domingo, agosto 28

Imobilidades

Nos últimos dias voltou a estar em causa o valor da coerência, a propósito da lamentável carta aberta (no PÚBLICO) de Maria João Seixas a Helena Matos. Ainda há pouco tempo, tendo o falecimento de Cunhal em pano de fundo, se tinha falado desta escorregadia qualidade e ela não saiu muito bem tratada da discussão.
Não vejo nada de extraordinário no percurso de Helena Matos. Por um lado, todos nós, que já tivemos 20 anos, sabemos que por vezes nessa idade se adoptam resoluções e atitudes por mero impulso ou por razões de afectividade, mais consciente ou menos consciente. Por outro, a informação de que se dispunha nos agitados anos de 74 e 75 não era, apesar de tudo, a que temos hoje e um punhado de importantes lições da história ainda estavam por nos esmagar com as suas evidências. A multiplicidade de projectos políticos que explodiram à luz do dia no final da “longa noite fascista” também ajudava à confusão.
Com a experiência e a reflexão, as pessoas mudam, e ainda bem. Ainda bem, em particular, no caso de Helena Matos, certamente uma das mais interessantes e lúcidas autoras de crónicas na nossa imprensa. Ela está a prestar um serviço bem mais importante do que o que prestaria se, por imobilismo intelectual, se limitasse a engrossar a coluna dos discursos previsíveis, como MJS gostaria.

De resto, as mudanças ao longo da vida são comuns e naturais, e não apenas no campo das preferências políticas. Não mudar parece mais estranho do que mudar.

Por exemplo: por volta dos 10-12 anos, lê-se as aventuras dos “cinco”, na casa dos 20 ouve-se e goza-se com a música pop ou rock do tempo, mas com certeza que MJS não achará normal que se fique agarrado a esses gostos toda a vida. Eu sei que há muitos cinquentões que vão aos concertos dos Rolling Stones e que Harry Potter e o Senhor dos Anéis são as delícias literárias quase exclusivas de alguns adultos. Não será o caso de toda a gente, mas há quem fique com os seus gostos congelados e reduzidos aos padrões da adolescência tardia. A falta de amadurecimento e reflexão pode explicar alguma dificuldade em compreender e analisar alguns aspectos da nossa realidade e marcar negativamente as escolhas individuais de que depende o futuro colectivo.

5 comentários:

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