Quer estudar Circuitos e Electrónica, Saúde e Ambiente, Introdução à Mecânica, Estatística, Filosofia Política? Agora tem à disposição cursos das melhores universidades (MIT, Harvard...) inteiramente grátis. Chamam-se MOOCs (massive open online courses).
Este prodígio do nosso tempo não é do agrado de todos. Os professores do departamento de Filosofia da Universidade de San José, pressionados para utilizar um MOOC de M. Sandel, professor de Harvard, não ficaram nada entusiasmados com a ideia. Reagiram publicamente com uma carta a Sandel, também ela aberta, como os novos cursos. As razões dos professores são mais do que previsíveis: não se põe em causa a competência de Sandel mas, por um lado, há em San José corpo docente igualmente competente e, por outro, os estudantes tiram melhor partido do contacto com professores vivos na sala de aula. Cursos enlatados serão um passo no caminho do pensamento monolítico e uniformizado, que é o contrário do que numa universidade se pretende. A generalizar-se a adopção dos enlatados, acabará por criar-se uma divisão das universidades em duas categorias: uma, para os privilegiados que podem pagar aulas presenciais e beneficiar da constante discussão e actualização científica, e outra menos valorizada, para os que só podem aceder a uma tele-escola de conteúdos petrificados.
Os signatários sabem perfeitamente quais são as intenções e o que está em risco, e convidam a que os bois sejam chamados pelos nomes. Invocam-se benefícios pedagógicos quando se faz contratos de utilização de MOOCs, mas não se consulta o departamento nem as coordenações de curso? Está-se, sim, a reestruturar a universidade, pressionada para admitir cada vez mais estudantes e privilegiar a formação em cursos de maior empregabilidade. A opção parece clara: precinda-se dos professores, essa mão de obra tão cara, e comece-se, para já, pela área de Humanidades.
Os argumentos têm sentido e são razoáveis, mas é impossível não ler também, na carta aberta, a preocupação com a perda de lugares bem remunerados. Todos os bois merecem nomes. O mundo é um lugar onde sucedem coisas bastante desagradáveis, como fazer face aos custos elevados de certos bens.
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