segunda-feira, maio 20

Wharol e latas no Colombo


O Colombo tem uma mostra de arte. São umas coisas de Andy Wharol, penduradas no interior de uma curiosa estrutura construida a partir do empilhamento de latas cilíndricas reluzentes. É caso para dizer, sem publicidade nem sarcasmos, que o continente é mais surpreendente do que o conteúdo.

Wharol é um autor sobrevalorizado mas merece-o, tal como o público que o entronizou o merece (e eu não estou de fora). Para sossego da cabeça, gosta-se de olhar para uns quadros ou outros coisos sem ambições de complexidade e espessura, que permitem soltar um "ah! que giro" mesmo que olhá-los mais de cinco minutos se torne uma seca. Além disso, ele teve a Fábrica, a Nico e uns filmes também giros e provocadores. Na sua pintura, a banalidade ganhou o direito ao pódio e a máscara de uma profundidade naif. O talento de Wharol foi mais o de saber mover-se no ambiente certo no tempo certo, parasitando o star system e as vedetas pop vestidas de underground e reencenadas numa decadência glamourosa, produzindo uma arte de olhar fixo no próprio umbigo mas harmoniosamente entrosada nos gostos da élite popular na transição dos anos 60-70, e criando um nicho de requinte soft nesses gostos.

São giras, as latas empilhadas no Colombo.

Sem comentários: