quarta-feira, setembro 30

O debate sobre a reinserção na Arábia Saudita

No passado dia 23 de Setembro um grupo de jovens provocou distúrbios e destruição num centro comercial de Alkhobar, no leste da Arábia Saudita. O caso provocou escândalo e um debate aceso: a juventude da região é tida como habitualmente bem comportada e por isso há interrogações no ar sobre as razões do acto e sobre o que se poderá fazer para impedir a sua repetição.

Diz um director de jornal que há com certeza culpa dos pais, mas também da falta de ocupação em actividades desportivas; os jovens aprendem tudo na internet e os psicólogos comportamentais terão de prestar atenção ao assunto. Os comentadores são unânimes em dizer que é preciso retirar estes jovens dos centros comerciais e dar-lhes uma orientação. As opiniões dividem-se sobre o castigo a aplicar, de modo a que fiquem a saber que os seus actos têm consequências. Há uma forte corrente de opinião orientada para as penas não detentivas, já que a prisão pode ainda agravar o carácter de quem tem maus instintos. Mas lá não valem as teorias da Profª Fernanda Palma: são poucos os que optariam por multas ou pelo trabalho para a comunidade, e entretanto a pena aplicada - 30 chicotadas em público para cada um dos doze que já confessaram o crime - parece ser encarada com aprovação, apesar das vozes dissonantes.

O caso vem contado no Arab News. E a notícia também veio ontem no Daily Mail online, com uma cauda de comentários onde muitos lamentam a abolição das penas medievais no Reino Unido. Assim vai o Mundo, como diziam dantes os noticiários no cinema.

domingo, setembro 27

Angústia do eleitor

Logo, às 20 horas, haverá uma ordenação dos candidatos. O mais provável é que praticamente todos fiquemos a perder. O mecanismo amável da democracia vai garantir, como disse um outro, que não seremos governados por ninguém melhor do que nós.

sábado, setembro 26

Dias de reflexão (post lascivo)



(em popmodal)

They say that bears have love affairs
And even camels
We're men and mammals--let's misbehave!!!

domingo, setembro 6

A frase inconveniente de Judite

Quem é responsável pelo banimento do Jornal das sextas na TVI? Tão risível é esperar uma resposta clara, com assinaturas por baixo, como o argumento da "falta de qualidade". A questão mais abrangente de saber quem moveu influências que levaram à decisão é mais simples. A resposta, dada em inúmeros comentários que traduzem convicções razoáveis assentes em factos recentes, já foi escrita e abundantemente publicada.

Por isso a primeira questão não é importante. Nem a de saber se houve cálculo do risco eleitoral para o PS. Por isso a pequena frase assassina, que ontem à noite Judite de Sousa proferiu sob a forma de pergunta a Jerónimo, tanto irritou Sócrates. O primeiro ministro de imediato se encrespou e censurou a pergunta, como quem diz: oiça lá, está a insinuar que o papa sou eu? E não é despiciendo que as palavras tenham vindo de uma funcionária bem comportada. A frase saiu-lhe tão espontânea que denuncia a existência de uma convicção difusa de que, neste episódio, paira no ar uma influência que não necessita de se explicitar em cada momento concreto - os agentes adequados saberão tomar as decisões, sem consultar em cada minuto a instância a que pretendem agradar.

É este o aspecto mais grave do caso. Se de "asfixia" se pode falar, é precisamente na situação em que quem manda já não precisa de dar as ordens em permanência, porque os recados já foram muitos e claros. Motivos para a PRISA e para a Media Capital não faltarão. Mas não nos dêem música, por favor, com a qualidade ou a "homogeneização". Faz-me logo lembrar, salvas as distâncias entre os casos, as "razões humanitárias" da libertação do líbio condenado a prisão perpétua no UK.

quarta-feira, setembro 2

Do Cacém ao Iraque

A política nacional é pouco interessante, mas vamos ser chamados a votar. Não só por essa razão, um frente a frente como o de há minutos é um espectáculo com algum fascínio. Que nos atrai quando ficamos colados ao sofá a escutar os dois debatentes? Para muito poucos, um motivo para escolher entre os dois. Para a maioria, observar o desempenho dos actores e as habilidades de cada um para levar a melhor. Uso a palavra "actores" no sentido mais tradicional e não na sua ampla significação mais em voga. É de espectáculo que se trata e o talento em jogo é a capacidade de passar rasteiras ou de lhes sobreviver.

O formato é muito limitador, circunscrito a temas paroquiais. Dirão que se não fosse assim talvez não se conseguisse ouvir nada. A razão profunda pode ser mais prosaica e mesquinha: é que em tema aberto seria intoleravelmente difícil decorar papéis. Havia dois nervosos: Constança e Sócrates. O saldo final é ambíguo mas do lado de Sócrates houve certos sinais de fraqueza (ao reclamar contra a subversão das regras do debate dá a ideia de que prefere "safar-se bem" a ver um determinado ponto esclarecido; e em desespero a invocar o Iraque). Isto não quer dizer que do outro tenha emergido um sinal de grande força. O espectador experimentado adivinha o trabalho dos encenadores por trás - mais conspícuo no caso de Sócrates, porque Portas é um actor de nascença e Sócrates um actor de escola - em vez de se concentrar no argumento: um clássico, aliás. Com pinceladas de farsa: nas falas de abertura, assistimos ao suposto representante das políticas de extrema direita (lol) regatear com o representante das políticas ditas socialistas quem é que tinha distribuído mais dinheiro aos jovens e aos velhotes.

E quem ficará a ouvir Jerónimo e Louçã? O nosso cinismo tem limites. Queremos drama e conflito, mesmo que pressintamos a ficção subjacente. Vamos mas é aproveitar para nos reabastecermos de pipocas até à continuação do filme.