domingo, maio 9

HI(V)PÓTESES

Na página de entrada do Medical Hypotheses ainda está o nome de Bruce Charlton como editor. Talvez por pouco tempo. A Elsevier, que edita o jornal, pretende que seja adoptado o sistema de revisão pelos pares -- o que até aqui não acontecia, fazendo deste periódico um lugar de acolhimento à extravagância. O objectivo seria o de dar voz a ideias "radicais" ou "revolucionárias". O conteúdo parece ter qualidade muito desigual, e a verdade é que sob a direcção de Charlton o jornal mais que duplicou o seu factor de impacto (actualmente acima de 1.4).

Mas Charlton terá ido longe demais ao aceitar para publicação, em dois dias apenas, um artigo de Peter Duesberg, professor em Berkeley, o mais célebre negador da relação HIV-SIDA. (Por pressão da comunidade científica, a Elsevier acabou por retirar o artigo do jornal.) O artigo refuta que o HIV tenha sido a causa de morte de milhares de sul-africanos durante a presidência de Mbecki e contesta o efeito dos anti-retrovirais na diminuição da mortalidade dos infectados. Acresce, para opacidade da situação, que o co-autor David Rasnick terá sido responsável por experiências ilegais com a finalidade aparente de promover vitaminas como tratamento alternativo aos ARV.

Em consequência, Duesberg é actualmente objecto de um inquérito da universidade à sua conduta científica. O caso vem descrito no AidsTruth e é interessante observar os negacionistas à defesa e ao ataque, como se vê na longa discussão que se segue ao artigo de Jon Cartwright no Times Higher Education, que publica também o depoimento de Bruce Charlton: a importância de divulgar ideias radicais.

1 comentário:

Jorge Salema disse...

Acho ótimo que as pessoas possam publicar o que quiserem nos jornais, desde que não cometam crimes. Ora negar coisas óbvias não é crime, é estupidez. Chamar àquilo "jornal cientifico" ainda é uma estupidez maior! Existem pessoas que dizem que as torres gémeas caíram devido, não ao choque de aviões, (vistos no mundo inteiro), mas antes a uma implosão maldosa da CIA. A estupidez é livre. As pessoas educadas é que tem de fazer as suas escolhas.