sábado, julho 6

Arrepio

Com a crise de governo em banho-maria com chama alta, actores políticos mencionam volta e meia a necessidade e a inevitabilidade de eleições. Não estou a utilizar a palavra actores no sentido "culto" de intervenientes com capacidade de agir. Quero dizer actores à antiga. Eles não nos representam, eles representam uma farsa totalmente previsível, onde os personagens são frouxos e as falas maçadoras.

Estas pessoas, que pelo menos bem se conhecem a elas próprias, nunca se deram ao trabalho de melhorar o enquadramento institucional dos actos eleitorais. Sabem que eleições antecipadas são uma tentação, como sabem que elas envolvem custos e prazos inaceitáveis, mas agem como se estivessem completamente distraídos. O que já é habitual, de resto. Por exemplo, um não reparou que não devia ter aumentado a função pública em 2009. Outros não percebem o enredo em que se movem.

Para lá dos defeitos formais do sistema, a perspectiva de eleições neste momento particular é arrepiante por outros motivos. É que será necessário haver campanha eleitoral, nome inadequado para a reposição de uma peça gasta, com as tais personagens pífias e as suas deixas rombas, que nunca deixámos de ouvir ao longo das semanas e dos meses. Pelo que temos visto e ouvido, ninguém terá nada de novo para dizer. A campanha será, nestas condições, uma encenação caríssima, obrigatória, e que teremos que pagar mesmo detestando o espectáculo.

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