terça-feira, agosto 23

O outro lado do problema

Por muito grave que tenha sido a morte trágica de Jean Menezes aos disparos da polícia britânica, por muito que se imponha apurar a verdade dos factos até ao fim, não se correrá o risco, com os fortes ataques de que a polícia vem sendo alvo, de enfraquecer a luta contra o terrorismo? Afinal, no dia 7 de Julho, 56 cidadãos foram mortos por assassinos saídos da sombra, disfarçados de pessoas como nós.

Convém não esquecer.

11 comentários:

António Araújo disse...

>Convém não esquecer.

Caro Lino,

também convém não esquecer a Gestapo, A KGB e a Pide. A Scotland Yard tem uma reputação diferente, que deve manter.

Ninguém crucificou a policia quando se ouviu a historia original. As pessoas aceitaram a necessidade dos disparos. Mesmo quando se soube do erro. O homem fugira, saltara as barreiras, levava um casaco suspeito, resistira, etc, etc, o policia teve que reagir rapido, temia que ele detonasse uma bomba. Na altura eu disse a uma amiga mais chocada - "É trágico, é trágico para a vitima, é trágico para o policia, mas ninguem tem a culpa."

Só que se a historia actual for verdadeira, o policia não estava debaixo de tensão nenhuma, não estava a tomar uma decisão dificil para salvar a vida dos passageiros nem dele proprio. Decidiu executar alguem, decidiu fazer-se de juiz. Em que é que isso contribuiria para a luta contra o terrorismo? Não seria melhor capturar o homem com vida e interrogá-lo?

Em que é que as mentiras contribuiriam para a luta contra o terrorismo? Em que é que um regime policial terceiro-mundista contribui para isso? Não ha necessidade de atacar a policia. Mas ha a necessidade de descobrir o que de facto se passou e punir os responsaveis se de facto se deu um crime, e punir os que o tentaram ocultar. Porque quem está a contribuir negativamente para a "luta contra o terrorismo" é quem transforma a policia numa coisa em que os cidadãos não confiam.

56 cidadãos foram mortos pelo inimigo. Isso são baixas em tempo de guerra. Um cidadão foi executado pelos nossos. Se por medo deixar-mos isso impune, isso é a quebra do nosso sistema, é uma alteração fundamental do estado das coisas, é uma vitória enorme para os nossos inimigos.

Devemos lutar pelas nossas leis como lutamos pelas nossas muralhas.

raiva disse...
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raiva disse...

A morte de Menezes foi acidental.

Talvez pudesse ter sido evitada. Os terroristas são difíceis de capturar porque se fazem explodir, levando mais umas dezenas de pessoas com eles. A polícia errou, e vai errar mais. É assim a guerra. Que erre o menos possível e que não se perca a noção exacta de quem é o inimigo. Mais aqui: http://avidodiva.blogspot.com/2005/
08/sobre-morte-de-jean-menezes.html

António Araújo disse...

Caro raiva,

segui o link que providenciou. Pensei que tivesse alguma novidade que ilibasse os policias. Afinal era só a sua opinião de que "não faz mal", são só medidas de excepção. Eu não discordo de que sejam necessárias medidas de excepção. Nomeadamente não discordaria da politica de "shoot on sight" quando necessária. Mas não hà medida de excepção que justifique abater a tiro um suspeito nas circunstancias que agora se estão a revelar.

Diz que foi um "erro"? Erro seria se a historia original fosse verdadeira. Neste caso, e se a nova historia corresponder aos factos, não foi uma questão de erro. O homem foi deliberadamente abatido sem necessidade alguma. Os agentes não tinham motivos para temer que ele fizesse explodir fosse o que fosse. Se fôr assim, isto não é um erro nem uma medida de excepção. É um crime.

Admiti-lo não prejudica em nada a luta contra o terrorismo. So prejudica quem a usa como desculpa para instituir um regime policial.

lino disse...

A investigação está a fazer-se. O embaixador do Brasil em Londres afirmou que a polícia não está a dificultar o inquérito.

http://www.abc.es/abc/pg050824/prensa/noticias/Internacional/Europa/200508/24/NAC-INT-050.asp

É importante que se apure a verdade. Mas é igualmente importante não provocar a desmoralização dos que nos defendem com acusações antes de tempo. Os factos podem ser mais complexos do que as primeiras impressões que deles temos.

raiva disse...

Para mim não é fácil acreditar que a polícia inglesa gosta de matar inocentes. Mas esperemos para ver.

António Araújo disse...

Caro Lino,

esta não foi a "primeira impressão", foi a segunda. Quando tivemos a primeira também se comentou, de acordo com os dados que na altura tinhamos. Agora comentamos de acordo com os dados que agora temos. Quando tivermos a terceira impressão comentaremos de acordo com os novos dados. O que há de errado nisto?

Concordo que é preciso descobrir o que realmente se passou. tudo o resto é irrelevante.

Quanto à policia não estar a dificultar o inquerito, isso parece ser verdade *agora*, mas não era quando se declaravam como verdadeiras versões dos factos que agora se afirmam falsas - toda aquela historia da suposta fuga tresloucada do brasileiro - nem quando o próprio IPCC declarou que a policia resistiu
à sua investigação independente.
Um resumo da historia toda está como não podia deixar de ser na wikipedia....

António Araújo disse...

Caro raiva, eu não acredito de todo que a policia goste de matar inocentes. De onde tirou isso? Acha que eu sou algum militante histerico do BE? O que parece possivel, no entanto, é que *estes* policias se excederam e se permitiram abater sem necessidade real alguem que eles erradamente julgavam tratar-se de um terrorista e não de um "inocente". Se assim tiver sido, e mesmo que o erro não tivesse ocorrido e ele fôsse de facto um terrorista, isso teria sido um crime injustificavel, e que alias so prejudicaria a investigação. Até porque os mortos não falam.

Anónimo disse...

Massacre in Fallujah: Over 600 Dead, 1,000 Injured, 60,000 Refugees

The U.S. siege of Fallujah continues and reports are emerging of a massacre of Iraqi civilians at the hands of U.S. troops. We go to Iraq to get a report from Free Speech Radio News' Aaron Glantz who interviews Iraqis fleeing Fallujah as well as a producer with Al-Jazeera television who says he and fellow journalists were targeted by U.S. snipers in the town.
Local hospitals reported the majority of the dead were women, children and the elderly. The U.S. maintains 95 percent of those killed were members of the resistance. This according to the Guardian of London.

More than 60,000 women and children fled the city during a brief ceasefire on Friday but the US blocked any men of military age from leaving. Dozens of bodies have been buried in the city's soccer stadium after US forces blocked roads heading toward the cemetery.

Anónimo disse...

Carissimos,

A morte de Menezes é uma vergonha. Não pode haver mortes acidentais (assumindo a 1a versão dos factos).

- É pá! Desculpa. Enganei-me!

É isto que se diz quando se mata alguém por acidente?

A 2a versão também não é melhor.

Anónimo disse...

A 2a versão também não é melhor.
Mas mesmo mau é querer legitimar este far-west chamando-lhe a "cultura ocidental"...