sábado, agosto 5

A ideologia de sucesso

Apesar de todo o avanço tecnológico e das contribuições do mundo ocidental para o bem estar de faixas de população cada vez mais alargadas, as ideologias que diabolizam e rejeitam os valores em que assentou o progresso triunfaram, ao ponto de tornarem as grandes massas de cidadãos incapazes de olhar o mundo sem a muleta daquelas lentes distorcidas e perversas. Foi, de resto, o nosso mundo, e particularmente a Europa - o mesmo mundo a que devemos boa parte do sucesso tecnológico e social - que incubou o pesadelo do comunismo e que alimentou durante séculos o ódio aos judeus.

A derrota do comunismo não aconteceu a nível das ideias. Os órfãos da doutrina rapidamente se reciclaram, integrando-a como lapa numa abundância de disciplinas a que o mundo universitário conferiu respeitabilidade. As circunstâncias políticas, num mundo imbuído de generosidade pouco reflectida por se julgar livre de ameaças, contribuiram para a difusão da velha ideologia travestida, servida agora sob a forma de catecismo de todos os bons comportamentos e todas as tolerâncias (não por acaso, nunca aplicáveis na prática aos judeus) que até são servidas em versão infantil nos currículos escolares. Liberto dos aspectos mais enfadonhos e assustadores exigidos pela militância nos partidos marxistas, este comunismo suave e requentado teve um sucesso muito maior, a nível da aceitação pelas massas, do que o original. Ele acabou por se transformar na matriz de pensamento de grande parte da respeitada intelectualidade ocidental e, por arrastamento, das largas massas que por natureza utilizam o pronto a pensar como utilizam o pronto a vestir ou a comer. Como subproduto de relevo, o ódio à América - o ex-imperialismo por excelência - nunca deixou o terreno.

Outro instrumento de sucesso veio potenciar a difusão da ideologia fácil e sedutora: a televisão. Sendo o meio de transmissão de informação mais omnipresente, favorecendo mais o consumo da emoção do que da análise, e habitada em grande parte por comentadores e jornalistas que foram estudantes aplicados do catecismo das novas crenças, executa no dia a dia uma doutrinação declarada ou subreptícia.

Entretanto, à soleira da nossa porta, um inimigo espreita. O tempo está-lhe de feição. Encarnado em Ahmadinejad ou Nasrallah, basta-lhe ser apenas ligeiramente mais inteligente do que a maioria de nós para perceber que pode pisar todos os riscos porque nós não estamos do nosso lado, mas sim do dele. Ele disfruta de uma vantagem absolutamente nova: a inconsciência de um mundo tão anestesiado que não identifica o seu agressor, mesmo quando este confessa abertamente os fins. Na guerra em curso, ele tira partido dessa disposição suicidária. Sabe que, do lado de cá, não se percebe bem o que está em jogo, ou então finge-se não perceber. E a guerra passa muito pela televisão: ao mostrar a exibição de baixas causadas por Israel, a tv fá-lo com a mesma ingenuidade e candura com que passa "manifestações" encenadas por governos de países onde não há liberdade de ter uma parabólica, quanto mais de manifestação. A tv do lado de cá está ao serviço do lado de lá.

A atitude dos meios de informação, com as tvs à frente, também terá a ver com a facilidade, o comodismo e o medo, numa Europa em que a população islâmica atingiu já níveis muito importantes. Apesar das tomadas de posição anti-ocidentais de muita gente bem pensante, até os idiotas úteis não ignoram que criticar Israel ou o Papa é de borla, mas ofender dirigentes muçulmanos extremistas ou fazer humor com o chamado profeta é estar pedir churrasco em casa.

Post scriptum: Se for conveniente até se retocam as imagens, a fim de tornar mais glamorosa a destruição operada pelas forças de Israel. É o caso desta foto publicada pela Reuters, cuja desmontagem se pode ver aqui.

Também nos últimos dias se acumulam as notícias de que a guerra está a provocar união de sunitas e xiitas. Mas ainda há pouco um influente religioso egípcio lançou uma fatwa sobre o Hezebollah. E o que continuamos a ver no dia a dia do Iraque mostra que se trata possivelmente mais de desejos do que de notícias.

3 comentários:

Nino disse...

A lucidez habitual do meu caro amigo, que merecia publicar os seus textos num jornal como o Público. Ando há meses para lhe dizer isto.

Anónimo disse...

teste

António Araújo disse...

Ah...humm...caro pvnam_2...

eu...hã...como dizer...eu, pessoalmente...gosto das mulatinhas brasileiras...

...mas que sei eu...

ass: OMWO, ariano-mediterranico-romano-arabe-visigotico mercenário lambe-botas dos judeus e do capitalismo (e no entanto "anti-americano basico e idiota util ao serviço dos islamistas").