domingo, outubro 25

Tratamento da congestão nasal sem recurso a medicamentos e outras histórias

Vai por aí uma discussão interessante sobre o processo de "peer review" nas revistas científicas. Parece que a conclusão é que, tal como a democracia, o sistema pode não ser isento de falhas mas ainda é o mais fiável e preferível.

A história é suscitada por um bruahh que envolve um jornalzinho publicado pela Elsevier, Medical Hypotheses, e pelas pressões que levaram o editor a recusar recentemente um artigo de Peter Duesberg, bem conhecido negador da relação HIV-SIDA.

O Medical Hypotheses publicou, entre muitos outros panfletos, um artigo que recomenda a ejaculação, por relações sexuais ou masturbação, como terapia para a congestão nasal nos machos adultos.

Who wants to be a millionaire?



Who wants to be a millionaire? I don't
Have flashy flunkies everywhere? I don't
Who wants the bother of a country estate?
A country estate is something I'd hate

Who wants to wallow in champagne? I don't
Who wants a supersonic plane? I don't
Who wants a private landing feel through? I don't
And I don't 'cause all I want is you

Who wants to be a millionaire? I don't
Who wants uranium to spare? I don't
Who wants to journey on a gigantic yacht?
Do I want a yacht? Oh, how I do not

Who wants a fancy foreign car? I don't
Who wants to tire of caviar?
Who wants a marble swimming pool too? I don't
And I don't 'cause all I want is you

Who wants to be a millionaire? I don't
And go to every swell affair?
Who wants to ride behind a liveried chauffeur?
A liveried chauffeur, do I want? No sir

Who wants an opera box I'll bet? I don't
And sleep through Wagner at the met? I don't
Who wants to corner Cartiers too? I don't
And I don't 'cause all I want is you

Dos 2,2 milhões de ricos que se presume existirem na Alemanha, 44 subscreveram uma petição a Angela Merkel suplicando-lhe que obrigue toda a corja de milionários a pagar mais impostos. 5% ao ano durante dois anos, pedem eles. Dizem que têm dinheiro a mais de que não precisam. Receio que os outros 2 199 956 julguem que precisam mesmo dos 500 000 euros ou mais que possuem -- o limiar de fortuna que para os peticionistas define o que é um rico. E digo isto sem maldade, até porque estou de acordo com o critério adoptado, e de acordo prometo continuar, enquanto a minha fortuna não atingir os 500 000 euros.

Na passada quarta feira estes ricos complexados manifestaram-se no centro de Berlim e, num gesto mediático carregado de significado, atiraram ao ar notas falsas. Depois ficaram surpreendidos de ninguém ter acorrido à convocatória. Talvez para a próxima lhes corra melhor, como alguém observou aqui, se prometerem distribuir notas a sério.

quarta-feira, outubro 21

O plágio indecoroso

No princípio Deus criou o céu e a terra. A terra era vazia e informe; e as trevas cobriam a face do abismo. O Espírito de Deus movia-se à face das águas.
E Deus disse, Haja Luz: e houve luz.
Deus viu a luz e viu que era boa: e separou a luz das trevas.
À luz chamou Dia e às trevas Noite. A noite e a manhã foram o primeiro dia.

Esta linguagem poética sofisticada é obviamente uma cópia de Saramago. A vírgula a introduzir sistematicamente o discurso directo, a narrativa hipnótica, a efabulação abundante não enganam ninguém. Até tem logo no início um episódio copiado do último romance do ibérico nobelizado, e lá para o fim aparecem quatro (quatro!) evangelhos copiados de um livro mais antigo do celebrado escritor, com esse nome. Isto é indesmentível. Tem muito mais histórias de amores e ódios e doutrina e violência, que quase certamente, temos razões para suspeitar agora, foram copiadas de manuscritos que Saramago tem na gaveta. É por isso compreensível a fúria do escritor. Só não se percebe porque é que o insigne plumitivo não move um processo de plágio ao críptico autor. Com tanto jornalista no encalço, iriam descobri-lo sem demora. Escusava de se desculpar com um Deus que ele sabe não existir. Saramago está a gozar connosco. Saramago não é de fiar.

Post scriptum não irónico: este episódio deu oportunidade a umas figuras caricatas para aparecerem em público, umas para exibirem no contra-ataque uma repetição de ridículos passados, outras para "discutirem" com o escritor. Era melhor, ao contrário do que diz o título de um outro livro, que não trocassem mais palavras sobre o assunto. Ninguém está preocupado com ele, como comprovaram quatro tristes contra-manifestantes de uma seita evangélica de que não recordo o nome, que as televisões ontem (sábado) humilhantemente mostraram, em Penafiel, surpreendidos por não ter aparecido mais ninguém...

Quanto a Saramago, é feio dizer tanto mal de um livro bem escrito (mesmo que não se simpatize com o conteúdo e as interpretações que os crentes lhe dão), que já lhe proporcionou histórias para duas novelas e cujo estilo narrativo o influencia, talvez sem se dar conta, há muito.

quinta-feira, outubro 15

Compare

Já pode aqui cada um comparar a sua fortuna pessoal com a de José Luiz Zapatero e restantes membros do governo de Espanha.

terça-feira, outubro 13

Mandato de captura de fino recorte literário: há 702 anos

Uma coisa amarga, uma coisa lamentável, uma coisa horrível de pensar, terrível de saber, uma coisa abominável, um delito atroz de celerados, uma infâmia medonha, uma coisa de facto inumana, pior ainda, alheia a toda a humanidade, soou aos nossos ouvidos pelo informe de pessoas credíveis não sem nos atingir com um profundo estupor fazendo-nos estremecer com um horror violento... Um espírito razoável sofre, sem dúvida, ao ver desafiados os limites da natureza; é atormentado sobretudo porque esta estirpe, esquecida da sua origem e ignorante da sua dignidade, pródiga de si, entregue a sentimentos censurados, não compreendeu porque lhe renderam honras. Ela é comparável aos animais privados de razão, que digo? ultrapassando a brutalidade dos próprios animais, comete os crimes mais abomináveis que a sensualidade dos próprios animais irracionais execra e rejeita. Abandonou o seu Criador, separou-se de Deus, sua salvação, esqueceu o Senhor, sacrificou aos demónios e não a Deus...

