domingo, outubro 6
...que se sepa más adelante
Jamal Zougam não é um nome lá muito conhecido. É o nome do único condenado no processo dos atentados do 11 de março em Madrid. Jamal foi identificado por duas testemunhas romenas. Recentemente, dados novos levaram a juíza Belén Sánchez a pedir novas investigações: as duas testemunhas estão agora acusadas de falso testemunho. Na passada quinta feira, em tribunal, recusaram-se a falar. Em Espanha só o El Mundo dedicou algum espaço a esta notícia. Possivelmente é coisa que não tem importância nenhuma, apesar de ter influenciado o resultado de uma eleição e o caminho político de Espanha nos anos seguintes. Ou então não é oportuno ainda que se saiba seja o que for. Alguém conta que, tendo perguntado ao Juiz Bermúdez quem no seu entender teria estado na origem do 11 de março, a resposta foi mais ou menos que hay cosas tan graves que es mejor que no se sepan todavia, que se sepan más adelante.
Acesso livre, uma história mal contada
O PÚBLICO contou ontem a revelação bombástica da Science: muitas revistas de acesso livre foram "apanhadas" a aceitar para publicação um artigo científico forjado e carregado de disparates.
A Science deu destaque ao relato de John Bohannon, jornalista que perpetrou o falso artigo e o submeteu a revistas de acesso livre mas não às de comercialização convencional, pagas por assinatura. A Science publica conclusões que valem o que valem, obtidas com uma falha metodológica evidente: se se pretende comparar os dois tipos de revistas, é preciso estender a cilada a todas. O PÚBLICO não se preocupa muito com isso e quem redigiu a notícia nem procurou saber mais. O ponto de vista de Björn Brembs, biólogo da Universidade de Regensburg, daria um título bem diferente do do nosso PÚBLICO: A Science rejeita dados e publica anedota.
Por muito que se desconfie da qualidade das revistas de acesso livre, talvez seja útil perguntar se o problema não estará a montante, na zona obscura da revisão por pares, como é apontado neste artigo de Kausik Datta.
A demonização do acesso livre costuma basear-se na insinuação de que se trata de um processo em que os autores compram a aceitação de artigos. Este risco é real, mas a descrição é tudo menos rigorosa. Normalmente não são os autores, mas as instituições em que eles estão filiados, que realizam o pagamento. Dito de outro modo, as revistas de acesso livre só podem viver de fundos públicos (através das agências de financiamento da ciência), tal como as revistas convencionalmente estabelecidas o fazem, através da venda de assinaturas. Ao que se assiste é à emergência de um novo lobby de editores que procura disputar o financiamento público aos que já estão no mercado. Ao coexistirem, e não havendo fundos a dobrar, haverá guerra, que de resto já parece ter começado.
A situação é na verdade ainda mais complicada, pois muitas revistas convencionais começam a criar zonas de acesso aberto, já para não mencionar que também por vezes pedem subsídios (nem sempre obrigatórios) para publicação dos artigos aceites. E note-se que actualmente as editoras se limitam a administrar o processo de submissão e aceitação, a colocar o nome do jornal no cabeçalho e a armazenar o material publicado. Os autores fazem a composição, e os revisores anónimos, ou as instituições a que pertencem, não costumam receber qualquer pagamento. Como um processo de revisão sério pode representar muitas horas de trabalho, as agências de financiamento e as universidades deveriam bater o pé em face das editoras, sejam as convencionais ou as de acesso livre.
A Science deu destaque ao relato de John Bohannon, jornalista que perpetrou o falso artigo e o submeteu a revistas de acesso livre mas não às de comercialização convencional, pagas por assinatura. A Science publica conclusões que valem o que valem, obtidas com uma falha metodológica evidente: se se pretende comparar os dois tipos de revistas, é preciso estender a cilada a todas. O PÚBLICO não se preocupa muito com isso e quem redigiu a notícia nem procurou saber mais. O ponto de vista de Björn Brembs, biólogo da Universidade de Regensburg, daria um título bem diferente do do nosso PÚBLICO: A Science rejeita dados e publica anedota.
Por muito que se desconfie da qualidade das revistas de acesso livre, talvez seja útil perguntar se o problema não estará a montante, na zona obscura da revisão por pares, como é apontado neste artigo de Kausik Datta.
A demonização do acesso livre costuma basear-se na insinuação de que se trata de um processo em que os autores compram a aceitação de artigos. Este risco é real, mas a descrição é tudo menos rigorosa. Normalmente não são os autores, mas as instituições em que eles estão filiados, que realizam o pagamento. Dito de outro modo, as revistas de acesso livre só podem viver de fundos públicos (através das agências de financiamento da ciência), tal como as revistas convencionalmente estabelecidas o fazem, através da venda de assinaturas. Ao que se assiste é à emergência de um novo lobby de editores que procura disputar o financiamento público aos que já estão no mercado. Ao coexistirem, e não havendo fundos a dobrar, haverá guerra, que de resto já parece ter começado.
A situação é na verdade ainda mais complicada, pois muitas revistas convencionais começam a criar zonas de acesso aberto, já para não mencionar que também por vezes pedem subsídios (nem sempre obrigatórios) para publicação dos artigos aceites. E note-se que actualmente as editoras se limitam a administrar o processo de submissão e aceitação, a colocar o nome do jornal no cabeçalho e a armazenar o material publicado. Os autores fazem a composição, e os revisores anónimos, ou as instituições a que pertencem, não costumam receber qualquer pagamento. Como um processo de revisão sério pode representar muitas horas de trabalho, as agências de financiamento e as universidades deveriam bater o pé em face das editoras, sejam as convencionais ou as de acesso livre.
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