Portugal é diferente da Irlanda, disse ontem Teixeira dos Santos.
Espanha não é Irlanda, nem Grécia, nem Portugal, escreve hoje o EL PAÍS.
É tudo verdade. O problema é que Portugal tem precisamente o problema de ser Portugal, e, mutatis mutandis, o mesmo se dirá de Espanha.
quinta-feira, novembro 18
domingo, novembro 14
quinta-feira, novembro 11
Insolência
Não há pachorra. Há bocado, na SIC notícias, Vítor Ramalho foi entrevistado a propósito da independência de Angola. Falou dos gloriosos tempos da Casa do Império, que criou condições para a juventude de então tomar consciência do problema colonial. Até aí tudo bem. Depois lamentou que a juventude de agora esteja a leste desse caldo do ambiente da época. Mas porque havia a juventude de agora estar preocupada com isso? Não basta já aos vintes e trintas terem de suportar uma geração de gerontes que se apossou dos empregos para a vida, deixando-lhes em testamento um futuro com trabalho e reforma incerta, mais um saquinho de dívidas para pagar enquanto forem vivos? Teriam ainda de comungar as glórias destes cotas que se estão nas tintas para o fardo que deixam em herança?
domingo, novembro 7
A mim parece-me
O PÚBLICO de ontem revelava que nos meios jurídicos se debate com ardor a constitucionalidade da redução dos salários na função pública. Há até um conhecido causídico a quem parece que não é coisa constitucional e assim o escreveu, a pedido de um grupo de professores, num texto a que se dá o nome de parecer. Parece aos envolvidos na discussão que conflituam o direito ao salário, os princípios da igualdade e da confiança, e o da proibição do retrocesso, com o princípio da urgência e o da necessidade de atenuar o défice. O princípio da igualdade parece espezinhado porque os cortes atingem apenas trabalhadores do estado.
A adesão aos formalismos da lei é também um modo de negar a realidade. A quem estas coisas parecem, qualquer ideia de que não há pagamentos com os cofres vazios deve parecer simplesmente inadmissível, por não ser mencionada nos únicos textos que conhecem de trás para a frente.
O mesmo lapso selectivo afecta as classes altas ou médio-altas da nossa função pública, desagradadas com os cortes que as vão atingir. Nem só o governo e o primeiro ministro têm vivido em estado de recusa da realidade, mentindo a si mesmos e aos outros. Uns minutos de reflexão permitiriam antecipar, pelo menos desde há dois anos, que os salários teriam que descer. Não falo sequer dos salários escandalosos de altos cargos, que excedem os dos salários congéneres em paises mais ricos e com situação económica mais sólida. Basta pensar num exemplo concreto, menos dado a controvérsias, para nos apercebermos da ilusão em que temos vivido: os professores universitários são pagos em Portugal, desde os governos Guterres, ao mesmo nível do que sucede em paises como a França ou a Alemanha. Isto tem sido visto como natural, ao mesmo tempo que se aceita que a generalidade das profissões no sector privado se aguente com vencimentos em proporção com o estado das economias. O voluntarismo estatal quis fazer figura sem fazer as contas. Entretanto, é na Alemanha e na França que se fabricam os popós que nós conduzimos e as máquinas de lavar que adornam as casas que possuimos em excesso.
A adesão aos formalismos da lei é também um modo de negar a realidade. A quem estas coisas parecem, qualquer ideia de que não há pagamentos com os cofres vazios deve parecer simplesmente inadmissível, por não ser mencionada nos únicos textos que conhecem de trás para a frente.
O mesmo lapso selectivo afecta as classes altas ou médio-altas da nossa função pública, desagradadas com os cortes que as vão atingir. Nem só o governo e o primeiro ministro têm vivido em estado de recusa da realidade, mentindo a si mesmos e aos outros. Uns minutos de reflexão permitiriam antecipar, pelo menos desde há dois anos, que os salários teriam que descer. Não falo sequer dos salários escandalosos de altos cargos, que excedem os dos salários congéneres em paises mais ricos e com situação económica mais sólida. Basta pensar num exemplo concreto, menos dado a controvérsias, para nos apercebermos da ilusão em que temos vivido: os professores universitários são pagos em Portugal, desde os governos Guterres, ao mesmo nível do que sucede em paises como a França ou a Alemanha. Isto tem sido visto como natural, ao mesmo tempo que se aceita que a generalidade das profissões no sector privado se aguente com vencimentos em proporção com o estado das economias. O voluntarismo estatal quis fazer figura sem fazer as contas. Entretanto, é na Alemanha e na França que se fabricam os popós que nós conduzimos e as máquinas de lavar que adornam as casas que possuimos em excesso.
Choques
Os resultados das eleições primárias nos Estados Unidos incluem por acréscimo um ou outro pequeno choque cultural. Desta vez, dada a atenção que o tema merece dos jornais, falou-se da talvez inesperadamente alta proporção de pessoas homossexuais que votaram republicano. O Washington Post dedica uma coluna ao assunto, com base em resultados de um inquérito à boca das urnas. Depois, Ann Althouse comentou a coluna. Que o caso provoca alguma surpresa, incredulidade, ou até indignação, não há dúvida: basta ler os comentários dos leitores, anexos aos dois artigos. A revelação de que pessoas homossexuais possam ser movidas pelas mesmas preocupações que as outras pode significar a derrocada de uma certa arquitectura do mundo, fabricada em livros e artigos que brotaram da imaginação. A mesma surpresa com que Sarah Palin terá recebido a notícia de que afinal os nossos antepassados não deram grandes passeios ao lado de manadas de dinossauros, nos frondosos bosques de há 6000 anos.
Cleópatra na rádio (II)
Passa agora a segunda parte, na Antena 2 da RDP. Com autoria de Bernardo Sena.
Já não se fazem barcos nem música assim.
sábado, novembro 6
Nomes galaicos
Com os noticiários das rádios espanholas de hoje, veio-me à lembrança o botafumeiro, o esquisito pêndulo forçado da catedral de Santiago de Compostela. Agora é uma curiosidade que dá espectáculo nas missas. No passado terá tido a nobre utilidade de tornar a vida suportável dentro na enorme nave que acolhia monges e peregrinos num mundo sem duche nem bidés. Claro que podiam lavar as partes no Lavacollas, mas dali à catedral muito havia que suar ainda pelos toscos caminhos. Lavacollas é o nome do rio e da povoação que dão nome ao aeroporto de Santiago. Só pronunciável, ainda hoje (sobretudo diante do papa), por graça da evolução morfológica, que disfarçou as ressonâncias originais do rude vocábulo.
segunda-feira, novembro 1
A Presidenta
Este post não tem nada de político. É tão só uma manifestação de surpresa pela irrupção de um vocábulo novo na língua portuguesa, em consequência da eleição de Wilma. Em espanhol já se usava la presidenta, por causa da Cristina, mas é evidentemente um feminino forçado. Nunca ninguém disse la estudianta. Em francês a estrutura da língua distingue président e présidente, como em étudiant. Mas em português, para sermos honestos, devemos então passar também a dizer presidento, mesmo que não haja senhoras a concorrer à próxima eleição (embora haja sempre a possibilidade de vermos ressurgir aquela conhecida militanta de esquerda). E mais: nem só as mulheres têm direito a ter os seus amantos. Os homens quererão amantas, para não dar azo a dichotes. E, como vem aí o natal, não nos esqueçamos de pensar numas prendinhas para os nossos entos e as nossas entas queridas.
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