domingo, setembro 30

O silêncio dos ausentes

Na saudação de Mariano Rajoy aos que não se tinham manifestado em Neptuno encontrou Pedro Almodóvar inspiração para uma resposta vigorosa e dissertar sobre a teoria das múltiplas narrativas e as manipulações a que as imagens se prestam.

Também as palavras também se vergam às convicções do narrador. Acusando Rajoy de se apropriar do seu silêncio, Almodóvar apodera-se do silêncio dos outros ausentes; certamente será apoiado por muitos, mas também não será pequena a pateada. O potencial da narração caleidoscópica tem sido bem explorado na literatura e no cinema, e o seu fascínio só pode vir, de facto, da omnipresença da ambiguidade no mundo real. Se o narrador omnisciente pode ser insatisfatório por boas razões, não pode Almodóvar esquecer que o seu ponto de vista é apenas mais um.  Se "Cualquier realidad puede significar algo o lo contrario, según los intereses de quien la narre", também qualquer um pode interrogar-se sobre os interesses que movem Almodóvar (que, repare-se, descobre por via deste episódio os malefícios da televisão pública) na criação da sua realidadezinha em palavras. Todos podemos permitir-nos a arrogância de acreditar que os calados estão connosco.

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