Em Portugal cultivamos um uso exorbitante de títulos académicos. Digo exorbitante porque é com grande frequência que, em situações que não têm a ver com a vertente profissional associada, precisamos do dr. ou eng. para referir determinada personagem pública do mundo da política. Até os sarcásticos, pessimistas e impiedosos críticos do nosso pequeno mundo caem no vício: Vasco Pulido Valente escreve frequentemente "dr. Cavaco". O vírus da doutorite-engenheirite é transversal na nossa sociedade, mas os jornalistas constituem claramente um grupo de risco com elevado potencial de infecção. (E até os ouvintes do forum da TSF chamam por vezes "dr..." ao jornalista de serviço!)
Um momento de reflexão basta para nos darmos conta de que nunca ouvimos as expressões dr Blair ou dr Chirac ou dr Aznar ou eng Zapatero ou...
Provincianos e pequeninos, julgamos que tratar alguém, fora de uma situação profissional em que isso se justifique, por "senhor" ou "senhora", é sinal do desprezo e sobranceria com que nos dirigiríamos ao canalizador ou ao marido da nossa empregada doméstica (pessoas que, de resto, podem ser competentíssimas nas respectivas profissões).
Quando todos acharmos natural dizer e escrever "sr. Cavaco", "sr. Sócrates" ou "sra Ana Gomes" teremos feito progressos no domínio das nossas próprias referências.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
VPV fala em dr. Cavaco para diminuir Cavaco Silva. Acaba por ser mais uma manifestação de provincianismo.
Enviar um comentário