O novo ranking de Shanghai já está aí e os jornais já disseram o que mais salta à vista a respeito das nossas escolas: a geração mais bem preparada de sempre estuda em universidades que não aparecem nos primeiros 200 lugares da fila.
Alguns resultados parciais são mais animadores: no ranking da Matemática, por exemplo, a Universidade de Lisboa surge na posição 76-100, num apesar de tudo discreto 2º lugar (ex-equo com Granada) na Península Ibérica (onde, à frente, estão a Autónoma de Madrid e Santiago de Compostela).
Pode discutir-se a elaboração do ranking e arbitrariedade de alguns parãmetros utilizados, mas ele alguma coisa há-de significar, de modo que não há inconveniente em reflectir sobre as razões deste baixo perfil, mesmo que isso não sirva para nada. De resto, o facto não tem importãncia nenhuma nem é caso para alguém andar mal disposto, como acontece, por exemplo, quando a selecção perde o apuramento para uns quartos de final.
Sendo o problema muito complexo e difícil, convém tratá-lo em termos simples. Podemos sempre adiantar, como consolação, que os problemas da universidade não são uma pecha exclusivamente portuguesa e que há quem esteja pior. Mas aqui vai um alinhamento de pontos em que haveria que intervir quando houvesse vontade de provocar mudança:
- O sistema universitário está sobre-dimensionado no seu todo. Isto aplica-se às universidades públicas e não só à explosão oportunística de privadas a partir dos anos 80. Em particular, resulta daqui que o sistema é caro e que uma parte apreciável dos cursos que vende não prestam e não interessam a quase ninguém.
- As universidades não têm autonomia, por muito que o formalismo legal o apregoe. Uma peça importante do espartilho é o Estatuto da Carreira Docente Universitária, que não permite liberdade de contratação e nivela todos pela mesma bitola. Na situação actual em que os cortes de orçamento estão na ordem do dia, o resultado é mortal: a renovação e a atracção de talento tornou-se quase impossível.
- Se há sistema que acolha as más ideias com a inocência e a pressa dos ingénuos, é o sistema universitário. Estou a pensar no embuste conhecido como reforma de Bolonha, com os seus planos de estudo insensatos, mas podem dar-se outros exemplos. O cancro burocrático que tem vindo a alastrar dentro das universidades necessita também atenção e tratamento urgente. Os responsáveis (reitores, por exemplo) costumam dizer que as suas escolas não podem funcionar bem sem mais dinheiro. Nalgum ponto terão razão, mas do que as escolas mais precisam para funcionar melhor é de tempo e de bom senso. É necessário desarticular os procedimentos que retiram aos professores o tempo e a concentração necessários para fazerem boa investigação e até para darem bons cursos, e manter as horas de docência em limites decentes.
- A articulação entre universidades e agência de financiamento da investigação científica tem constituído um despique em que as indefinições e as tensões constituem entraves que prejudicam frequentemente a optimização de resultados.
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