O artigo de Nick Herbert publicado há quatro dias no Guardian tenta interpretar porque é que os Conservadores estão a ganhar votos junto da população homossexual: o argumento clássico da homofobia da "direita" já não colhe porque a "direita" mudou. Já tem mesmo os seus militantes assumidamente gay, como o próprio autor do artigo. Apoia o casamento de pessoas do mesmo sexo e a criminalização dos actos de ódio homofóbico. E vai ocupar-se do bullying sobre gays, da homofobia no desporto e evangelizar os bispos que persistem em recomendar aos gays que mudem e se arrependam. Bispos cristãos, claro: quando esta semana, durante uma conferência na National Portrait Gallery lhe foi posta a questão da homofobia na população de origem islâmica, Herbert esquivou-se com a habitual conversa de quem receia a acusação de islamofobia.
O trajecto dos conservadores na questão dos direitos de homossexuais ilustra não só que o mundo é composto de mudança mas também que todos os nichos de eleitorado dão sempre muito jeito. Mais ainda se a opinião pública está madura para apreciar gestos e atitudes políticas "progressistas". A "esquerda" já percebeu há que tempos que a conversão aos direitos das pessoas homossexuais é politicamente compensadora. Assim, neste momento até o nosso PCP e os trotskistas do BE se põem "muito à fente", fazendo tábua rasa de como os velhos comunistas tratavam do assunto, e o PS está pronto a afrontar resistências beatas ou republicanas. (Os actos homossexuais foram descriminalizados, entre nós, na letra da lei, em 1982: repare-se na data.) Com jeito e a contragosto, até o PSD lá chegará inevitavelmente.
Na Holanda, país que é referência em matéria de liberalismo de costumes, já não são só os gays que andam assustados com os ataques homofóbicos: os partidos mainstream também devem estar, com a significativa fuga de votos para partidos que defendem um travão à imigração. Parece que se tornou difícil, numa terra de muitas liberdades, andar fora do armário. E é aqui que surge a novidade mais surpreendente, mas que se insere perfeitamente na mesma tendência. Foi notícia esta semana que Ahmed Marcouch, muçulmano e autarca de Slotervaart, cidadezinha próxima de Amsterdão com população maioritariamente islâmica, afirma que vai doutrinar os seus concidadãos no sentido de olharem para os homossexuais como gente normal e respeitável. Até Manuela Ferreira Leite, quando reparar bem no que está a acontecer, irá engolir a sua "petite phrase" sobre casamento e procriação e dará o salto.
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