quarta-feira, junho 23
N11
Não são efeitos especiais, é uma espectacular imagem construída a partir de fotos do Hubble à região N11 da Grande Nuvem de Magalhães, a galáxia já aqui ao lado, onde fervilham estrelas jovens. A agradecer a: NASA, ESA e Jesús Maíz Apellániz (Instituto de Astrofísica de Andalucía). Ver também aqui um video com belíssimo zoom da Via Láctea ao N11.
sábado, junho 19
Literaturas
Cette guerre n'est pas limitée au territoire malheureux de notre pays. Cette guerre n'est pas tranchée par la bataille de France. Cette guerre est une guerre mondiale. Toutes les fautes, tous les retards, toutes les souffrances, n'empêchent pas qu'il y a, dans l'univers, tous les moyens nécessaires pour écraser un jour nos ennemis. Foudroyés aujourd'hui par la force mécanique, nous pourrons vaincre dans l'avenir par une force mécanique supérieure. Le destin du monde est là.
Era um tempo em que o discurso político tinha qualidade literária. E, quem sabe, produzido pelo próprio orador, não por assessores treinados em argumentos para teleponto. Nas Memórias, escreveu de Gaulle, sobre a sua aclamação em 1944:
Je vais donc, ému et tranquille, au milieu de l'exultation indicible de la foule, sous la tempête des voix qui font retentir mon nom, tâchant, à mesure, de poser mes regards sur chaque flot de cette marée afin que la vue de tous ait pu entrer dans mes yeux, élevant et abaissant les bras pour répondre aux acclamations.
Não é Proust mas não desmerece o culto da língua. E sobre Pétain:
Mais, hélas ! les années par-dessous l’enveloppe, avaient rongé son caractère. L’âge le livrait aux manœuvres de gens habiles à se couvrir de sa majestueuse lassitude. La vieillesse est un naufrage. Pour que rien ne nous fût épargné, la vieillesse du maréchal Pétain allait s’identifier avec le naufrage de la France.
De Gaulle acaba por ter, em 2010, uma afinidade com Saramago: por decisão do ministério da educação francês, a sua obra vai ser lida no liceu, nos programas terminais de estudos literários. Os sindicatos e associações de professores já se levantam em protesto, atribuindo à medida intenções de propaganda ideológica, invocando que a qualidade literária do texto não está à altura dos estudos em questão. Alguns vultos das letras contrariam esta visão: é obra de um escritor, sim. Corre uma petição para que se acabe com a confusão entre história e literatura. Muitas personalidades da inteligência francesa vêem ao palco dar as suas opiniões a favor ou contra: há depoimentos para todos os gostos nas páginas do Libération, do Figaro, do Le Parisien.
Os franceses que resolvam a questão. Saudavelmente, não me recordo de alguém entre nós ter posto em causa o estudo do Memorial do Convento nas escolas secundárias. O que para mim é um mistério. Não por qualquer razão ideológica, que estaria condenada ao fracasso perante a cultura, dita progressista, dominante, mas por razões literárias: causa-me um certo estupor que se dê a ler uma obra sofisticada, que recria a organização frásica da língua com um propósito encantatório, hipnotisante, perfeitamente sucedido, à massa de alunos que saem das escolas confundindo à com há e pensando que tomas-te é o passado de um verbo. A idade avançada não tem grandes encantos, mas proporcionou-me a saída da escola a tempo de ler o Memorial só por prazer, sem ter que me preocupar em classificar o narrador como homodiegético ou heterodiegético ou reflectir sobre se o verdadeiro protagonista do romance é o povo trabalhador.
sábado, junho 12
A ineficácia da tortura
Rui Pedro Soares disse ainda na sua intervenção que, no processo, não conheceu qualquer elemento que contrarie a ideia de que o primeiro-ministro falou verdade ao Parlamento quando disse que desconhecia as intenções da PT.
