domingo, fevereiro 9

A "política científica" nos jornais

Com a diminuição do número de bolsas oferecidas pela FCT, chega ao grande público o debate em que organizações de bolseiros e órgãos universitários por um lado, e pessoas do governo por outro, se enfrentam em posições extremadas. Os jornais fazem a sua investigação: ainda hoje o PÚBLICO dá grande destaque a um artigo cujo título ("Governo legitima mudança na política científica com dados descontextualizados") é uma tomada de posição. No calor do debate, não tem sido muito lembrado que temos um Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, que este conselho tem emitido pareceres e recomendações, e que eles parecem estar muito bem arrumados em alguma gaveta.  Em particular, são interessantes as sugestões sobre o que interessaria modificar nos estatutos da carreira docente universitária e da carreira de investigação. Mas esse debate é possivelmente menos entusiasmante e menos susceptível de alinhar unanimismos do que o da contagem dos euros gastos em bolsas. Entre os temas desagradáveis a discutir estão as vantagens e inconvenientes da tenure, e os espartilhos do actual estatuto de carreira, que congela os horários semanais em limites perversos e não permite diferenciar salários.

 Afinal, sempre é mais fácil olhar para uma folha de Excel do que ir ao fundo de questões incómodas - particularmente para as universidades.

sexta-feira, fevereiro 7

Titulite

A tendência de alguns políticos profissionais para se apresentarem publicamente com currículos académicos meio falsos ou simplesmente suspeitos não é uma originalidade portuguesa. Na verdade, tanto o nosso ex-PM como Relvas podem considerar-se modestos ao ficarem-se por licenciaturas executadas com um cuidadoso "tuning". Há dois dias, o El Mundo denunciava que Pilar Rahola - figura de relevo nos meios políticos catalães - enriquecia as suas biografias oficiais com dois doutoramentos falsos.

Na sequência desta notícia, Santiago González revela, no seu blogue, um punhado de outros casos.

A titulite é possivelmente uma doença ibero-americana. Por cá, no Brasil e na América do Sul, ser senhor ou senhora sabe a pouco, e por isso há necessidade de ser chamado dr. ou engenheiro. Em Portugal o caso é verdadeiramente mórbido. Senhor é o canalizador que nos veio resolver a inundação na casa de banho ou Rajoy, senhora é a nossa empregada doméstica ou Merkel. Os media portugueses colaboram na farsa, incapazes da noção do ridículo.