quarta-feira, setembro 2

Do Cacém ao Iraque

A política nacional é pouco interessante, mas vamos ser chamados a votar. Não só por essa razão, um frente a frente como o de há minutos é um espectáculo com algum fascínio. Que nos atrai quando ficamos colados ao sofá a escutar os dois debatentes? Para muito poucos, um motivo para escolher entre os dois. Para a maioria, observar o desempenho dos actores e as habilidades de cada um para levar a melhor. Uso a palavra "actores" no sentido mais tradicional e não na sua ampla significação mais em voga. É de espectáculo que se trata e o talento em jogo é a capacidade de passar rasteiras ou de lhes sobreviver.

O formato é muito limitador, circunscrito a temas paroquiais. Dirão que se não fosse assim talvez não se conseguisse ouvir nada. A razão profunda pode ser mais prosaica e mesquinha: é que em tema aberto seria intoleravelmente difícil decorar papéis. Havia dois nervosos: Constança e Sócrates. O saldo final é ambíguo mas do lado de Sócrates houve certos sinais de fraqueza (ao reclamar contra a subversão das regras do debate dá a ideia de que prefere "safar-se bem" a ver um determinado ponto esclarecido; e em desespero a invocar o Iraque). Isto não quer dizer que do outro tenha emergido um sinal de grande força. O espectador experimentado adivinha o trabalho dos encenadores por trás - mais conspícuo no caso de Sócrates, porque Portas é um actor de nascença e Sócrates um actor de escola - em vez de se concentrar no argumento: um clássico, aliás. Com pinceladas de farsa: nas falas de abertura, assistimos ao suposto representante das políticas de extrema direita (lol) regatear com o representante das políticas ditas socialistas quem é que tinha distribuído mais dinheiro aos jovens e aos velhotes.

E quem ficará a ouvir Jerónimo e Louçã? O nosso cinismo tem limites. Queremos drama e conflito, mesmo que pressintamos a ficção subjacente. Vamos mas é aproveitar para nos reabastecermos de pipocas até à continuação do filme.

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