quarta-feira, outubro 4

Libertar é reprimir

Lésbica, mulher e palestiniana: é a tripla identidade que a si própria se atribui a senhora Rauda Moros. Um artigo do Guardian de há dois dias fala dela, da luta dos homossexuais palestinianos contra a perseguição e dos pequenos progressos que vão conseguindo. Os ingénuos leitores devem estar já a pensar que o grande problema enfrentado pela causa gay na Palestina é a rigidez do código moral islâmico, não? Ora, que bom que era se fosse só isso. Preparem-se: as maiores dificuldades vêm de Israel, pois claro! O facto de haver tolerância para com os homossexuais em Israel torna-os por sua vez mal vistos na Palestina.
Associar Israel com direitos dos homossexuais torna a vida difícil aos árabes gay. Israel e homossexuais constituem o duplo inimigo ideal para o islamismo conservador. Não por acaso, no jornal egípcio Sabah al-Kheir apareceu o título: "Golda Meir é lésbica."

O artigo continua dizendo que a história dos direitos dos homossexuais em Israel também tem muito que se lhe diga. No fundo, trata-se de uma estratégia israelita para se tornarem bem vistos ao mesmo tempo que a sociedade israelita se debate com outro tipo de desigualdades, não se está mesmo a ver?

Assim, os activistas palestinianos têm de convencer os compatriotas de que os gays israelitas são cidadãos decentes que apenas por acaso sentem atracção pelo mesmo sexo, o que em contexto de guerra e ocupação é um bico de obra.

Para um gay, fugir para Israel é traição, e ficar no território palestiniano é ficar sob suspeita, ser visto como colaborador.

Ler para crer.

Israel tem, pois, mais um desafio pela frente: por uma boa causa, deve abolir a descriminalização e outras modernices e começar de imediato a perseguir os homossexuais.