Na Femme abandonnée, Balzac narra os amores de Madame de Beauséant com Gaston de Nueil. A pequena novela contém dois temas caros ao autor: dois amantes com diferença de idades que leva ao rompimento, e a contradição entre amor e casamento como instituição social.
A Madame, que nunca é referida pelo seu nome próprio (Claire), vive em solidão na sua residência de Courcelles, depois de o seu amante português ter rompido para se casar. E é uma reprise desta história que vai viver com Gaston, desta vez com o enquadramento homem jovem - mulher mais velha como ameaça em pano de fundo. No início, Gaston tem 22 anos e ela está a atingir os 30. Depois de alguma resistência ao ímpeto conquistador do rapaz, a cedência de Madame dá lugar a um período de intensa felicidade, cerca de nove anos de vida a dois em Genebra. Os problemas surgem quando Gaston passa os 30 e Madame (cujo marido, de que há muito se separou, continua vivo e de perfeita saúde) chega aos 40. Vence a pressão da mãe para casar o rapaz: é tempo de fazer a sua vida de homem.
As cartas têm um papel de relevo na exposição de sentimentos das personagens, que frequentemente comunicam entre si por longas mensagens escritas. Na que envia a Gaston, quando pressente que o fim da relação está iminente, Madame revela conhecer e compreender a separação que aí vem; serve-lhe de consolo que mais nenhuma mulher o terá como ela o conheceu - no fulgor da juventude e sem as inquietações que a "vida de homem" lhe irá trazer no rolar dos dias. A senhora que se segue não irá encontrar o Gaston que ela amou, nem no corpo nem na alma.
Gaston abandona Madame e casa, como previsto, com uma rapariga nova e rica. Certo dia, a saudade de Madame torna-se-lhe insuportável e vai de improviso visitá-la. Madame repele-o, ameaçando que se atira da janela. De regresso a casa, Gaston escreve uma carta a Madame, declarando que se trata de um caso de vida ou de morte para ele. Senta-se à lareira, em frente da esposa, enquanto aguarda que o mensageiro traga a resposta. Quando esta lhe é entregue, Gaston pega na espingarda de caça e mata-se.
O narrador termina explicando que a Madame não deve ter previsto onde poderia levar o desespero de Gaston. Possivelmente pensava que só ela estaria a sofrer. Mas estava no seu direito de recusar a mais humilhante das partilhas, "que uma esposa pode sofrer por razões sociais, mas que deve repugnar a uma amante, já que é na pureza do seu amor que reside a própria justificação".
domingo, janeiro 4
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