“As semelhanças entre este relatório e os julgamentos da inquisição não são pura coincidência”, rematou o antigo administrador da Portugal Telecom.
Já circulam comentários a insinuar que Rui Pedro Soares não percebe nada de História. Eu, ao contrário, penso que ele sabe-a toda. Estas revelações vêm apenas sublinhar o que já se sabia: que não merecem qualquer credibilidade as declarações obtidas sob tortura. As dele - fragmentárias, tortuosas, testemunhas vivas da presença da polé e do ferro em brasa - são apenas um exemplo.
domingo, junho 6
6 de Junho, 1944
Thousands of Allied troops have begun landing on the beaches of Normandy in northern France at the start of a major offensive against the Germans.
The Prime Minister Winston Churchill has told MPs that Operation Neptune - the codename for the Normandy landings - is proceeding "in a thoroughly satisfactory manner".
He said the landing of airborne troops was "on a scale far larger than anything there has been so far in the world" and had taken place with extremely little loss.
The assault began shortly after midnight under the command of General Bernard Montgomery.
Timing of the Normandy landings was crucial. They were originally scheduled to take place in May - then postponed until June and put off again at the last minute for 24 hours by bad weather.
Upwards of 4,000 ships and several thousand smaller craft crossed the Channel to the northern coast of France.
Enemy reports say the landings took place between the port of Le Havre and the naval base at Cherbourg.
King George VI broadcast a message last night warning of the "supreme test" the Allies faced and he called on the nation to pray for the liberation of Europe.
BBC, 6 de Junho de 1944
O pensamento activista
¿Qué intereses defienden nuestros políticos? ¿Cuántos 11-M u 11-S necesitamos?
Tapial sublinhava então a legitimidade eleitoral do Hamas. Tapial e os que seguem a sua linha de pensamento deveriam explicar porque é que ninguém organiza protestos contra a destruição de casas em Gaza quando é o Hamas que avança com os bulldozers. Certamente atribuem a actual baixa aceitação do Hamas entre a população à ausência de discernimento daqueles selvagens a quem se chama palestinianos e que dão um jeitão como bandeira política.
sábado, junho 5
Duas Sarahs
Parece que alguns dos passageiros do Marmara procuravam o martírio. Colborne não teve oportunidade de se cruzar com nenhum. Pode até ser. Com tanto video que por aí circula, sabe-se lá quais são os encenados, para não falar dos censurados, os que nos escondem. Se ainda aparecer o da recepção inicial aos soldados israelitas a bordo do Marmara, com flores e buffet, não me admiro.
Os danos estão aí. Mas o delicado sistema de alianças e amizades impõe prudência na análise dos factos. No editorial de ontem do NY Times as advertências à Turquia e a Israel esforçam-se por aparecer em doses equilibradas.
quinta-feira, junho 3
Venez comme vous êtes
Os privados investem na sua imagem em face do que sabem que o público alvo aprecia. No fundo, copiam os governos e os partidos. Um banco traveste-se de Ronaldo. Os CTT (que não se sabe o que fazem agora além de venderem uns livros e uns telemóveis tristes) metem-nos volantes nas caixas de correio a informar que nos fornecem produtos amigos do ambiente. Manuais escolares dão um espaço generoso ao alarmismo ecológico, causa simpática a toda a gente boa e simples. O Mc Donald's acaba de lançar em França um anúncio "gay-friendly". Muito previsível: é o filho que esconde do pai a sua orientação, e não o contrário. Qualquer Almodóvar recusaria um argumento agora tão batido.
Que se trata de uma promoção de imagem é claro, já que toda a gente come, independentemente do que aprecia na cama.
Indício de verdadeira tolerância, hoje, será uma pessoa mostrar-se aberta a ir para a mesa com outra qualquer - mesmo alguém que habitualmente frequente os Mc Donald's.
Actualização: há sobre este mesmo anúncio um comentário interessante no Audacious Epigone.