domingo, novembro 1

Asunta Yong Fang


No dia 21 de setembro de 2013, quase certamente entre as 18:22 e as 20:00, na povoação de Teo (Galiza), a menina Asunta Yong Fang foi atada com cordas cor de laranja e morta por asfixia. Do relatório de autópsia consta: "discreta hemorragia nasal; erosão no interior da boca [possível consequência da marca dos dentes pela pressão exercida do exterior com um objecto mole]; hemorragia pulmonar com rotura dos tabiques alveolares; um rasgão na boca do estômago, na união com o esófago", revelando que Asunta chegou a sofrer "náuseas ou vómitos no processo de morte". O cadáver foi descoberto, na noite desse dia, junto a uma estrada florestal, por dois homens que se dirigiam a um bar de alterne e que, por conduzirem embriagados, quiseram evitar uma estrada de maior movimento. Junto ao corpo, cordéis cor de laranja semelhantes aos que a polícia encontraria horas mais tarde na vivenda em Teo, e que Rosário, visivelmente ansiosa, terá tentado esconder.
Asunta foi adoptada em  em 2001 por Alfonso e Rosário, um casal muito bem visto na sociedade de classe média-alta de Santiago de Compostela. Alfonso e Rosário foram acusados do assassinato da filha. No julgamento, que tem estado a decorrer em Santiago, o júri considerou-os culpados no passado dia 30.
Alfonso e Rosario viveram em casas separadas desde o início de 2013, quando Alfonso descobre que Rosário tem um amante. Mas, sem grandes meios de subsistência e dependendo das ajudas da mulher, volta a casa, na rua da República Argentina, em Maio.
No dia 21 de setembro de 2013 a menina almoçou com o pai em Santiago. Ao fim do dia terá sido levada pela mãe à vivenda desta em Teo. A câmara de uma gasolineira filmou as duas no Mercedes às 18:22.
A autópsia revelou também a ingestão por Asunta de grandes quantidades de lorazepam. Está fora de dúvida que desde o início do verão que Alfonso comprara várias embalagens de Orfidal, medicamento que tem por base aquele princípio activo, na farmácia da rua Hórreo. E várias testemunhas comprovaram o estado de sonolência de Asunta em diversas ocasiões nesse período.
O júri pensa que Alfonso e Rosário actuaram em conjunto no planeamento do crime. Na ausência de detecção por câmaras de filmar, a presença de Alfonso na casa de Teo não pôde ser provada. Quanto a Rosário, não há dúvidas: uma vizinha que ela cumprimentou à pressa viu-a sair da vivenda às 20:45. Alfonso sustenta que passou toda a tarde em Santiago, e o posicionamento do seu telemóvel não o desmente. Rosário diz que deixou a menina a fazer os trabalhos de casa e voltou à casa de Santiago. Voltou, curiosamente, com o telemóvel desligado. Nenhum rasto de passos ou pneus foi detectado no sítio onde o cadáver foi descoberto.
Rosário conheceu Alfonso num café de Santiago em 1990. Casaram em 1996. Ambos profissionais medíocres, foram muito apoiados pelos pais endinheirados de Rosário, que os pressionaram no sentido da adopção da menina. A mãe de Rosário, catedrática de História de Arte na Universidade de Santiago, morreu durante uma noite de sono tranquilo em dezembro de 2011. O pai, advogado de sucesso num tempo em que havia poucos, e que gostava tanto da neta que lhe terá destinado em testamento boa parte do património, finou-se do mesmo modo sete meses depois. A respeito destas ocorrências uma prima de Rosário levantou, na ocasião, insinuações pouco edificantes que sairam nos jornais.
Tendo ficado por explicar detalhes importantes para a reconstituição dos passos de Alfonso e Rosário no fim de tarde de 21 de setembro, mas em presença de indícios comprometedores abundantes, de contradições e de falta de explicações convincentes por parte dos arguidos, o júri pronunciou-se mesmo assim por unanimidade pela culpabilidade do casal.
Um problema central e não satisfatoriamente resolvido é o do móbil do crime. Ficou no ar a suspeita de que a menina foi morta por se ter tornado um estorvo para os pais. Conversas telefónicas entre ambos, após o crime, registadas em escutas sem valor em tribunal, mostraram que um e outro nunca mencionam a filha, estando unicamente preocupados com eles próprios. É possível simplesmente que se trate de duas pessoas que não prestam, uma delas dependente da outra por razões económicas, talvez as duas ligadas pela partilha de algo mais que os envergonha e que não podem revelar.
Fontes: El País, La Vanguardia, El Correo Gallego, La Voz de Galicia.
 
 

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