vergonha que os EEUU possam pôr um negro na Casa Branca ao mesmo tempo que não permitem o casamento guei". (A redacção da notícia é muito cuidadosa: ao citar Madonna em discurso directo escreve afro-americano e não negro.)
Madonna é o símbolo vivo da distracção universal. Já devia ter reparado que Obama não é bem um negro, mas sim um jovem bonito e bronzeado - coisa tão notória que até os homens disso se apercebem. Daqui a 4 ou 8 anos ainda podemos ouvi-la dizer escandalizada: "agora que os EEUU puseram na Casa Branca um homem completamente negro e abertamente devoto do islão, acabam por ilegalizar as relações homossexuais! é uma vergonha."
quinta-feira, novembro 6
Epílogo numa história de diploma falso
O parlamento iraniano confirmou há dois dias a destituição do ministro do Interior Ali Kordan, que mentiu sobre as suas habilitações apresentando um falso diploma da Universidade de Oxford. O caso afecta politicamente o presidente Ahmadinejad, que tentou suster a acção do parlamento, e inspirou anedotas que circulam por e-mail e SMS no Irão. Kordanizar é o neologismo que significa obter um doutoramento sem licenciatura, ou receber um grau falso de uma universidade de prestígio.
segunda-feira, novembro 3
Aisha no EL PAÍS
Faz hoje uma semana que na Somália foi executada por apedrejamento até à morte, após sentença de um tribunal islâmico, uma rapariga de nome Aisha Ibrahim Dhuhulow. As primeiras notícias referiram que Aisha tinha 24 anos e fora condenada por adultério. No editorial do PÚBLICO de ontem referia-se esta notícia do El PAÍS de 1 de Novembro, onde se pode ler que o horror não ficava por aqui. Não só Aisha fora violada, acabando por ser enganada e acusada pelos violadores, como não tinha 24 mas sim 13 anos. A Amnesty International fez eco do mesmo facto. Os pormenores estão no EL PAÍS e causam calafrios.
Mas há algo mais de sinistramente interessante na notícia. Após a descrição dos factos, o jornal quer enquadrá-los para os seus leitores e acrescenta:
No es, curiosamente, en el Corán donde se incluye a la lapidación como castigo. No hay ni una sola palabra sobre ello. Sí se recoge en la Biblia, en el Deuteronomio, heredada de la tradición judía y reservada, entre otra, a las adúlteras. "Quien esté libre de pecado que tire la primera piedra", son palabras atribuidas a Jesús de Nazaret, ante el caso de una mujer adúltera a la que se quiere lapidar. Y es que los que tiraban la primera piedra eran los acusadores. Si se descubría -tarde- que el condenado era inocente, podían entonces culpar a los acusadores no sólo de perjurio, sino también de asesinato.
Una práctica, la lapidación, rechazada por muchos musulmanes que recuerdan que se instituyó pocas décadas después de la muerte del profeta Mahoma, por el segundo califa del Islam, cuando la propagación del Hadith (tradición oral que narraba las gestas del profeta) fue sancionada por el Estado.
A cobertura dos factos pelo EL PAÍS parece exemplar, mas este comentário é sintomático do enviesamento de um certo jornalismo "progressista". Acabamos por descobrir que é na Bíblia, e não no Corão, que se ordena a lapidação das mulheres adúlteras! Como se as leis do Hadith não fossem parte integrante das práticas islâmicas, a ponto de estarem integradas no código penal de vários países, sendo aplicadas ainda hoje! Não só na selvajaria da Somália actual, mas também na Arábia Saudita e no Irão, onde os amigos de Zapatero (e do nosso Sampaio) na Alianza de Civilizaciones ainda não se deixaram seduzir pela permissividade ocidental. Assim, parece que ainda há muitos muçulmanos que não se chocam com a prática da lapidação.
O jornal devia ter incluido exemplos de lapidação de adúlteras em países de tradição cristã.
A desonestidade intelectual destes "progres" vai ao ponto de distorcerem o sentido das "palabras atribuidas a Jesús de Nazaret", como se elas fossem o incentivo ao castigo e não à sua suspensão e ao perdão. O redactor do EL PAÍS conhecerá muito do Corão, que tanto se empenha em defender e desculpar, mas não leu João 8, 1-11.
Mas há algo mais de sinistramente interessante na notícia. Após a descrição dos factos, o jornal quer enquadrá-los para os seus leitores e acrescenta:
No es, curiosamente, en el Corán donde se incluye a la lapidación como castigo. No hay ni una sola palabra sobre ello. Sí se recoge en la Biblia, en el Deuteronomio, heredada de la tradición judía y reservada, entre otra, a las adúlteras. "Quien esté libre de pecado que tire la primera piedra", son palabras atribuidas a Jesús de Nazaret, ante el caso de una mujer adúltera a la que se quiere lapidar. Y es que los que tiraban la primera piedra eran los acusadores. Si se descubría -tarde- que el condenado era inocente, podían entonces culpar a los acusadores no sólo de perjurio, sino también de asesinato.
Una práctica, la lapidación, rechazada por muchos musulmanes que recuerdan que se instituyó pocas décadas después de la muerte del profeta Mahoma, por el segundo califa del Islam, cuando la propagación del Hadith (tradición oral que narraba las gestas del profeta) fue sancionada por el Estado.
A cobertura dos factos pelo EL PAÍS parece exemplar, mas este comentário é sintomático do enviesamento de um certo jornalismo "progressista". Acabamos por descobrir que é na Bíblia, e não no Corão, que se ordena a lapidação das mulheres adúlteras! Como se as leis do Hadith não fossem parte integrante das práticas islâmicas, a ponto de estarem integradas no código penal de vários países, sendo aplicadas ainda hoje! Não só na selvajaria da Somália actual, mas também na Arábia Saudita e no Irão, onde os amigos de Zapatero (e do nosso Sampaio) na Alianza de Civilizaciones ainda não se deixaram seduzir pela permissividade ocidental. Assim, parece que ainda há muitos muçulmanos que não se chocam com a prática da lapidação.
O jornal devia ter incluido exemplos de lapidação de adúlteras em países de tradição cristã.
A desonestidade intelectual destes "progres" vai ao ponto de distorcerem o sentido das "palabras atribuidas a Jesús de Nazaret", como se elas fossem o incentivo ao castigo e não à sua suspensão e ao perdão. O redactor do EL PAÍS conhecerá muito do Corão, que tanto se empenha em defender e desculpar, mas não leu João 8, 1-11.
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