sábado, agosto 16

Novos rankings de universidades

O novo ranking de Shanghai já está aí e os jornais já disseram o que mais salta à vista a respeito das nossas escolas: a geração mais bem preparada de sempre estuda em universidades que não aparecem nos primeiros 200 lugares da fila.

Alguns resultados parciais são mais animadores: no ranking da Matemática, por exemplo, a Universidade de Lisboa surge na posição 76-100, num apesar de tudo discreto 2º lugar (ex-equo com Granada) na Península Ibérica (onde, à frente, estão a Autónoma de Madrid e Santiago de Compostela).

Pode discutir-se a elaboração do ranking e arbitrariedade de alguns parãmetros utilizados, mas ele alguma coisa há-de significar, de modo que não há inconveniente em reflectir sobre as razões deste baixo perfil, mesmo que isso não sirva para nada. De resto, o facto não tem importãncia nenhuma nem é caso para alguém andar mal disposto, como acontece, por exemplo, quando a selecção perde o apuramento para uns quartos de final.

Sendo o problema muito complexo e difícil, convém tratá-lo em termos simples. Podemos sempre adiantar, como consolação, que os problemas da universidade não são uma pecha exclusivamente portuguesa e que há quem esteja pior. Mas aqui vai um alinhamento de pontos em que haveria que intervir quando houvesse vontade de provocar mudança:

- O sistema universitário está sobre-dimensionado no seu todo. Isto aplica-se às universidades públicas e não só à explosão oportunística de privadas a partir dos anos 80. Em particular, resulta daqui que o sistema é caro e que uma parte apreciável dos cursos que vende não prestam e não interessam a quase ninguém.

- As universidades não têm autonomia, por muito que o formalismo legal o apregoe. Uma peça importante do espartilho é o Estatuto da Carreira Docente Universitária, que não permite liberdade de contratação e nivela todos pela mesma bitola. Na situação actual em que os cortes de orçamento estão na ordem do dia, o resultado é mortal: a renovação e a atracção de talento tornou-se quase impossível.

- Se há sistema que acolha as más ideias com a inocência e a pressa dos ingénuos, é o sistema universitário. Estou a pensar no embuste conhecido como reforma de Bolonha, com os seus planos de estudo insensatos, mas podem dar-se outros exemplos. O cancro burocrático que tem vindo a alastrar dentro das universidades necessita também atenção e tratamento urgente. Os responsáveis (reitores, por exemplo) costumam dizer que as suas escolas não podem funcionar bem sem mais dinheiro. Nalgum ponto terão razão, mas do que as escolas mais precisam para funcionar melhor é de tempo e de bom senso. É necessário desarticular os procedimentos que retiram aos professores o tempo e a concentração necessários para fazerem boa investigação e até para darem bons cursos, e manter as horas de docência em limites decentes.

- A articulação entre universidades e agência de financiamento da investigação científica tem constituído um despique em que as indefinições e as tensões constituem entraves que prejudicam frequentemente a optimização de resultados.

terça-feira, agosto 12

A prova e os erros

Há um aspecto que não tem sido suficientemente aprofundado quando se fala da prova dos professores: que quantidade de erros dados pelos examinandos se devem à não observação do chamado acordo ortográfico? Aqui as baterias da crítica deveriam ser apontadas ao Ministério, que pelos vistos impôs uma norma de escrita muito contestada por representantes prestigiados das classes cultas e por variados estratos da população com interesse na defesa da língua. Acho inadmissível que se tenha obrigado os professores a exprimir-se nessa linguagem simplificada, que tanto dano irá causar ao uso do português falado, e que é mais apropriada para a escrita de SMS. Disto não falaram os protestantes sindicais. (Como também estiveram indiferentes à introdução e avanço do edu-burocratês e suas consequências, para as quais acordaram apenas quando a avaliação da professora Maria de Lurdes lhes caiu em cima -- provavelmente nem se aperceberam de que estava tudo ligado). Ora a discussão em torno do "acordo" é uma matéria que faria todo o sentido tornar-se peça de resistência dos profissionais de ensino. Sobretudo quando a contagem dos erros depende da versão que se convenciona utilizar. Vigora uma imposição que não tem por detrás acordo nenhum, que tem interesse mais do que duvidoso, que vai tornar a língua mais feia e danificar a oralidade em Portugal, criando a médio prazo uma bolha de homófonas (receção vai soar como recessão dentro de pouco tempo, não acreditam?). A decência mínima seria permitir também o uso do português anterior ao “acordo”.

quarta-feira, agosto 6

Post de férias

I. Desabafo de um oprimido pelo correio electrónico.

Havia um tempo em que o correio chegava a uma hora fixa do dia e nos dava tempo para elaborar a resposta ou outros procedimentos adequados. Agora o e-mail, que usurpou as funções do outro, chega em cada momento. Ainda estamos a responder a uma mensagem e já outra se interpõe, frequentemente a alterar pressupostos da anterior. Também nos pedem frequentemente uma confirmação de leitura para garantir que não escapamos a replicar.

Também faz falta um livro de etiqueta do correio electrónico. Que diga coisas tão simples como, por exemplo, esta: enviar uma resposta a dizer simplesmente "obrigado" por uma informação recebida é falta de educação e de consciência ecológica, pois implica perdas de tempo inúteis e contribui para entulhar a nossa caixa de enviados e a caixa de entrada do correspondente. O remetente deve poder também accionar um botão que transmita a notificação: por favor não responda a não ser que tenha alguma coisa substancial a acrescentar.

II. Filmes sobrevalorizados

Muito interessante esta série de artigos do blog de Santiago González sobre alguns dos filmes mais sobrevalorizados de sempre. Assino por baixo em relação ao Clube dos Poetas Mortos, cujo pretensiosismo e mensagem rançosa identifiquei à primeira, mas confesso que gostei da Morte em Veneza até à terceira vez que vi o filme. Foi à quarta que me apercebi do kitsch e pechisbeque envolvente, mas mesmo assim continuo a recordá-lo como um objecto interessante. A cena que mais costumo recordar, com um sorriso interior, é aquela em que o empregado bancário chama à parte o Aschenbach para lhe explicar o siroco e os itinerários da peste. Também gostei dos pregões dos vendedores de morangos no Lido.