Prólogo da carta de Guillaume de Nogaret, enviada a todos os policías, barões e homens do rei França em postos de comando, em 12 de outubrode 1307, preparando a detenção em massa dos templários na madrugada do dia 13.

domingo, outubro 11

Klaus e Lisboa

De acordo com esta notícia de há 3 dias, Vaclav Klaus pretende ver a inclusão no Tratado de Lisboa de um "roda-pé" relacionado com a Carta Europeia dos Direitos Humanos. Entretanto passa a constar que a exigência do presidente checo tem a ver com uma cláusula de impedimento de reclamações alemãs sobre propriedades confiscadas por Praga em 1945.

O tratado já prevê:

53. Declaration by the Czech Republic on
the Charter of Fundamental Rights of the European Union
1. The Czech Republic recalls that the provisions of the Charter of Fundamental Rights of the European Union are addressed to the institutions and bodies of the European Union with due regard for the principle of subsidiarity and division of competences between the European Union and its Member States, as reaffirmed in Declaration (No 18) in relation to the delimitation of competences.
The Czech Republic stresses that its provisions are addressed to the Member States only when they are implementing Union law, and not when they are adopting and implementing national law independently from Union law.
2. The Czech Republic also emphasises that the Charter does not extend the field of application of Union law and does not establish any new power for the Union. It does not diminish the field of application of national law and does not restrain any current powers of the national authorities in this field.
3. The Czech Republic stresses that, in so far as the Charter recognises fundamental rights and principles as they result from constitutional traditions common to the Member States, those rights and principles are to be interpreted in harmony with those traditions.
4. The Czech Republic further stresses that nothing in the Charter may be interpreted as restricting or adversely affecting human rights and fundamental freedoms as recognised, in their respective field of application, by Union law and by international agreements to which the Union or all the Member States are party, including the European Convention for the Protection of Human Rights and Fundamental Freedoms, and by the Member States' Constitutions.


À primeira vista, as notícias recentes sobre a demora de Klaus em relação a Lisboa parecem ser pretextos ou despistes. Mas vai ser interessante assistir ao duelo político entre o presidente e a Presidência da UE e avaliar o significado do que ele vai conseguir, se o seu plano resultar, em troca da assinatura. Ao menos assim sempre vamos ler alguma coisa do tratado.

sábado, outubro 10

O Prémio e os motivos

Jagland said the decision was "unanimous" and came with ease.

He rejected the notion that Obama had been recognized prematurely for his efforts and said the committee wanted to promote the president just it had Mikhail Gorbachev in 1990 in his efforts to open up the Soviet Union.


Abrir? era mais fechar, no sentido de encerrar, dissolver (felizmente) o regime a que presidia. Pouco mais de um ano depois de o prémio ter sido atribuído a Gorbachov, a União Soviética terminava a sua existência.

Julgo que o comité Nobel está a ser demasiado optimista (felizmente, também) em relação a Obama. Ele não lhes vai fazer aquela vontade inconsciente.

Fora de cinismos, foi mais um assédio do que um prémio: carregado de voluntarismo de quem o atribui e de uma agenda com trabalho de casa para o agraciado, o Nobel da Paz 2009 está de acordo com a concepção "new age" de que tudo se resolve com boas intenções e pensamento positivo.

domingo, outubro 4

Dilemas morais

A castração química é justa ou afronta os direitos humanos?

O apoio a um bom cineasta, violador de uma rapariga de 13 anos, por parte de pessoas simpáticas, abona aquele ou prejudica estes?

sábado, outubro 3

Veja quem esteve lá

Foi esta tarde, na Piazza del Popolo em Roma: manifestação com muitos milhares (150 000 ou 300 000, dependendo das fontes). Aquelas pessoas sairam à rua pela liberdade de imprensa, contra a asfixia de Berlusconi. Não sei como se publica uma foto destas: logo à noite já deve haver centenas de prisões.

Agora a sério: Silvio processou meios de comunicação que o têm tratado muito mal. A manifestação arremete também contra a recente lei do "escudo fiscal" que protege a evasão de capitais. Mas não deixa de ser curioso o mote da "liberdade de imprensa", no país onde quase todos os jornais dão sistematicamente desonras de primeira página ao chefe do governo e onde há canais de tv que dão generoso tempo de antena às escorts de serviço ao cavaliere. É verdade que os canais dominados por Silvio fazem campanha acesa contra os não devotos, mas ainda na noite do dia 1 uma prostituta contou detalhes das suas relações com B. num programa de tv de grande audiência.

Berlusconi está a lutar contra a comunicação que não controla e isso merece a mais forte oposição. Mas boa parte dos ataques que lhe têm feito, ao incidir sobre o comportamento íntimo do primeiro ministro, deixam os autores muito mal na foto. Uma fita sem bons, como tantas outras.