Há uns minutos, num jornal da TV, dizia uma avó, ex-professora primária, que não dava ajuda à neta para preparação do exame de Português que vai ter de fazer esta semana. A razão da senhora é muito simples: não concorda nada com o programa da disciplina e portanto não está disposta a preparar a criança dentro do espírito de uma coisa que reprova.
As razões da avó são muito diferentes das que levariam Swift e Brighouse, dois filósofos ou assim australianos, a louvar mesmo assim a sua atitude de recusa. Para Swift e Brighouse, o ideal seria que a avozinha, pensando em todas as crianças que não têm à disposição no ambiente familiar alguém que as ajude, tivesse decidido ela própria abster-se também, a fim de não aumentar as desigualdades neste mundo injusto. Avozinhas a ensinar, mandar meninos para colégios privados, mas sobretudo ler histórias na caminha antes de eles adormecerem, não fazem senão acentuar o fosso entre as oportunidades de uns e a falta delas para outros. Cada pai que rodeia um filho de carinhos cava mais fundo o abismo em que se encontram as crianças a quem tudo falta. Numa palavra: se os papás vão por esse caminho sem reflectir, os felizes ficarão cada vez mais felizes e os desafortunados cada vez mais tristes. De resto, segundo estes pensadores, com uma escolha tão ampla à disposição, nem se percebe porque é que os pais biológicos têm que assumir necessariamente o papel de "pais" como educadores da criança. O próprio número de pais (dois) pode ser também posto em causa: porquê dois? Mas pronto, estes intelectuais também não querem fazer publicidade à dissolução da família e concedem que 10 seria um pouco exagerado, nem que fosse por razões práticas.
domingo, maio 17
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